quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Amanhã



O mundo não vai acabar amanhã, mas toda essa história me fez pensar um pouco sobre a vida e escolhas que fiz e que faço... por via das dúvidas é melhor botar pra fora.

Se o mundo acabar amanhã, eu quero:

Agradecer minha mãe por tudo o que ela me deu e, principalmente, pelos valores que ela me ensinou a ter;

Agradecer meu irmão por estar sempre inteiro, reto e por perto, por ser uma figura especial capaz dos gestos mais exuberantes, sempre de forma discreta e por muito mais;

Agradecer a Ursula por ter me dado a Sophia, minha razão de viver e por ser a mulher que é: companheira de tantos anos e amiga para o resto da vida;

Agradecer a Sophia por ser a melhor filha que alguém pode ter na vida, por ser encantadora, por ser sensível, por ser carinhosa, por ser humana, por ser meu maior orgulho, meu maior aprendizado, meu amor mais puro e verdadeiro;

Agradecer todos meus amigos por terem estado por perto, quando eu mais precisei e quando eu menos precisei, sem vocês minha vida não teria tido tantos risos, tantas viagens, tantas experiências, tantos dias de praia, tantas tardes na serra, tantos almoços, tantos jantares, tanta cerveja, tantos momentos únicos, tanta mágica, tanto amor, tanto carinho, tanta coisa...

Agradecer a minha família pelas referências, boas e ruins. Com elas aprendi a escolher o que eu gosto e quero ser e o que eu não gosto e não quero pra mim, agradeço também por todas as vezes em que juntos fomos uma família de fato e de verdade, cada um desses momentos me fizeram e me fazem valorizar o conceito de família todos os dias da minha vida;

Agradecer a todas as pessoas com quem trabalhei na vida, com quem aprendi tanto, com quem comemorei vitórias e chorei derrotas, com quem aprendi a caminhar sempre para frente;

Agradecer aos amores que tive na vida, e não foram poucos, por cada sorriso, cada carinho, cada beijo, cada noite, cada colo, cada palavra, cada atenção, cada abraço, cada cinema, cada jantar com ou sem luz de velas, cada fugida, cada “eu te amo”, cada bilhete, cada apelido, cada música, cada dança, cada festa, cada atitude e por cada uma das coisas que serão guardadas só entre nós dois.

Mas eu quero também...

Pedir desculpas pelos erros que cometi, pelas lágrimas derramadas por minha causa, pelo tempo que não vivi, pela atenção que não dei, pelos encontros que não fui, pelo mau humor que compartilhei, pelas cobranças e expectativas que infantilmente depositei, pelas grosserias cometidas, pela falta de tato, pelas gafes e por tudo mais que tenha feito e com quem quer que tenha feito.

E, se o mundo acabar amanhã, vou correndo encontrar meus “mortos” queridos.. abraçar e beijar meu pai, meus avôs e avós, meus amigos e amigas... É até engraçado: morto matando as saudades.

E, se o mundo realmente acabar amanhã, quero dar um até breve a Deus. Dizer a Ele que a vida que Ele me deu de presente foi muito melhor que o melhor presente de Natal que ganhei na infância. Dizer que tentei de tudo para aproveitar esse presente todos os dias, que foi com essa vida que aprendi tudo o que sei e que foi nas nossas conversas que entendi tudo o que Ele botou na minha frente, mesmo que não tenha sido nada fácil algumas vezes. Sei que Ele estava apenas cumprindo seu papel de Pai me mostrando como evoluir, como amadurecer, como ser uma pessoa melhor.

O mundo não vai acabar amanhã, mas mesmo assim é bom botar isso pra fora e seguir a vida.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Um lindo dia de hoje!


Tenho certamente dois lados meus. Um que é o mais romântico deles. Desse lado, a vida parece sempre depender de um grande amor, no meu caso, aliás, do grande amor. Penso, escrevo, transbordo, sinto, vivo a falta, escrevo mais um pouco, rezo, sonho e busco a paz dentro dessa demanda intensa que a falta do grande amor me faz.

Mas tem um outro lado meu, que também é doido pelo grande amor, o mesmo grande amor, mas que é ainda mais apaixonado por mim mesmo. Hoje esse outro lado acordou mais cedo e não deixou o romântico tomar conta. Assim, vim pensando em mim e nas minhas coisas. Um mega bom humor toma conta de mim e vou à vida, curtir um pouco de um dia lindo, vou prestar atenção nas pessoas que passarem na minha frente, porque elas sempre trazem e levam algo, vou olhar com amor para as fotos da minha filha, vou rir alto, vou brincar, vou me divertir. Tenho um monte de coisa chata pra fazer também... vou correr atrás, sem drama, na boa, cheio de energias bacanas...

Hoje é um lindo dia! Tô feliz só por existir e isso é muito bom!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Outro nome para amor.

Preciso criar outro nome. Amor não é o que eu sinto por essa mulher. Amor, da forma que foi definido pelas pessoas pressupõe algumas coisas que não tenho, não quero ter. Dizem-me que o amor é calmo, manso e tranquilo. Dizem-me que o amor só existe quando um completa o outro em tudo. Falam que o amor é sempre fruto de algo divino. Ouvi gente que acredita que há amor no plural: amores! Imagine.

O que eu sinto não é calmo. É intenso e pulsa por todos os meus poros, todos os dias da minha vida. Acordo amando com uma força e uma intensidade tão grande que mesmo de olhos bem abertos continuo sonhando e amando a mulher dos meus sonhos.

O que eu sinto não é manso. É selvagem, cheio de desejos e voracidades que transformam um simples olhar no convite ao sexo, ao amor consumado.

O que eu sinto não é tranquilo. Não segue regras, nem obedece leis. Não espera o sinal para atravessar a rua, não se detém com dificuldades, não se recolhe na adversidade. O que eu sinto pulsa. Faz meu coração acelerar, ganhar velocidade e, como numa montanha russa, faz os sentimentos transbordarem pelo meu estômago, barriga, pele, olhos, boca. Nem meu sorriso é tranquilo.

Ela não me completa. Ela me aumenta. Torna-me ainda mais forte a cada dia, mesmo que longe. Sua simples existência no mesmo mundo, no mesmo tempo, me faz crer que sou mais, que sou melhor, que posso mais, que saberei fazer melhor. Sua força completa a minha, mas não me limitaria jamais a apenas completá-la. E nunca, em momento algum, acreditaria que ela é só a outra metade de mim. Ela é meu dobro, meu múltiplo, minha potência a qual sou elevado apenas porque ela existe.

Esse amor não é apenas fruto de algo divino, ele é a divindade em si mesmo. Ele soma a força, a fé, os sonhos, as fantasias, as crenças, as vontades, os íntimos, as maravilhas, o inexplicável, a grandeza e a força de tudo o que já senti na vida e faz com que isso tudo seja ainda mais divino. Creio neste amor, como creio em Deus.

Se existem amores, os meus são todos dela. Um por um, todos. O que sinto hoje e sempre, é muito singular, único, especial e verdadeiro. Se houver desse sentimento no plural, repito: são todos dela.

Preciso criar outro nome para amor.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Era uma vez...

Nasceu menino de todo, atrapalhado como ele só. Tinha, vez por outra, a sensação de que poderia tropeçar nas próprias pernas. Sua angústia era sobreviver até o final do da sem se machucar muito. Jogar bola, não era com ele e por isso sempre estava no gol ou na reserva... gandula não, ser gandula humilha muito.

Mas ele foi crescendo e as pernas ganhando mais tamanho e os passos ficando mais firmes e com isso sua tranquilidade chegava. Ele era agora um jovem adulto que já não tinha mais a vergonha de ser meio desengonçado e atrapalhado. Sua insegurança foi guardada no fundo do baú de brinquedos e ele ficou torcendo para que sua mãe a levasse embora junto com os brinquedos recolhidos todo ano na época do natal.

