terça-feira, 14 de agosto de 2012

Qualquer Coisa a Menos é Nada


Estavam ansiosos. Havia no ar uma sensação mágica. Os dois sabiam que o outro estava prestes a entrar nas suas vidas. Não sabiam quando. Não sabiam como. Mas sabiam que mexiam um com o outro de uma maneira rara.

Não tinham mais idade para acreditar em príncipes e princesas. Já haviam desistido de buscar as pessoas perfeitas, idealizadas nos sonhos de mocidade. Já haviam vivido amores e desamores. Mas não haviam vivido aquilo.

O primeiro cruzar de olhos foi o bastante para acender a vontade nos dois. Ele olhou seus olhos e viu uma mulher inteira, de verdade. Viu muito mais do que ela quis mostrar. Ela olhou seu sorriso e sorriu também. Foi nesse encontro que tudo começou.

Havia uma vida inteira para ser vivida ou para ser ignorada. Havia um amor pra ser sentido ou esquecido e muitas descobertas pra serem feitas ou abandonadas. Mesmo não acreditando mais em contos de fadas, os dois se viram dentro de um romance de amores impossíveis e confusões desnecessárias.

Nenhum dos dois abriu mão de ser exatamente quem eram. O primeiro encontro, não com surpresa, foi delicioso para os dois. Ele levou as flores que ela tanto gosta. Ela falou sobre as coisas da vida. Celebraram juntos a arte do encontro. Beberam sem exageros. Sentiram juntos o cheiro que seus corpos exalavam e se deixaram levar pelo bem que um fazia ao outro.

O Beijo

Há sempre a dúvida no primeiro beijo. As bocas precisam se encaixar. Os dentes não são convidados. O primeiro beijo começa manso. Os lábios precisam ser cultuados. A respiração precisa ser sentida. Os olhos precisam fechar devagar para que a viagem dos sentidos comece. Depois é a vez das mãos e dos corpos que precisam se encontrar, se entregar. O primeiro beijo é feito de descobertas, de gostos, de abraços, de carinhos. É ele quem avisa que o amor existe. É ele quem fica guardado na lembrança.

O Cheiro

Antes de qualquer perfume, existe um cheiro que é de cada um. É ele quem desperta no outro a vontade de estar perto. Ela tinha cheiro de madeira. Não de madeira seca, mas de madeira fresca, molhada de orvalho, viva. Nos primeiros abraços ele sentiu seu cheiro e quis continuar sentindo sempre. Seu cheiro o excitava, tinha gosto de quero mais. Fechava os olhos com os braços enlaçados nela e respirava fundo o ar dos seus sonhos. Era isso: ele conhecia aquele cheiro dos seus sonhos de menino.

A Renúncia

A vida aprontou novamente. Para estarem juntos deveria haver renuncia dos dois. Eles não sabiam que se encontrariam agora. Cada um havia feito o necessário para viverem felizes, de bem com a vida. O tanto que viveram antes pesava sobre o tanto que queriam viver depois.

Ele já não queria mais sonhar sonhos impossíveis. Não queria mais o drama. Não queria amores doidos ou doídos. Queria estar ao lado de quem estivesse ao seu lado também. Buscava a cumplicidade perdida. Queria construir um sentimento e cuidar dele todos os dias.

Ela queria a liberdade. Queria o equilíbrio dela mesmo e acreditava que já o havia encontrado. Sua vida estava do jeito que desejara. Tudo seguia seu rumo como planejado. Podia ser menina novamente. E podia ser também a mulher que sonhou ser porque experimentou todas as outras. Porque escolheu. Ela nem pensava mais na importância real de outra pessoa em sua vida.

Mas o cheiro e o beijo e toda a mágica de todos os minutos que tiveram juntos faziam complicadas as coisas mais simples. Ela precisava escolher. E escolhas são renúncias. Ele não queria pouco. Os dois estavam assustados.

O Desejo

O tempo corria. Os minutos se juntavam a outros minutos e faziam as horas parecerem segundos. Cada abraço colado provocava sensações novas. A imaginação ia longe. O desejo crescia. Ele sentia seu corpo encostar nas curvas do corpo dela. Apertava com vontade. Queria estar junto. Queria estar dentro. O prazer ganhava volúpia em beijos de cinema oferecidos em sessão aberta a quem passasse na rua. Nenhum dos dois queria se controlar. Nenhum dos dois queria terminar nenhum dos beijos.

E cada novo abraço trazia mais do que tesão. Trazia o desejo intenso de estarem juntos. E também nisso havia mágica. Se fosse apenas pelo sexo tudo não seria nem metade.

A Escolha

Estava pronto para renunciar ao que fosse menos do que o máximo que ele pudesse sentir. Não queria nem metades nem sobras. Queria viver. Acreditava na vida feita de momentos únicos, celebrados, intensos, inesquecíveis. Não acreditava em príncipes ou princesas, mas acreditava em fazer da sua vida a melhor vida que ele pudesse ter. Qualquer coisa a menos era nada.

Ela estava confusa. Tinha chegado onde queria ter chegado. Sabia que ele poderia lhe tirar da zona de conforto que construíra. Sabia que ele reescreveria com ela as próximas páginas da sua vida. Escolher estar com ele era renunciar aos planos traçados pelas marcas que a vida lhe deixara.

Boa Noite

Ele sabia que não podia escolher por ela. Podia sim, entrar na sua vida pelo beijo, pelo cheiro e pelo desejo. Podia ter lhe marcado com uma noite de amor e carinho, de tesão e entrega, de sonho sem sono. Mas ele sabia que se fosse menos não seria nada e por isso resolveu ir embora.

Despediram-se com beijos apaixonados. Com abraços desesperados. Com toques e carinhos exagerados. Queria deixar dentro dela a saudade que ele já sentia. Ela suspirou.

Despediram-se com um boa noite!

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