quarta-feira, 8 de agosto de 2012

É de noite


Os desejos vão consumindo o lugar que deveria estar repleto de amor. Amor que não surge nunca na hora esperada. Amor que teima em se esconder pelas ruas em que passo sem se fazer notar. Não o vejo, não o reconheço e por isso sigo cheio de desejos, de fantasias, de quereres.

A vida teima em seguir um ritmo próprio. É uma tremenda falta de respeito. Converso com ela e tento explicar que não acredito no amanhã, que vivo apenas o hoje. Ela, calada, responde que isso é problema meu e manda avisar que só me trará o amor quando achar que eu estou pronto para vivê-lo. É mesmo absurda essa situação.

Indignado, converso com o menino poeta e sonhador que mora dentro de mim. Tento explicar que ele precisa ser paciente, que em breve a vida há de mostrar a pessoa certa e dou uma enrolada para ver se ele se acalma. Mas meninos tem pressa e o meu não é diferente. Ele quer logo conhecer o grande amor. Me diz que não há tempo a perder. Que cada dia sem ela é mais um dia vazio e diz que nenhum dia não pode passar em branco.

- Calma! Ela disse que na hora certa vai mandar a pessoa com quem vamos viver os melhores dias das nossas vidas. A vida sabe o que faz!

- Sabe? Sabe nada! A vida é uma tremenda gozadora. Vai nos apresentando pessoas disfarçadas de grandes amores e a gente vai acreditando que dessa vez é “a” pessoa, mas qual nada...nunca é. A vida brinca com meus sentimentos como se eu não os tivesse.

- Calma. Deixe o tempo correr. Seja paciente!

- Você não pode estar falando sério. Você sabe muito bem como a gente fica quando não tem ninguém ocupando o coração. Você conhece a agonia de não amar. Sabe como é ruim deitar-se de noite na cama sem pensar em ninguém. Você chega mesmo a lembrar de antigos amores, que não devem mais sequer lembrar seu nome, apenas para ter em quem pensar. Calma? Pra cima de mim???

E os conflitos internos vão se repetindo ante a falta do grande amor. O menino poeta não gosta de ficar esperando. Ele tem imenso medo de não reconhecer seu grande amor e de deixá-lo passar sem um beijo, sem uma loucura, sem lhe dar flores ou escrever tolos versos de amor. O menino poeta tem medo, mas segue sonhando.

...

É de noite. É sempre noite quando não se ama. O amor aparece como o sol que se levanta atrás das montanhas e que clareia devagar o horizonte revelando cores, formas e infinitas possibilidades que a noite esconde.

...

Os desejos aproveitam. Não cessam de aparecer. Surgem por todos os lados e confundem. Um sorriso basta para que eles apareçam. Um olhar é o suficiente para que eles ceguem. Um cheiro bom inebria e engana. Não foram poucas as vezes em que confundi desejos com amores. Não foram poucas as vezes em que tive que escutar amigos me dizendo que não posso ser como sou, que não posso me entregar sem ter certeza de que é mesmo amor. E não foram, nem serão, poucas as vezes em que teimei e que continuarei teimando na busca do grande amor.

Proibir a mim mesmo de viver e de tentar, não faz sentido. Diminuir o desejo, fingindo que não os sinto é pequeno, me faz pequeno. Penso que a vida não me daria tantos desejos se não tivesse escondido em um deles o grande amor. Só me resta buscá-lo.

7 comentários:

  1. Caríssimo, a noite pra quem ama também. E como! Mas me refiro à noite clara, do céu de estrelas, da lua cheia. Falo a noite cintilante que desperta os sonhos adormecidos, como num conto de fadas! Quente ou frio, noite ou dia, quando se ama pra valer todas essas variantes viram matizes interessantíssimas... e é justamente essa propriedade transformadora do amor que torna a sua busca ainda mais necessária. Quem procura, acha!!! Keep calm and don´t stop believing!

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    1. Coisas de um leonino sempre em busca do sol... mas é isso mesmo! bjs

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    2. É que sou notívaga, já deu pra perceber, né? rsrs Beijos!

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  2. Adorei! E vou torcer para que encontre seu grande amor. Porém, tenha paciência, e fique atento, as vezes aparece em locais que nunca pensaríamos de aparecer. Boa sorte amigo. Bjos Silvinha :)

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  3. Me amarrei nesse texto. Faço minhas, as suas poéticas frases - hehehe...
    Abraços.
    João Ricardo

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