O rapaz perdeu o peso que ganhara nos anos de desengonçado. Começou a descruzar os braços na praia, tirou o aparelho dos dentes e logo se sentia confiante nele mesmo. Pronto para encarar o que viesse, do jeito que viesse.

Começava então sua época de namoros. E ele logo descobriu a força que tem no beijo da mulher desejada. Cada beijo era único, intenso e vinha acompanhado de abraços e carinhos infinitos que fazia seu coração, esse ainda desengonçado, bater fora de compasso. Era tudo tão intenso que ele logo se dedicou a arte de amar. Namorou muito, sempre em busca do frio na barriga e do beijo mais doce e intenso que ele pudesse dar e receber.

Os anos se passaram. A busca continuou, mas já não era a mesma coisa. Quando jovem os beijos dados com amor e paixão eram devolvidos da mesma forma. Mais velho, o que ele recebia de volta eram beijos mais maduros, mais balanceados, mais cheios de questões... e muito mais chatos. Mesmo assim ele continuou buscando e chegou mesmo a se casar com a mulher que lhe deu além de beijos a filha amada, mais importante e intensa e desejada do que qualquer beijo de qualquer pessoa.

Os anos tornaram a passar e ele envelheceu mais um pouco. A filha ganhou personalidade, os beijos com a mulher rarearam e logo ele se viu solteiro de novo. E seguiu na sua busca já sem acreditar que poderia de novo sentir o que sentia nos primeiros beijos.

Os anos nem precisaram passar novamente e ele encontrou uma mulher por quem o coração batia forte, as mãos tremiam, a boca não se fechava transbordando sorrisos de felicidade, a cabeça não pensava de tanto encanto e os beijos... bom os beijos eram lindos como pôr-do-sol, gostosos como sorvete no verão, molhados como cachoeira no mato, desejados como parque de diversões. Eram ainda maiores e melhores do que qualquer outro beijo de qualquer outro tempo.

E perdido no encontro desses beijos, ele não cuidou de olhar o mundo caindo por todos os lados. Acreditou que o beijo os protegeria. Não cuidou de medir palavras, achou melhor buscar apenas os beijos. Não se deu conta que havia mais coisas acontecendo... para ele só havia o beijo e o seu incrível poder de fazer amor como quem faz bolinhas de sabão. E a vida os separou, sem que houvesse uma grande cena final, sem o drama dos filmes épicos, sem música triste ao fundo... ela apenas os separou.

E então ele voltou a cruzar os braços na praia, a tropeçar nas próprias pernas e a sentir-se um desengonçado do amor.

Mas o tempo e os anos sempre passam... e, aos poucos, ele descobriu que tinha que começar tudo de novo, primeiro aprendendo a lidar com o tamanho das próprias pernas, depois aprendendo a pisar com mais firmeza, então encontrando em si mesmo as razões para se gostar mais e depois seguindo em frente, torcendo para que a mesma vida que lhe tirou o amor maior faça a gentileza de devolvê-lo.

Oração

Escrevi isso para a mulher que está sempre na minha cabeça e coração... mas achei que devia compartilhar. É uma oração com tudo que desejo para ela e com tudo o que acredito que quem ama pode desejar a sua pessoa amada.



Que você tenha o tempo que precisa para ser e viver o que você quer ser e viver.
Que sua alma sinta todas as emoções e que ela saiba escolher.
Que seus dias comecem com um raio de sol fazendo carinho no seu rosto
E que ele acabe com a lua beijando seu rosto, acariciando seus cabelos.
Que o mar lhe chame de minha filha, que as ondas sejam suas amigas
Que o caminho esteja sempre aberto e que o destino seja sempre belo
Que as cachoeiras sirvam de véu para os seus cabelos
Que o cheiro de mato molhado lhe encha de esperança
Que seus pés estejam nus para pisar a terra úmida do orvalho
Que a musica chegue até você e que você faça eco às melodias mais bonitas
Que seus olhos vejam as mais belas paisagens mesmo quando estiverem fechados
Que seus sonhos sejam doces e muitos e felizes e que eles sejam reais
Que seu peito se encha de alegria e que essa alegria transborde pela boca em sorrisos
Que você perceba a força da chuva e tome banhos com ela girando feliz
Que suas vitórias cheguem na hora certa
Que você não perca tempo duvidando nem tentando mudar
Que você brilhe o seu próprio brilho e que ele ilumine seu caminho
Que em seus momentos sós você saiba que nunca está sozinha
E que Deus te abençoe, sempre.

sábado, 1 de dezembro de 2012

100 Motivos Para Não Conseguir Esquecer Você


Eu tento, tento, tento... e não consigo deixar de pensar em você. Resolvi voltar às listas e pensei: vou listar alguns motivos pra entender melhor porque eu sinto tanta falta... quem sabe assim, pensei, seja mais fácil esquecer...

Não foi.

100 motivos para não conseguir esquecer você:

