quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Apenas Começando


O poeta parou um dia para pensar na vida que escolhera para si. As aventuras e desventuras amorosas dos últimos tempos mexeram com ele. Se por um lado compreender o que acontecia lhe fazia bem e lhe dava segurança de estar indo pelo caminho certo, por outro estava cansado de repetir um padrão de comportamento que não lhe levava de fato a lugar algum.

Pela sua cabeça passaram as cenas do passado, próximo ou distante. Lembrou-se com do que lhe fez bem em cada menina: um sorriso, uma palavra, uma atitude, um carinho, um beijo, um sonho, uma noite... se deu conta de que teve um pouco de cada coisa que mais desejava em cada uma das meninas que passaram. Riu quando imaginou juntar todas elas para agradecer.

E enquanto pensava percebeu que a menina que ele chamou de menina de charme ganhava espaço em sua vida. Ocupava vazios de forma plena. Participava da sua vida de corpo inteiro, sem censuras, sem metades, sem mentiras. Os dois juntos compartilhavam tudo de forma intensa. Falavam de seus medos sem medo. Discutiam suas angústias sem angústia. Entregavam-se com uma entrega plena.

Ele já conhecia as brincadeiras do seu coração. Sabia bem que o amor projetado poderia ser do tamanho que quisesse, mas se não fosse amor de verdade seria apenas mais uma história, entre tantas. Nem por isso deixou de acreditar, de viver e de sentir.

À noite, juntos em um sofá, conversando e contando a vida e tudo o que ela já aprontou para os dois, ele se pegava olhando para ela. Não havia um sorriso igual ao outro. Não havia uma expressão igual a outra. Ele sempre se surpreendia. Via nela muito de muitas pessoas que lhe foram importantes e via mais: via uma mulher capaz de lhe equilibrar da forma que ele tanto queria ser equilibrado e ao mesmo tempo, uma mulher em busca de equilíbrio. Via-se pronto para tentar ajudar.

As coisas aconteciam no seu tempo, do seu jeito e ganhavam força. Os defeitos de ambos não passavam despercebidos, mas nenhum dos dois fazia deles a desculpa ideal para manter distância e evitar o amor. O sentimento bom era maior. A sensação gostosa de aconchego era mais importante. A atenção que um dava ao outro, todo o tempo, era oxigênio puro para os dois. E a história que começou narrada, pressentida e desejada ia ganhando contornos épicos.

Ele pensava: - desta vez é diferente. E lembrava-se das tantas outras vezes em que já havia pensado e dito o mesmo. E ria. Era mesmo diferente? Era mesmo diferente! Havia encaixe e compromisso em tudo o que faziam juntos. Havia uma vontade grande de fazer dar certo. Havia compreensão e apoio. Havia cumplicidade.

Uma noite ele disse: - Sempre que eu puder, vou tentar mostrar outras formas de resolver problemas que evitem conflitos e confrontos. Mas quando você estiver brigando suas brigas, mesmo que você esteja errada, vou estar do seu lado, apoiando e lutando sua luta.

A consciência da escolha madura de estar com ela implicava em todos os mesmos riscos que as escolhas infantis traziam. Não bastava querer dar certo, era fundamental viver cada minuto de forma dedicada. 

Os medos dele vieram à tona antes do momento que costumavam aparecer nas suas relações, mas dessa vez ele escolheu enfrentar. Ele sabia que os fantasmas poderiam estar por perto, mas aprendeu que eram só fantasmas – inofensivos, pequenos, tolos e vazios. Os sustos que as assombrações costumavam dar deram lugar ao riso largo de se descobrir maior ao lado dela.

Suas histórias serviam para lembrar o caminho que ele teve que seguir para chegar até aqui. Ele as guardaria com carinho e voltaria para reler caso houvesse motivo. Suas incompetências emocionais se provaram competentes quando vistas ao mesmo tempo, da mesma forma e de onde estava.

O poeta não deixaria de ser poeta, mas deixaria de escrever as curtas histórias de amor porque sabia que eram curtas e que não eram amor. E seguiria acreditando que dessa vez tudo seria realmente diferente.

Encerrado um ciclo na sua vida, sentia-se pronto para começar outro ainda maior, mais forte e mais importante. E não estaria mais sozinho no seu caminho.

A história do poeta está apenas começando.



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