As duas irmãs nasceram no mesmo dia, da mesma mãe, do mesmo
pai. Eram idênticas na aparência, na beleza, na educação. Eram duas, mas eram
uma. Unidas na forma de ver o mundo, escolheram crescer juntas e compartilhar
as dúvidas, as experiências, os sonhos e os pesadelos. Acreditavam que se
permanecessem unidas poderiam aprender mais rápido sobre todas as coisas da
vida, fossem elas boas ou ruins.
Fizeram, ainda meninas, um pacto. Não se encontrariam na
noite e nem nos finais de semana. Onde uma estivesse a outra não apareceria. O fato
de serem gêmeas e idênticas seria guardado para poucos. A condição era que uma
contasse à outra tudo o que tivesse acontecido. E enquanto moraram juntas as
noites só acabavam depois de uma longa sessão de confissões. Eram irmãs de
verdade. Espelhavam uma na outra boa parte da vida que construíam.
O tempo passou...
Uma casou-se, teve filho, separou-se, casou-se novamente, teve
filha, separou-se e seguiu. A outra viajou para longe, foi viver a vida em
outro país. Conheceu e amou pessoas diferentes, experimentou, casou, teve
filhos, separou-se, chorou, riu, bebeu, amou. E mesmo com o tempo e com a
distância as duas permaneceram unidas. Falavam-se todos os dias pela internet e
mantinham o hábito de contar tudo o que acontecera no dia, uma para a outra.
O poeta nunca soube disso.
Ele conheceu a menina com charme em um bar. Olhou com
ternura e com a curiosidade que lhe fez poeta, mas ela não estava só. Havia um
namorado. Resignado, o poeta não fez das suas. Evitou agir como poeta, negou-se
o prazer de desenhar em atos o sentimento que lhe tomou e não se entregou para
a menina com charme que lhe pareceu tão longe. Tornaram-se conhecidos e
esbarravam-se vez por outra nas ruas, padarias e bares da cidade.
Um dia o poeta e a menina se encontraram no mundo virtual. Ela
havia lido um pouco do tanto que ele escreve. Conversaram. Sorriram. Trocaram palavras
inocentes e gostosas como jujuba. Mas ele não se permitiu acreditar e, em uma
brincadeira no bate-papo perguntou se ela não teria por acaso uma irmã gêmea. Que
fosse idêntica. Que fosse solteira. Ela riu e disfarçou a verdade. Ele riu e
disfarçou a mentira.
As conversas continuaram. Ele não resistia à vontade de conhecê-la
melhor e de entender a vida que a fez do jeito que a fez. Os dois amavam as
músicas e se divertiam trocando letras e melodias. Mandavam recados velados e sorriam.
Pouco tempo passou...
- Estou voltando para o Brasil! Anunciou a irmã que morava
longe.
- Quando? Perguntou a irmã de perto.
E foram horas online. A chegada seria breve. A mudança
estava pronta. A saudade era imensa. O mundo mudara muito e ficar no Brasil
parecia o melhor a fazer. As irmãs vibravam e comemoravam a nova fase de vida
que começaria. A conversa não tinha fim, não tinha meio, não tinha nada. E na
falta de rumo das palavras ela confessou:
- Preciso te apresentar uma pessoa.
- Não!!! Não quero conhecer ninguém agora. Estou cansada de
me frustrar com os jogos vazios dos caras que só querem me exibir. Não tenho mais
paciência para lidar com a insegurança, medo e infantilidade dos homens de
hoje.
- Mas esse é diferente!
- Todos são diferentes. Acho que é isso o que me cansa. Se eu
pudesse ter um pouco de cada um em um homem só, acho que seria mais feliz.
- Vem logo para o Brasil... enquanto isso vou mandar para
você umas histórias, crônicas de todo dia... e vamos conversando com calma.
Ainda faltava um mês para ela chegar e todos os dias a irmã
mandava um texto novo, uma foto, um comentário. A irmã de longe recebia
incrédula. No início nem se interessava. Depois foi tomada pela curiosidade e
começou a ler.
Dois dias antes da viagem a irmã de longe se viu curiosa com
aquela situação e numa nova conversa disse:
- Esse cara parece mesmo diferente. Tenho gostado de ler o
que ele escreve. Acho que ele é sincero demais, mas é envolvente. Escreve bem. Descreve
bem. Acho que vou mesmo querer conhecê-lo quando chegar.
- Precisamos conversar sobre isso...
- Desistiu de me apresentar?
- Não. Sim. Quer dizer.... Acho que você não entendeu.
- O que?
- Saio com uma pessoa desde junho do ano passado, você sabe.
Ele é ótimo, um cara bacana, carinhoso, companheiro, cúmplice, etc... mas esse
cara mexeu comigo...
E a irmã riu e lembrou-se de todas as histórias de vida que
as duas tiveram juntas. Ao invés de procurar problemas, rapidamente ofereceu a
solução:
- Então me apresenta seu namorado e vá ser feliz!
E o poeta nunca soube dessa história.
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