1.     A vida fica muito chata;
2.     Não tem misto-quente com requeijão;
3.     Não tem ninguém quem exame de Zinhoooo;
4.     Não tem um cheiro de pele tão bom no meu nariz;
5.     Não tem um beijo tão gostoso;
6.     Não tem mate Real;
7.     Não tem a vista da janela lateral;
8.     Não tem quiosque com música;
9.     Não tem café da manhã na padaria;
10.   Não tem ninguém inventando nome pros bichos;
11.   Não tem detalhes tão cuidados na casa;
12.   Não tem “amor na rede”;
13.   Não tem pra quem cozinhar com tanta vontade;
14.   Não tem brincadeiras na ponte Rio-Niterói;
15.   Não tem almoço no Seu Manoel;
16.   Não tem a distância e a vontade de chegar logo;
17.   Não tenho a quem velar o sono;
18.   Não tem que fumar na janela;
19.   Não tem quem fale com os cachorros em espanhol;
20.   Não quem conte tantas histórias e aventuras;
21.   Não tem com quem rir junto nas séries da TV;
22.   Não tem frio na barriga;
23.   Não tem história do bundex;
24.   Não tem ninguém que fique tão bem em vestidos longos;
25.   Não tem ninguém tão cheirosa;
26.   Não tem ninguém pra planejar como as coisas vão ficar;
27.   Não tem ninguém que me ensine a jogar frescobol;
28.   Não tem que descer do carro pra abrir o portão;
29.   Não tem cortina improvisada;
30.   Não tem tanto amor, nunca teve;
31.   Não tem quem veja coelho na lua;
32.   Não tem quem vibre com pássaros na janela;
33.   Não tem quem goste tanto de borboleta azul;
34.   Não tem mandinga que evite gol do adversário;
35.   Não tem abraço tão gostoso;
36.   Não tem tanta verdade nas palavras faladas sem freio;
37.   Não tem recadinhos em post-its;
38.   Não tem carinho tão bom;
39.   Não tem colo igual;
40.   Não tem corpo igual, nem tesão igual;
41.   Não tem flores do campo no primeiro encontro;
42.   Não tem com que jogar bejewelled;
43.   Não tem quem me ature de mau-humor;
44.   Não tem sorriso igual ouvindo a mesma frase de todo dia;
45.   Não tem olhar tão lindo;
46.   Não tem quem saia do banho tão bonita;
47.   Não tem pra quem contar minhas derrotas e minhas vitórias;
48.   Não tem conselhos tão sensatos;
49.   Não tem o copo que eu gosto;
50.   Não tem uma conversa infinita;
51.   Não tenho com quem chorar nem com quem gargalhar;
52.   Não tem amigos antigos pra achar;
53.   Não tem fantasias tão nossas;
54.   Não tem reflexo de sol nos óculos escuros;
55.   Não tem seus quadros pendurados;
56.   Não tem um anel tão bonito;
57.   Não ganho mais canecas de viagem;
58.   Não tem quem me leve pra viajar junto no Skype;
59.   Não tem quem torça e reze tanto por mim;
60.   Não tem ninguém perguntando “tá com tempo?”;
61.   Não tem ninguém culpando a marca da cerveja pelo meu amor;
62.   Não tem ninguém que eu queira tão bem e queira tanto;
63.   Não tem ninguém pra quem confessar meus medos;
64.   Não tem ninguém que eu admire tanto;
65.   Não tem ninguém tão linda;
66.   Não tem guerreira tão guerreira;
67.   Não tem ditados tão apropriados;
68.   Não tem quem goste tanto de viajar;
69.   Não tem quem toque xequerê (nem quem me diga como se escreve);
70.   Não tem quem diga “Obrigado, meu Deus” tantas vezes;
71.   Não tem ninguém com quem eu goste tanto de ir pra Búzios;
72.   Não tem ninguém com valores tão sólidos e bonitos;
73.   Não tem ninguém que goste do meu ronco;
74.   Não tem ninguém que tenha pegado os vôos mais esquisitos pra me ver;
75.   Não tem ninguém que tenha disfarçado pra tirar uma foto minha;
76.   Não tem ninguém pra me mostrar músicas que eu não conheço;
77.   Não tem ninguém que dance tão bonito;
78.   Não tem ninguém com fotos adolescentes que me deixem mais apaixonado;
79.   Não tem melhor companhia;
80.   Não tem ninguém que me dê 100 motivos pra me amar;
81.   Não tem ninguém que minha filha tenha gostado tanto;
82.   Não levaria mais ninguém pra uma ilha deserta;
83.   Ninguém nunca me deixou tanto tempo apaixonado;
84.   Não tem mais ninguém pra quem eu possa apenas olhar por horas a fio;
85.   Não quero dividir meus sonhos com mais ninguém;
86.   Nunca ouvi uma risada tão gostosa;
87.   Nunca quis tanto mudar pra ser melhor por alguém e por mim;
88.   Nunca falei eu te amo com tanto amor;
89.   Nunca ninguém teve tanto prazer em me mostrar lugares novos;
90.   Nunca esqueci nenhum momento;
91.   Não consigo não comparar e comparando tudo mais perde sentido;
92.   Nunca senti isso;
93.   Ninguém imita a garotinha do Youtube falando “tranquilo” igual;
94.   Não confio nem acredito tanto em mais ninguém;
95.   Não torço tanto por mais ninguém;
96.   Não saberia amar assim outra pessoa;
97.   É a primeira pessoa em que penso todo dia de manhã;
98.   Não teria outro filho com mais ninguém;
99.   Não tem ninguém que eu queria fazer mais feliz;
100. Não existe ninguém como você (eu protegi teu nome por amor)


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Poetando

Escrevi ontem.. resolvi compartilhar aqui....


Uma vez, julguei ter amado demais.
Era tanto amor que não cabia em mim.
Transbordou pelos olhos, pela boca, pela vida.
E, por não caber em nós, achei que não era amor.

E segui outros caminhos...

Outra vez, julguei amar de menos.
E achei que amar de menos me faria mais.
Mas amar de menos não é amor.
Não preenche, não satisfaz, não atende.

E segui outros caminhos...

Novamente, julguei ter encontrado o amor.
E me fiz perfeito para atender demandas.
Me vesti com suas cores preferidas.
Me enfeitei com seus enfeites coloridos.
Me fantasiei de fantasia.
E descobri que fantasia não é amor.

E segui outros caminhos...

Com cuidado, julguei enfim amar de fato.
E de fato, concluído, consumado.
Aprendi que amar é mais que um ato.

E parei de seguir outros caminhos.

E hoje, depois de perder tanto, entendi:
Não existe isso de amar demais
Tarde demais!?!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Apenas Começando


O poeta parou um dia para pensar na vida que escolhera para si. As aventuras e desventuras amorosas dos últimos tempos mexeram com ele. Se por um lado compreender o que acontecia lhe fazia bem e lhe dava segurança de estar indo pelo caminho certo, por outro estava cansado de repetir um padrão de comportamento que não lhe levava de fato a lugar algum.

Pela sua cabeça passaram as cenas do passado, próximo ou distante. Lembrou-se com do que lhe fez bem em cada menina: um sorriso, uma palavra, uma atitude, um carinho, um beijo, um sonho, uma noite... se deu conta de que teve um pouco de cada coisa que mais desejava em cada uma das meninas que passaram. Riu quando imaginou juntar todas elas para agradecer.

E enquanto pensava percebeu que a menina que ele chamou de menina de charme ganhava espaço em sua vida. Ocupava vazios de forma plena. Participava da sua vida de corpo inteiro, sem censuras, sem metades, sem mentiras. Os dois juntos compartilhavam tudo de forma intensa. Falavam de seus medos sem medo. Discutiam suas angústias sem angústia. Entregavam-se com uma entrega plena.

Ele já conhecia as brincadeiras do seu coração. Sabia bem que o amor projetado poderia ser do tamanho que quisesse, mas se não fosse amor de verdade seria apenas mais uma história, entre tantas. Nem por isso deixou de acreditar, de viver e de sentir.

À noite, juntos em um sofá, conversando e contando a vida e tudo o que ela já aprontou para os dois, ele se pegava olhando para ela. Não havia um sorriso igual ao outro. Não havia uma expressão igual a outra. Ele sempre se surpreendia. Via nela muito de muitas pessoas que lhe foram importantes e via mais: via uma mulher capaz de lhe equilibrar da forma que ele tanto queria ser equilibrado e ao mesmo tempo, uma mulher em busca de equilíbrio. Via-se pronto para tentar ajudar.

As coisas aconteciam no seu tempo, do seu jeito e ganhavam força. Os defeitos de ambos não passavam despercebidos, mas nenhum dos dois fazia deles a desculpa ideal para manter distância e evitar o amor. O sentimento bom era maior. A sensação gostosa de aconchego era mais importante. A atenção que um dava ao outro, todo o tempo, era oxigênio puro para os dois. E a história que começou narrada, pressentida e desejada ia ganhando contornos épicos.

Ele pensava: - desta vez é diferente. E lembrava-se das tantas outras vezes em que já havia pensado e dito o mesmo. E ria. Era mesmo diferente? Era mesmo diferente! Havia encaixe e compromisso em tudo o que faziam juntos. Havia uma vontade grande de fazer dar certo. Havia compreensão e apoio. Havia cumplicidade.

Uma noite ele disse: - Sempre que eu puder, vou tentar mostrar outras formas de resolver problemas que evitem conflitos e confrontos. Mas quando você estiver brigando suas brigas, mesmo que você esteja errada, vou estar do seu lado, apoiando e lutando sua luta.

A consciência da escolha madura de estar com ela implicava em todos os mesmos riscos que as escolhas infantis traziam. Não bastava querer dar certo, era fundamental viver cada minuto de forma dedicada. 

Os medos dele vieram à tona antes do momento que costumavam aparecer nas suas relações, mas dessa vez ele escolheu enfrentar. Ele sabia que os fantasmas poderiam estar por perto, mas aprendeu que eram só fantasmas – inofensivos, pequenos, tolos e vazios. Os sustos que as assombrações costumavam dar deram lugar ao riso largo de se descobrir maior ao lado dela.

Suas histórias serviam para lembrar o caminho que ele teve que seguir para chegar até aqui. Ele as guardaria com carinho e voltaria para reler caso houvesse motivo. Suas incompetências emocionais se provaram competentes quando vistas ao mesmo tempo, da mesma forma e de onde estava.

