sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Gêmeas


As duas irmãs nasceram no mesmo dia, da mesma mãe, do mesmo pai. Eram idênticas na aparência, na beleza, na educação. Eram duas, mas eram uma. Unidas na forma de ver o mundo, escolheram crescer juntas e compartilhar as dúvidas, as experiências, os sonhos e os pesadelos. Acreditavam que se permanecessem unidas poderiam aprender mais rápido sobre todas as coisas da vida, fossem elas boas ou ruins.

Fizeram, ainda meninas, um pacto. Não se encontrariam na noite e nem nos finais de semana. Onde uma estivesse a outra não apareceria. O fato de serem gêmeas e idênticas seria guardado para poucos. A condição era que uma contasse à outra tudo o que tivesse acontecido. E enquanto moraram juntas as noites só acabavam depois de uma longa sessão de confissões. Eram irmãs de verdade. Espelhavam uma na outra boa parte da vida que construíam.

O tempo passou...

Uma casou-se, teve filho, separou-se, casou-se novamente, teve filha, separou-se e seguiu. A outra viajou para longe, foi viver a vida em outro país. Conheceu e amou pessoas diferentes, experimentou, casou, teve filhos, separou-se, chorou, riu, bebeu, amou. E mesmo com o tempo e com a distância as duas permaneceram unidas. Falavam-se todos os dias pela internet e mantinham o hábito de contar tudo o que acontecera no dia, uma para a outra.

O poeta nunca soube disso.

Ele conheceu a menina com charme em um bar. Olhou com ternura e com a curiosidade que lhe fez poeta, mas ela não estava só. Havia um namorado. Resignado, o poeta não fez das suas. Evitou agir como poeta, negou-se o prazer de desenhar em atos o sentimento que lhe tomou e não se entregou para a menina com charme que lhe pareceu tão longe. Tornaram-se conhecidos e esbarravam-se vez por outra nas ruas, padarias e bares da cidade.

Um dia o poeta e a menina se encontraram no mundo virtual. Ela havia lido um pouco do tanto que ele escreve. Conversaram. Sorriram. Trocaram palavras inocentes e gostosas como jujuba. Mas ele não se permitiu acreditar e, em uma brincadeira no bate-papo perguntou se ela não teria por acaso uma irmã gêmea. Que fosse idêntica. Que fosse solteira. Ela riu e disfarçou a verdade. Ele riu e disfarçou a mentira.

As conversas continuaram. Ele não resistia à vontade de conhecê-la melhor e de entender a vida que a fez do jeito que a fez. Os dois amavam as músicas e se divertiam trocando letras e melodias. Mandavam recados velados e sorriam.

Pouco tempo passou...

- Estou voltando para o Brasil! Anunciou a irmã que morava longe.
- Quando? Perguntou a irmã de perto.

E foram horas online. A chegada seria breve. A mudança estava pronta. A saudade era imensa. O mundo mudara muito e ficar no Brasil parecia o melhor a fazer. As irmãs vibravam e comemoravam a nova fase de vida que começaria. A conversa não tinha fim, não tinha meio, não tinha nada. E na falta de rumo das palavras ela confessou:

- Preciso te apresentar uma pessoa.
- Não!!! Não quero conhecer ninguém agora. Estou cansada de me frustrar com os jogos vazios dos caras que só querem me exibir. Não tenho mais paciência para lidar com a insegurança, medo e infantilidade dos homens de hoje.
- Mas esse é diferente!
- Todos são diferentes. Acho que é isso o que me cansa. Se eu pudesse ter um pouco de cada um em um homem só, acho que seria mais feliz.
- Vem logo para o Brasil... enquanto isso vou mandar para você umas histórias, crônicas de todo dia... e vamos conversando com calma.

Ainda faltava um mês para ela chegar e todos os dias a irmã mandava um texto novo, uma foto, um comentário. A irmã de longe recebia incrédula. No início nem se interessava. Depois foi tomada pela curiosidade e começou a ler.

Dois dias antes da viagem a irmã de longe se viu curiosa com aquela situação e numa nova conversa disse:

- Esse cara parece mesmo diferente. Tenho gostado de ler o que ele escreve. Acho que ele é sincero demais, mas é envolvente. Escreve bem. Descreve bem. Acho que vou mesmo querer conhecê-lo quando chegar.
- Precisamos conversar sobre isso...
- Desistiu de me apresentar?
- Não. Sim. Quer dizer.... Acho que você não entendeu.
- O que?
- Saio com uma pessoa desde junho do ano passado, você sabe. Ele é ótimo, um cara bacana, carinhoso, companheiro, cúmplice, etc... mas esse cara mexeu comigo...

E a irmã riu e lembrou-se de todas as histórias de vida que as duas tiveram juntas. Ao invés de procurar problemas, rapidamente ofereceu a solução:

- Então me apresenta seu namorado e vá ser feliz!

E o poeta nunca soube dessa história.

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