Estavam ansiosos. Havia no ar uma sensação mágica. Os dois
sabiam que o outro estava prestes a entrar nas suas vidas. Não sabiam quando. Não
sabiam como. Mas sabiam que mexiam um com o outro de uma maneira rara.
Não tinham mais idade para acreditar em príncipes e
princesas. Já haviam desistido de buscar as pessoas perfeitas, idealizadas nos
sonhos de mocidade. Já haviam vivido amores e desamores. Mas não haviam vivido
aquilo.
O primeiro cruzar de olhos foi o bastante para acender a
vontade nos dois. Ele olhou seus olhos e viu uma mulher inteira, de verdade. Viu
muito mais do que ela quis mostrar. Ela olhou seu sorriso e sorriu também. Foi nesse
encontro que tudo começou.
Havia uma vida inteira para ser vivida ou para ser ignorada.
Havia um amor pra ser sentido ou esquecido e muitas descobertas pra serem
feitas ou abandonadas. Mesmo não acreditando mais em contos de fadas, os dois
se viram dentro de um romance de amores impossíveis e confusões desnecessárias.
Nenhum dos dois abriu mão de ser exatamente quem eram. O primeiro
encontro, não com surpresa, foi delicioso para os dois. Ele levou as flores que
ela tanto gosta. Ela falou sobre as coisas da vida. Celebraram juntos a arte do
encontro. Beberam sem exageros. Sentiram juntos o cheiro que seus corpos
exalavam e se deixaram levar pelo bem que um fazia ao outro.
O Beijo
Há sempre a dúvida no primeiro beijo. As bocas precisam se
encaixar. Os dentes não são convidados. O primeiro beijo começa manso. Os lábios
precisam ser cultuados. A respiração precisa ser sentida. Os olhos precisam
fechar devagar para que a viagem dos sentidos comece. Depois é a vez das mãos e
dos corpos que precisam se encontrar, se entregar. O primeiro beijo é feito de
descobertas, de gostos, de abraços, de carinhos. É ele quem avisa que o amor
existe. É ele quem fica guardado na lembrança.
O Cheiro
Antes de qualquer perfume, existe um cheiro que é de cada
um. É ele quem desperta no outro a vontade de estar perto. Ela tinha cheiro de
madeira. Não de madeira seca, mas de madeira fresca, molhada de orvalho, viva. Nos
primeiros abraços ele sentiu seu cheiro e quis continuar sentindo sempre. Seu cheiro
o excitava, tinha gosto de quero mais. Fechava os olhos com os braços enlaçados
nela e respirava fundo o ar dos seus sonhos. Era isso: ele conhecia aquele
cheiro dos seus sonhos de menino.
A Renúncia
A vida aprontou novamente. Para estarem juntos deveria haver
renuncia dos dois. Eles não sabiam que se encontrariam agora. Cada um havia
feito o necessário para viverem felizes, de bem com a vida. O tanto que viveram
antes pesava sobre o tanto que queriam viver depois.
Ele já não queria mais sonhar sonhos impossíveis. Não queria
mais o drama. Não queria amores doidos ou doídos. Queria estar ao lado de quem
estivesse ao seu lado também. Buscava a cumplicidade perdida. Queria construir
um sentimento e cuidar dele todos os dias.
Ela queria a liberdade. Queria o equilíbrio dela mesmo e
acreditava que já o havia encontrado. Sua vida estava do jeito que desejara. Tudo
seguia seu rumo como planejado. Podia ser menina novamente. E podia ser também
a mulher que sonhou ser porque experimentou todas as outras. Porque escolheu. Ela
nem pensava mais na importância real de outra pessoa em sua vida.
Mas o cheiro e o beijo e toda a mágica de todos os minutos que
tiveram juntos faziam complicadas as coisas mais simples. Ela precisava
escolher. E escolhas são renúncias. Ele não queria pouco. Os dois estavam
assustados.
O Desejo
O tempo corria. Os minutos se juntavam a outros minutos e
faziam as horas parecerem segundos. Cada abraço colado provocava sensações
novas. A imaginação ia longe. O desejo crescia. Ele sentia seu corpo encostar
nas curvas do corpo dela. Apertava com vontade. Queria estar junto. Queria estar
dentro. O prazer ganhava volúpia em beijos de cinema oferecidos em sessão
aberta a quem passasse na rua. Nenhum dos dois queria se controlar. Nenhum dos
dois queria terminar nenhum dos beijos.
E cada novo abraço trazia mais do que tesão. Trazia o desejo
intenso de estarem juntos. E também nisso havia mágica. Se fosse apenas pelo sexo
tudo não seria nem metade.
A Escolha
Estava pronto para renunciar ao que fosse menos do que o
máximo que ele pudesse sentir. Não queria nem metades nem sobras. Queria viver.
Acreditava na vida feita de momentos únicos, celebrados, intensos,
inesquecíveis. Não acreditava em príncipes ou princesas, mas acreditava em
fazer da sua vida a melhor vida que ele pudesse ter. Qualquer coisa a menos era
nada.
Ela estava confusa. Tinha chegado onde queria ter chegado. Sabia
que ele poderia lhe tirar da zona de conforto que construíra. Sabia que ele reescreveria
com ela as próximas páginas da sua vida. Escolher estar com ele era renunciar aos
planos traçados pelas marcas que a vida lhe deixara.
Boa Noite
Ele sabia que não podia escolher por ela. Podia sim, entrar
na sua vida pelo beijo, pelo cheiro e pelo desejo. Podia ter lhe marcado com
uma noite de amor e carinho, de tesão e entrega, de sonho sem sono. Mas ele sabia
que se fosse menos não seria nada e por isso resolveu ir embora.
Despediram-se com beijos apaixonados. Com abraços
desesperados. Com toques e carinhos exagerados. Queria deixar dentro dela a
saudade que ele já sentia. Ela suspirou.
Despediram-se com um boa noite!
Nenhum comentário:
Postar um comentário