O poeta não deixaria de ser poeta, mas deixaria de escrever as curtas histórias de amor porque sabia que eram curtas e que não eram amor. E seguiria acreditando que dessa vez tudo seria realmente diferente.

Encerrado um ciclo na sua vida, sentia-se pronto para começar outro ainda maior, mais forte e mais importante. E não estaria mais sozinho no seu caminho.

A história do poeta está apenas começando.



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Galinha


A vontade de fazer certo muitas vezes me levou ao erro. É assim, a gente se empolga, fecha os olhos pra tudo o que não quer ver e se apega a tudo o que interessa a nossa própria alma. Uma pessoa pode parecer a pessoa certa pro resto da vida e não durar num relacionamento nem um mês. Acontece.

Hoje, ando bem feliz, entregue a uma relação que me faz bem. Não sou cego aos defeitos, mas não faço deles um problema insolúvel. Não acredito em pessoas perfeitas, além do que elas devem ser muito chatas. Mas nem sempre foi assim e, honestamente, hoje ando preferindo falar do passado incompetente que me trouxe até o blog.

Uma vez cheguei tarde ao Real Astória, meu lugar preferido durante os meus anos preferidos. Já tinha um grupo lá, numa mesa grande e a bagunça corria solta. Na mesa, uma linda mulher me chamou a atenção. Ela era linda, delicada, traços finos e um jeito de menina. Não demorei a perguntar quem era e a descobrir que era amiga da amiga da amiga.

Eu estava do lado de fora, perto da mesa e não conseguia tirar os olhos da paixão daquela noite. Era hipnótico. Conversava com um e com outro, mas sempre em uma posição de onde eu pudesse vê-la. Três chopps depois eu não aguentei. Pulei a mureta baixa que separava a calçada da varanda e fui sentar ao lado da moça. Apresentei-me, descobri seu nome e segui a conversa.

A menina não era tão menina assim. Tinha feito suas escolhas. Era engenheira química e já tinha chegado a uma posição bacana para a sua idade. Quanto mais eu ouvia, mais eu gostava. Fiquei completamente cego de paixão. Rabisquei versos de guardanapo. Sorri meu melhor sorriso. Elogiei. Mostrei a lua e logo o clima estava pronto para transformar aquele encontro em uma coisa especial.

No meio da nossa conversa ela me disse que morava longe, muito longe. Em Vila da Penha, um bairro do subúrbio carioca que eu não conhecia. Não me importei em nada, nunca tive preconceitos ou julguei ninguém por onde mora ou pelo que veste. Achei ainda mais curioso e isso não impediu que a paixão crescesse. Umas duas ou três horas depois eu já estava entregue. Se me perguntassem o que eu sentia poderia descrever a paixão em detalhes, mas ninguém perguntou e eu não perderia tempo com isso.

Logo, o clima transformou-se em um beijo apaixonado e eu flutuei nos ares boêmios do Real Astória. A paixão havia nascido e eu estava pronto para vivê-la. Ficamos juntos, abraçados, acarinhados, felizes e sorridentes até o final da noite quando me dispus a levá-la para a casa da amiga onde ela dormiria aquela noite. Beijos e mais beijos selaram aquele encontro.

Marcamos um novo encontro. Eu a pegaria em sua casa, na Vila da Penha. Ela me deu as indicações e eu rezei para não me perder muito. Não havia celular naquela época. Errar seria perder o encontro e possivelmente a menina. Concentrado, fui seguindo o passo-a-passo que ela havia ditado. Depois de muito andar cheguei, finalmente. Tivemos uma noite linda, éramos parecidos em muitas coisas e não foi difícil perceber isso. Mas éramos diametralmente (adoro essa palavra) opostos em outras tantas. Mas a noite foi ótima, com gostinho de quero mais.

Um ou dois dias depois fui encontrá-la em um happy-hour com seus amigos na Urca. Foi tudo ótimo. Na saída seguinte ela me deu de presente o livro do Richard Bach, Longe é um Lugar que não Existe. Eu ri e muito. Não havia preconceitos. Mas havia sim uma imensa distância de vida, de expectativas e de valores que nos separavam conforme falávamos. E já nesse encontro o que parecia tão certo começou a parecer bem errado. E o namoro não foi muito além.

Por conta de ímpetos e situações assim, meus amigos preferiam me classificar como um sedutor, um galinha, etc. Sempre detestei esses títulos. Acho que um galinha é o cara que fica por ficar, que beija por beijar que transa por transar. Nunca fui isso, nunca quis isso. Mas a imagem dos outros sobre nós mesmos é feita de percepções e não de realidade.

Durante muito tempo lutei contra essa pecha. Conversava, falava, explicava, fazia de tudo para mudar o que os outros pensassem sobre mim. Nada adiantou. Aí pensei comigo: - Pra que tentar mudar o que os outros pensam? Pra que tentar mudar o que sou se eu gosto de ser como sou? E desisti disso. Quer me chamar de galinha? Chama! Quer duvidar das minhas escolhas? Duvide! Quer me julgar? Julgue!

O fato é que sou amigo de (quase) todas as mulheres que passaram na minha vida e nunca me furtei de viver e de sentir as coisas que vivi e que senti. A intensidade faz parte de mim. Não fosse ela não estaria com o sorriso aberto nos lábios hoje, mas isso é outra história e não é para esse blog.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Lua Azul


O combinado era sair antes das cinco da manhã. Os cavalos já estariam prontos. O ponto alto do passeio seria assistir o nascer do sol do alto de um morro lindo de onde se pode ver todo o horizonte de todos os lados. Ele nunca precisou do despertador que ela ligou para as 4h30 e abriu os olhos às 4h25. Ela ainda dormia a seu lado. Ele preferiu ficar em silêncio e olhar, apenas olhar para ela dormindo serena.

Foi com um abraço leve que ele trouxe ela de volta do mundo dos sonhos sonhados para o mundo dos sonhos vividos. Ela acordou sorrindo, devagar, mansa e com a felicidade tomando conta do seu corpo. Um beijo com gosto de bom dia. Uma olhada no relógio. A pressa de não perder o espetáculo da natureza. Os dois correram juntos para um banho rápido e evitaram se tocar para não perderem a hora.

Calçaram as botas – ela tinha uma coleção – vestiram os jeans surrados, e as camisas separadas na véspera e bateram a porta com os chapéus na cabeça. Os barulhos da mata ainda eram os barulhos da noite. Andaram um pouco e logo encontraram Seu Chico e os cavalos já arreados e prontos para o passeio. Ele montaria um cavalo preto, grande e valente. Ela, a sua égua preferida. Os dois acarinharam os animais antes de montar. Cada um do seu jeito, os dois davam para os bichos um pouco de conforto e falavam palavras de carinho. Os cavalos pareciam entender, pareciam sorrir, pareciam felizes.

Montados, seguiram pela trilha que os levaria ao topo do morro. Estava escuro ainda e os barulhos das matas chamavam a atenção dos dois. Tinham sempre muito a falar, um para o outro, mas naquele dia preferiam seguir em silêncio, apaixonados pelo dia que nem havia nascido ainda.

Depois de meia hora, chegaram ao destino. Desceram e deixaram os cavalos soltos perto de um riacho e seguiram a pé. Ele a abraçou com carinho. Gostava de senti-la embaixo do seu braço, encaixada. Ela a olhou com carinho, beijou seu rosto e repetiu: delícia! E seguiram por mais uns 50 ou 100 metros até o topo do morro.

Ele havia levado uma manta. Ela gostava disso. Sentaram juntos em uma pedra e ele a cobriu com a manta. No céu, a lua cheia iluminava o fim da noite que traria em minutos novas cores, novos ares, novos sons e encheria os dois de sentimentos e sensações únicos. Era a segunda lua cheia do mês.

- Você sabia que essa é uma “lua azul”? uma blue moon? Ela não sabia e ele explicou: - A segunda lua cheia dentro de um mesmo mês é chamada de blue moon. Os antigos acreditavam ser um sinal de boa sorte.

Ela olhou novamente para o céu e enxergou a lua de um jeito diferente. Ela gostava quando ele se exibia falando coisas que ela não sabia. Ele gostava de dividir com ela as coisas diferentes que aprendeu com o pai e com os livros de toda uma vida.

O céu, em breve começaria a mudar de cor. O sol já vinha. E os dois olhavam fixo para o horizonte. O momento era mágico. E, do nada, uma linda menininha loira apareceu na frente deles sorrindo e tampando a visão. Eles ficaram confusos.

- Bom dia – disse a menina.
- Bom dia – responderam – quem é você? O que está fazendo aqui tão cedo?
- Só vim dar bom dia e agradecer.
- Agradecer? Não entendi – disse ele.
- É que vocês tem um amor tão raro que transborda os limites de vocês dois. Eu mesma estava dormindo quando senti um sopro de felicidade entrando pela janela e acordei. Sai do meio do meu sonho sorrindo e vim ver vocês.
- Nossa, que coisa estranha – disse ela.
- Não é não. Sempre tenho uns sonhos cheios de vida. Tudo acontece neles. E hoje sonhei com vocês dois. Por isso vem dar bom dia!
- E com o que você sonhou?
- Sonhei que vocês dois se conheciam e que se apaixonavam rápido demais. Em menos de uma semana vocês já tinham uma relação que muita gente demora anos para conseguir. Era tudo muito intenso, muito forte. Não era um sentimento comum, era especial. Iluminava o ambiente e as pessoas que ficassem perto de vocês. Sonhei que vocês se entregavam de corpo e de alma um para o outro sem nenhum medo de serem felizes. E sonhei que isso incomodava um monte de gente e, que mesmo assim, vocês seguiam se amando.
- Foi mesmo assim que tudo começou entre a gente.
- E depois? Quis saber ela.
- Depois, vocês buscavam um no outro um ponto de equilíbrio. As brigas que cada um de vocês tinha antes com o mundo haviam perdido a razão de ser. Juntos vocês eram imensos. Eram tomados pelo bom senso e encontravam sempre a melhor forma de lidar com os problemas.
- Muito bom... mas, e ai? Vivemos felizes para sempre?  Que nem conto de fadas?
- Não... nada é que nem conto de fadas. Vocês tiveram suas brigas. Tolas, é verdade, mas tiveram. Foi com elas que vocês descobriram que precisavam um do outro como a noite precisa do dia, como a lua precisa do sol. A vontade de estarem sempre juntos sempre foi maior do que qualquer briga. Mas, no final do meu sonho vocês dois acordavam juntos e iam viver um momento único, mas não sabiam disso. Por isso vim.
- Menina, você tem muitos mistérios. Explica melhor...
- Vocês vieram se beijar no nascer do sol no dia da lua azul. Esse único beijo, nesse momento único é mágico. Com ele vocês selam um amor ainda maior do que o amor que já sentem um pelo outro. E desse amor só vem coisas boas. Com ele vocês podem tudo. Esse amor vai iluminar os olhos dos seus filhos, o bem querer de seus amigos, o bem estar dos seus pais, a cumplicidade dos seus irmãos e vai fazer de vocês um casal raro com um sentimento eterno...
- Como um casamento? Perguntaram juntos
- Não. Casamentos são diferentes e às vezes meio chatos. Como mágica mesmo. Esse amor junta o que nasceu para estar junto. E mesmo que um dia vocês decidam não estarem um do lado do outro, ainda assim vão estar juntos. O carinho desse beijo não se encerra num sorriso, num momento. Esse carinho é pra sempre.
E os dois olharam para o céu por um instante. A lua azul brilhava forte e os primeiros raios de sol despontavam. Olharam novamente para o lugar onde estava a menina, mas ela havia sumido.

Olharam um para o outro e beijaram-se apaixonadamente.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Sonhe Acordado!



O sorriso encanta
O olhar fascina
Ouço mais dos seus olhos
Do que da sua boca.

O jeito seduz
As formas perfeitas mexem

E sigo olhando e querendo
Conhecer e descobrir
Viver e construir
Sonhar.

Fico por perto querendo mais
Mas não vou jogar
Vou oferecer meu amor
Mas não vou entregar
O amor que tenho em mim
Não é meu e não é seu
O amor que tenho em mim
É usado.

Quero falar de um amor novo
Quero falar de um amor nosso


Das delícias e das dores de amar demais que o Poeta logo conheceu ficaram a certeza de que o melhor ainda estava por vir. Ele havia construído castelos, mas a onda levou. Ele havia desenhado em guache, mas o papel molhou. Ele havia escrito lindas histórias de amor que não foram lidas nem vividas.

Cansado, o Poeta desejou ir além.

Sua natureza de menino e de poeta fazia dos seus sonhos horizontes. Lindos. Desenhados com contornos. Emoldurados com cores. Perfumados.

Mas o sonho só existe quando é lembrado e para lembrar é preciso acordar. Viver de sonhos consome. Há uma eterna e inútil busca nos poetas que vivem deles.

O Poeta não queria mais viver assim e tampouco deixar de ser poeta. E confuso com o tanto que sentia e com o tanto que queria sentir, o poeta adormeceu e sonhou novamente.

- Você demorou. Achei que não vinha mais!
- Desculpe, mas nos conhecemos?
- Muito... venha... E puxou o poeta pela mão por um campo de um verde intenso pontuado com flores de todas as cores. Montanhas com contornos de mulher serviam de pano de fundo para aquela paisagem. E o Poeta, encantado, seguia sem saber para onde ia.

- Quer dizer que você não quer mais viver isso tudo?
- Você fala do sonho?
- Sim... de sonhos como esse que trazem você para os lugares mais lindos e que oferecem as pessoas mais especiais e que lhe trazem sensações e sentimentos únicos.
- Mas nada disso existe de verdade. Os lugares são lindos porque é a minha imaginação que os cria. As pessoas são especiais porque fui eu quem as escolheu e resolvi fazê-las personagens. Os sentimentos e sensações são frutos do que eu gostaria de viver, mas são só meus.
- E se não for?
- Como assim? Não entendo!
- Se eu lhe disser que todas as pessoas do mundo sonham. Se eu lhe contar que os sonhos de todas as pessoas se encontram. Se eu lhe mostrar que os lugares lindos que você acha que criou foram na verdade criados por muitos que, como você, escolheram os campos de verde intenso pontuados com flores de todas as cores. Se lhe disser que as pessoas especiais só são especiais porque sonham também e porque fizeram de você uma personagem dos sonhos delas. Se com isso tudo você mesmo concluir que os sentimentos e sensações só existem por serem compartilhados...
- Você está tentando me dizer que tudo isso aqui é real?
- Estou apenas mostrando. Os sonhos vão existir sempre. Sua escolha não é parar de sonhar porque você não poderia evitar os sonhos. A escolha que o aflige é parar de lembrar, de acreditar. E pra que?
- Para encontrar uma pessoa que não evapore nos primeiros erros. Para conseguir me entregar inteiro. Para me preparar para receber a mulher que quero por inteiro também: com qualidades e defeitos, com erros e acertos, com generosidades e egoísmos, com coragem e com medos. Para que eu não faça das pessoas fantasias.
- Mas o caminho não é esse...
- Então me diga: por onde sigo? Qual o caminho?
E ele riu do poeta, menino. E disse apenas:
- Sonhe acordado!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Escravo da Alegria


Detesto as cantadas fáceis. Detesto o pouco caso que se dá aos sentimentos mais importantes que podemos ter. Como é possível reduzir tudo à comodidade? Pra que diminuir a importância dos outros na nossa vida? Acho que as pessoas não percebem mais o ridículo de estar com alguém por estar.

Não sou assim, não quero ser.

Conheci alguém especial. A Menina de Charme.

Eu podia ter entrado em mais uma viagem solitária. Sou capaz de criar lindas fantasias de amor, mas o destino delas é sempre o mesmo destino dos castelos de areia construídos na minha infância. De uma hora para a outra a maré muda, as ondas chegam, o castelo tomba e tudo volta a ser nada.

Aí, a Menina de Charme chegou. Olhei para ela duvidando que ela fosse realmente tudo aquilo que eu estava vendo. Seria possível: juntar tudo, ou quase tudo, o que eu mais gosto em uma pessoa só!?! Por um tempo achei que era mais uma historinha, mais uma ilusão, uma mentira que eu mesmo estava criando só para ter depois do que reclamar, do que me frustrar.

Mas ela foi chegando e eu fui chegando também. E conversamos. E falamos. E ouvimos. E sorrimos. E beijamos. E...

E quando eu me dei conta, estava com ela ao meu lado. Conversando mais, falando mais, ouvindo mais, sorrindo mais, beijando mais e tudo mais.

Posso até estar me enganando de novo. Não será a primeira vez, mas como é bom sentir isso tudo nascendo devagar, sem pressa, com vontade.

Não sou carnavalesco. Não vivo de fantasias. O que não quer dizer que eu não ame o carnaval ou que eu não curta minhas fantasias... pelo contrário. O que eu não posso nem me permito mais é viver exclusivamente de fantasias. Não quero isso pra mim e não quero ser isso para as pessoas. Se o que estou sentindo agora for só uma fantasia, então é para ser hors concours em qualquer desfile ou concurso.

Dizia o velho poetinha... “Se o amor é fantasia eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.”




quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Pipa


(um texto guardado com carinho)

- Tô aqui pensando no amor.
- Amor? Mas que bobagem. Você sempre se perde pensando nisso e eu já cansei de dizer que amor é bobagem.

Foi assim que começou a conversa entre o poeta e um amigo querido. Os dois cresceram juntos, sonharam juntos, descobriram muitas das melhores coisas do mundo juntos. Mas o poeta escolheu ser poeta e o amigo escolheu ser rico. E a distância entre esses dois mundos era muito grande.

O poeta morava em outra cidade e seu amigo morava no centro financeiro do país. Não bastou para ele uma boa faculdade, ele fez duas e logo se empregou em um grande banco que lhe abriu as portas para o mundo do dinheiro, dos bônus, das viagens internacionais e de tudo aquilo que pudesse ser ostentado. O poeta seguiu seu rumo sem pressa de chegar, porque sabia que não havia mesmo aonde chegar. No seu caminho encontrou flores e sorriu, encontrou amigos e curtiu, recebeu convites para programas que ele nem sabia que existiam e se divertiu como ninguém.

A vida de um era toda focada na competição. Quem tem mais? Quem pode mais? Quem fala mais grosso? E por aí vai. A do outro, focada na realização de sonhos e fantasias que ele percebia possíveis com muito mais facilidade do que os outros.

Naquele dia o poeta queria falar de amor e puxou a conversa. Seu amigo tão querido, no entanto, não conseguia mais ouvir aquela palavra sem se incomodar. Pra que pensar em amor? dizia ele. Amor é uma parte da infância que ficou lá atrás quando paramos de frequentar os parques de diversão, as colônias de férias e aquelas reuniões sem sentido na beira da praia para ver o sol se por. Amor é muito bom quando você não sabe o que quer, ocupa a mente. Mas hoje em dia, francamente, falar de amor como se ele fosse possível não é sinal de inteligência... E o seu longo discurso parecia não ter fim. Argumento após argumento, o amigo tentava convencer o poeta de que amor não existe.

E o poeta que queria falar do seu momento começou a ficar muito preocupado com o amigo. Você tem mulher e filhos. Não sente amor por eles? E ele dizia que sim, mas que esse amor era carregado de orgulho porque a filha mais velha já falava três idiomas e o filho mais novo era o maior da classe, ainda que no maternal. E a mulher? A mulher era a companhia perfeita para os eventos sociais que aconteciam quase toda noite. Sabe se vestir como ninguém, tem uma pele ótima, fala sobre diversos assuntos e sempre se comporta de forma muito atenciosa. Sim, o amor do amigo era permeado por valores que nada tinham a ver com o amor a que o poeta se referia.

E quanto mais o amigo falava, mais preocupado o poeta ficava. E preferia ficar em silêncio ouvindo aquilo tudo sem emitir opinião, sem questionar, sem duvidar. O amigo parecia muito seguro das suas escolhas e o poeta sabia o quanto elas os distanciavam e, por isso mesmo, preferia evitar o confronto. Até o momento em que o amigo perguntou: - Mas você ia falar sobre o amor. Está apaixonado de novo? Encontrou alguma mulherzinha nova?

Mulherzinha???? Como assim? Aí foi demais, até mesmo para o poeta.

- Não amigo, não estou apaixonado por ninguém. Estava pensando no amor do qual sou feito, das pessoas que passaram na minha vida e me deixaram marcas tão profundas que me transformaram por inteiro. Hoje sou um pouco de Bia, um tanto de Claudia, muito de Ursula, outro tanto de Cristiana, um bocado de Monica e por aí vai. Cada pessoa que me amou e que eu amei na vida deixou uma marca em mim e hoje fazem parte de quem eu sou. Acho que só é possível ser poeta assim, juntando pedaços de sonhos e misturando eles com um retalho de uma lembrança e depois botando de molho nas risadas e momentos que já vivi. Me sinto, e a cada dia mais, feito de amor. Esse mesmo em que você não acredita.

- Pois eu me sinto sólido, tranquilo. Tenho tudo o que sonhei ter na vida. Tenho dinheiro, tenho casa. Tenho conta no exterior. Tenho o carro que sempre quis ter. Se você é feito de amor, então eu sou feito de que?

- Você também é feito de amor meu amigo. Só que está todo coberto de espelhos que só refletem os outros e que só servem para trocar por comida com os índios.

- Que conversa maluca é essa. Então você acha que tudo o que consegui não vale nada?

- Se você não souber usar o “tudo o que você conseguiu” não, isso não vai servir pra nada. Acho que com o dinheiro e as coisas que você tem hoje você já poderia ter a sua fazenda tão sonhada, lembra? Aquela que teria uma mangueira enorme para você subir e comer a fruta no pé junto com seus filhos. Você também podia ter outro cavalo com uma marca branca na cara como teve na infância e podia ensinar seus filhos a andar a cavalo no mato e não em um clube de campo. Você podia comprar um presente bem bonito para aquela menina que te olhava de um jeito que deixava você sem jeito. E também podia comprar papel de seda e ensinar seus filhos a fazerem pipa como a gente fazia na infância. Mas se você não faz nada disso... esse tanto de coisas que você conseguiu não serve pra nada mesmo, serve?

E o amigo, ao invés de se aborrecer, lembrou-se do tempo em que andava a cavalo na fazenda da infância e das pipas que fez junto com os moleques da rua e dos pegas de bicicleta e das brincadeiras de esconde-esconde e tantas outras coisas que já tinham morrido na sua memória. Deu um suspiro e, com um tom superior de quem tem pena do outro, disse: - Você é incorrigível, me fez lembrar de um monte de coisa que já morreu e que não me importa mais. E riu como riem os tolos e aproveitou a deixa para dizer: - Nossa, já estou atrasado. A conversa está ótima, mas preciso ir. E assim se despede, sai de cena deixando a conta paga e segue cheio de promissórias vencidas na lembrança.

Entrou no carro com uma lágrima escorrendo no rosto e foi para casa ao invés de ir ao escritório. E chegou com seus filhos ainda acordados e ganhou uma festa grande como nunca imaginou que era possível. Sua mulher estranhou e perguntou se estava tudo bem. E ele disse que sim e olhou fundo nos olhos dela e perguntou: - Já te disse que te amo hoje? E ela sorriu. E ele ficou brincando com os filhos até que eles fossem dormir e convidou a mulher para jantarem juntos e sozinhos num restaurante novo e aconchegante que ele havia ouvido falar. E no jantar sorriram e se beijaram e com a luz das velas juraram amor um ao outro e começaram a fazer planos para um futuro próximo e ele sentiu o coração pulsar de novo.

Na volta para casa o porteiro apareceu com um embrulho leve e sem jeito e disse que um rapaz tinha deixado aquilo para ele. Quando abriu, em casa, encontrou papel de seda de várias cores, algumas varetas, linha de carretel e cola branca. Junto um bilhete que dizia:

- É só pra você lembrar como é bom voar, amigo querido.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Qualquer Coisa a Menos é Nada


Estavam ansiosos. Havia no ar uma sensação mágica. Os dois sabiam que o outro estava prestes a entrar nas suas vidas. Não sabiam quando. Não sabiam como. Mas sabiam que mexiam um com o outro de uma maneira rara.

Não tinham mais idade para acreditar em príncipes e princesas. Já haviam desistido de buscar as pessoas perfeitas, idealizadas nos sonhos de mocidade. Já haviam vivido amores e desamores. Mas não haviam vivido aquilo.

O primeiro cruzar de olhos foi o bastante para acender a vontade nos dois. Ele olhou seus olhos e viu uma mulher inteira, de verdade. Viu muito mais do que ela quis mostrar. Ela olhou seu sorriso e sorriu também. Foi nesse encontro que tudo começou.

Havia uma vida inteira para ser vivida ou para ser ignorada. Havia um amor pra ser sentido ou esquecido e muitas descobertas pra serem feitas ou abandonadas. Mesmo não acreditando mais em contos de fadas, os dois se viram dentro de um romance de amores impossíveis e confusões desnecessárias.

Nenhum dos dois abriu mão de ser exatamente quem eram. O primeiro encontro, não com surpresa, foi delicioso para os dois. Ele levou as flores que ela tanto gosta. Ela falou sobre as coisas da vida. Celebraram juntos a arte do encontro. Beberam sem exageros. Sentiram juntos o cheiro que seus corpos exalavam e se deixaram levar pelo bem que um fazia ao outro.

O Beijo

Há sempre a dúvida no primeiro beijo. As bocas precisam se encaixar. Os dentes não são convidados. O primeiro beijo começa manso. Os lábios precisam ser cultuados. A respiração precisa ser sentida. Os olhos precisam fechar devagar para que a viagem dos sentidos comece. Depois é a vez das mãos e dos corpos que precisam se encontrar, se entregar. O primeiro beijo é feito de descobertas, de gostos, de abraços, de carinhos. É ele quem avisa que o amor existe. É ele quem fica guardado na lembrança.

O Cheiro

Antes de qualquer perfume, existe um cheiro que é de cada um. É ele quem desperta no outro a vontade de estar perto. Ela tinha cheiro de madeira. Não de madeira seca, mas de madeira fresca, molhada de orvalho, viva. Nos primeiros abraços ele sentiu seu cheiro e quis continuar sentindo sempre. Seu cheiro o excitava, tinha gosto de quero mais. Fechava os olhos com os braços enlaçados nela e respirava fundo o ar dos seus sonhos. Era isso: ele conhecia aquele cheiro dos seus sonhos de menino.

A Renúncia

A vida aprontou novamente. Para estarem juntos deveria haver renuncia dos dois. Eles não sabiam que se encontrariam agora. Cada um havia feito o necessário para viverem felizes, de bem com a vida. O tanto que viveram antes pesava sobre o tanto que queriam viver depois.

Ele já não queria mais sonhar sonhos impossíveis. Não queria mais o drama. Não queria amores doidos ou doídos. Queria estar ao lado de quem estivesse ao seu lado também. Buscava a cumplicidade perdida. Queria construir um sentimento e cuidar dele todos os dias.

Ela queria a liberdade. Queria o equilíbrio dela mesmo e acreditava que já o havia encontrado. Sua vida estava do jeito que desejara. Tudo seguia seu rumo como planejado. Podia ser menina novamente. E podia ser também a mulher que sonhou ser porque experimentou todas as outras. Porque escolheu. Ela nem pensava mais na importância real de outra pessoa em sua vida.

Mas o cheiro e o beijo e toda a mágica de todos os minutos que tiveram juntos faziam complicadas as coisas mais simples. Ela precisava escolher. E escolhas são renúncias. Ele não queria pouco. Os dois estavam assustados.

O Desejo

O tempo corria. Os minutos se juntavam a outros minutos e faziam as horas parecerem segundos. Cada abraço colado provocava sensações novas. A imaginação ia longe. O desejo crescia. Ele sentia seu corpo encostar nas curvas do corpo dela. Apertava com vontade. Queria estar junto. Queria estar dentro. O prazer ganhava volúpia em beijos de cinema oferecidos em sessão aberta a quem passasse na rua. Nenhum dos dois queria se controlar. Nenhum dos dois queria terminar nenhum dos beijos.

E cada novo abraço trazia mais do que tesão. Trazia o desejo intenso de estarem juntos. E também nisso havia mágica. Se fosse apenas pelo sexo tudo não seria nem metade.

A Escolha

Estava pronto para renunciar ao que fosse menos do que o máximo que ele pudesse sentir. Não queria nem metades nem sobras. Queria viver. Acreditava na vida feita de momentos únicos, celebrados, intensos, inesquecíveis. Não acreditava em príncipes ou princesas, mas acreditava em fazer da sua vida a melhor vida que ele pudesse ter. Qualquer coisa a menos era nada.

Ela estava confusa. Tinha chegado onde queria ter chegado. Sabia que ele poderia lhe tirar da zona de conforto que construíra. Sabia que ele reescreveria com ela as próximas páginas da sua vida. Escolher estar com ele era renunciar aos planos traçados pelas marcas que a vida lhe deixara.

Boa Noite

Ele sabia que não podia escolher por ela. Podia sim, entrar na sua vida pelo beijo, pelo cheiro e pelo desejo. Podia ter lhe marcado com uma noite de amor e carinho, de tesão e entrega, de sonho sem sono. Mas ele sabia que se fosse menos não seria nada e por isso resolveu ir embora.

Despediram-se com beijos apaixonados. Com abraços desesperados. Com toques e carinhos exagerados. Queria deixar dentro dela a saudade que ele já sentia. Ela suspirou.

Despediram-se com um boa noite!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Meus medos se divertem


Tua demora me consome.
Teu silêncio me devora.
O sol já brilha. É dia.

Talvez hoje, nasça a fantasia.

Sai dos sonhos, ganha forma.
Hoje, apenas o hoje me interessa.

Meu coração quer bater forte e solto.
Chega de bater escondido. Chega.

Meus medos se divertem.

Adolesço.


É ela. Deve ser ela. Acho que sim: é ela mesmo! E as confusões ganham a mente, enganam o coração. Vivo na expectativa de saber. É ela? É mesmo ela? Vejo na esquina, sei que está ali. Sei que pode ser ela, mas pode também não ser. Será?

Tantas vezes me enganei. Tantas vezes acreditei. Tantas outras duvidei. E agora? O que pensar? Como lidar com os sentimentos que ainda não sinto, mas que já me sentem? Como lidar com as horas que não passam?

Já não quero mais o sabor tolo e rápido da conquista barata.

Quero provar do creme de cogumelos que esquenta a noite, tomado em caneca, alternado com vinho, cheio de sorrisos e carinhos. Já não me basta o sonho. Não me bastam as fantasias rasas.

Tudo no mundo me faz acreditar que achei. Entre bilhões de pessoas uma. É a mesma sensação de estar prestes a ganhar na Mega Sena e ter que esperar o sorteio do último número.

Mas se o número não sair.. se o bilhete se perder... se a aposta for alta demais, então não olhe pra trás. Não quero ser visto bebendo por beber, sem buscar alegria ou companhia. Não quero metades nem sobras. Não quero piedade nem gentilezas. Vá simplesmente. Não vire. Não volte.

Malabarismos


A vida lhe propôs vários desafios. Tudo junto, ao mesmo tempo, agora!


O Equilíbrio

Nada podia acontecer enquanto ela não alcançasse seu próprio equilíbrio. Um desafio e tanto. A vida havia lhe maltratado, como faz com todo mundo em algum momento e ela lutou com todas as suas forças pra superar todas as dores, uma de cada vez. Tornou-se uma sobrevivente. Teve que manter, ao mesmo tempo, todos os pratos girando no ar, sem deixar nenhum cair. Não foi fácil. Ainda não era.

Acordar de manhã pensando no dia cheio que vinha pela frente nunca deixa muito tempo para acordar como ela gosta. Espreguiçar-se, ficar mole na cama sentindo o dia nascer, pensar em tudo o que sente, dar bom dia – ainda que só em pensamento – pra quem lhe é importante. Tudo isso tinha que esperar novos dias. Tempos novos.

Desde que sua vida tomou o rumo que tomou as coisas ganharam outra velocidade. Acordar era sinal de compromisso. Estava sempre atrasada. Não tinha tempo para nada.

O insuportável barulho do despertador era um sinal para que, automaticamente, ela se levantasse, fosse até o quarto da filha avisar que já estava na hora e seguisse rumo a cozinha para fazer um café e misturar um leite com chocolate para a filha. Voltava com o leite para constatar que a filha ainda dormia. Nova chamada, desta vez com o copo na mão que era entregue com os conselhos de mãe – cuidado, não derrube, acorda filhota. O café de cafeteira revelava sua preguiça. Caneca cheia. No quarto a televisão precisava ser ligada para lhe fazer companhia. Levantou filhota? Banho. Tô quase pronta e você? Roupa. Filha, anda, olha a hora. Vamos!

Depois, carro até o colégio e de volta para casa. Tenho que descongelar o frango. Deixar os recados de sempre para a empregada. Pensar nas reuniões do dia. Lembrar de trocar a lâmpada. Pagar o lavador do carro. Sair correndo. Chegar no escritório. Ligar o computador. Pagar as contas Ouvir a lenga-lenga dos funcionários Telefonar. Atender telefonemas. Verificar o estoque. Falar com os fornecedores. Aceitar o convite de um almoço. Recusar o de um jantar. Tomar fôlego. Tomar café. Tomar água. Tomar uma atitude... era isso o que ela se dizia o tempo todo: - Preciso tomar uma atitude.

Nessa hora vinham os sonhos que ela não teve durante a noite. Morar em Nova York. Representar artistas brasileiros. Conhecer as galerias. Respirar cultura. Andar pelas ruas, fascinada com a cidade que pulsa. Não ter hora pra nada. Sorrir de tudo, todo o tempo.

E a realidade voltava sempre em forma de uma pergunta desnecessária ou do toque de um telefone. E a vida a levava sem que disso ela tirasse nenhum proveito.

O dia acabava com ela cansada. Exausta. Hora do sofá, para onde ela ia de camiseta e calcinha e com o cabelo despenteado. Era como a hora do recreio que embalaria seu fim de dia, diminuindo a velocidade das demandas. Buscava recarregar sua bateria de forças para começar tudo de novo no dia seguinte. Não tinha disposição para pensar em como mudar, mas sabia que precisava tomar uma atitude.

- A vida tá escondendo de mim os meus melhores anos, meus melhores momentos, o melhor de mim. Era o que pensava enquanto deixava o cansaço se transformar em sono...


As Dúvidas


A semana corre. Os dias se repetem. Nem os sábados escapam.

Surgem os convites para os programas mais diversos. Um amigo fala de uma degustação de vinhos. Uma amiga avisa que as “meninas” vão se encontrar no sábado. O namorado não sabe se vai ou não viajar. A filha pede pra que ela leve e busque numa social na Barra. O pai pergunta se ela esqueceu que tem pai. E ela pensa que precisa comprar lâmpadas e dar um jeito na torneira que não para de pingar há mais de um mês.

Ela se promete sair, ver gente, conhecer pessoas. Ficar em casa é bom para descansar durante a semana, mas ela sabe que precisa ver a vida para se sentir viva. Aceita os convites que parecem mais divertidos e os que ela pode ir a pé ou de scooter. Acredita que andar a pé lhe mostra a vida ao vivo. Pessoas que passam apressadas, rostos intrigados, casais abraçados, crianças teimosas e desobedientes, velhos que caminham sorrindo... Tudo preenche a vida dela de outras perspectivas e a convence de que ela pode ser o que quiser, basta escolher.

Mas não existem escolhas sem renúncias – ela mesmo postou isso no seu mural do Facebook.

- Preciso parar de fumar.

E acende um cigarro quando para e senta-se para tomar um chopp, sozinha, longe dos convites e perto da vida que acontece bem a sua frente. Tanta gente que passa e o mesmo sentimento de solidão. Olha para tudo e para todos, mas não repara em nada nem ninguém. Na sua cabeça passam cenas de um passado que a trouxe até aqui. Das escolhas que não fez. Das alegrias dos outros que a fizeram sorrir e acreditar que essas alegrias também eram dela. Era hora de mudanças. Ela sabia.

- Preciso de um cigarro.

E paga a conta e volta passa a passo a caminhar pelas ruas do Leblon. Espera o sinal abrir. Pensa em atravessar com ele fechado. Desiste. Escolhe encontrar as meninas, toma seu rumo em passos rápidos. A filha liga. Ela não havia esquecido a festa. Não, ela não podia usar aquele vestido. Desliga e ri. A filha preenche todos seus vazios. Emprestaria o vestido na segunda ligação.

No caminho, uma esquina do Leblon se mostra mágica. De um lado vários baldes repletos de flores. Flores do campo, lírios, palmas, gérberas e rosas. Pensa em comprar as flores do campo e logo se lembra que não estava indo para casa. Do outro lado um rapaz toca lindamente seu violino enchendo a rua de cores e sons. A música toma conta do caos e tira até mesmo um sorriso do guarda sisudo que apenas assiste a cena. Mas o que mais a surpreende é um realejo parado em frente a uma banca de jornal. A manivela faz a caixa de música repetir a mesma melodia dos seus tempos de infância e enche seu peito de saudades de quem ela já foi. Na gaiola aberta o louro impaciente espera pelo próximo cliente, pela gaveta da sorte aberta, pela recompensa de puxar um papel e depois selar o canto obedecendo seu dono.

- Moço, tire a sorte para mim!
- Quem tira a sorte não sou eu é o louro. Vamos louro, tire a sorte para a moça. Escolha uma sorte bem bonita... vamos louro...

E o papel fica dobrado na mão dela enquanto ela paga e agradece. Dentro, descobre caminhando e lendo, ao invés de uma frase feita, uma citação de Anais Nin: 

“Não vemos as coisas como elas são. Vemos como nós somos.”

- Preciso parar de fumar.

E acende o cigarro e segue até outro bar do Leblon onde as meninas vão repetir as histórias de sempre. Onde ela vai repetir a caipirinha de sempre. Onde o dia vai passar, como sempre, até que ela escolha mudar.

- Preciso de um cigarro.