O sorriso encanta
O olhar fascina
Ouço mais dos seus olhos
Do que da sua boca.
O jeito seduz
As formas perfeitas mexem
E sigo olhando e querendo
Conhecer e descobrir
Viver e construir
Sonhar.
Fico por perto querendo mais
Mas não vou jogar
Vou oferecer meu amor
Mas não vou entregar
O amor que tenho em mim
Não é meu e não é seu
O amor que tenho em mim
É usado.
Quero falar de um amor novo
Quero falar de um amor nosso
Das delícias e das dores de amar demais que o Poeta logo
conheceu ficaram a certeza de que o melhor ainda estava por vir. Ele havia
construído castelos, mas a onda levou. Ele havia desenhado em guache, mas o
papel molhou. Ele havia escrito lindas histórias de amor que não foram lidas
nem vividas.
Cansado, o Poeta desejou ir além.
Sua natureza de menino e de poeta fazia dos seus sonhos
horizontes. Lindos. Desenhados com contornos. Emoldurados com cores. Perfumados.
Mas o sonho só existe quando é lembrado e para lembrar é
preciso acordar. Viver de sonhos consome. Há uma eterna e inútil busca nos
poetas que vivem deles.
O Poeta não queria mais viver assim e tampouco deixar de ser
poeta. E confuso com o tanto que sentia e com o tanto que queria sentir, o
poeta adormeceu e sonhou novamente.
- Você demorou. Achei que não vinha mais!
- Desculpe, mas nos conhecemos?
- Muito... venha... E puxou o poeta pela mão por um campo de
um verde intenso pontuado com flores de todas as cores. Montanhas com contornos
de mulher serviam de pano de fundo para aquela paisagem. E o Poeta, encantado,
seguia sem saber para onde ia.
- Quer dizer que você não quer mais viver isso tudo?
- Você fala do sonho?
- Sim... de sonhos como esse que trazem você para os lugares
mais lindos e que oferecem as pessoas mais especiais e que lhe trazem sensações
e sentimentos únicos.
- Mas nada disso existe de verdade. Os lugares são lindos porque
é a minha imaginação que os cria. As pessoas são especiais porque fui eu quem as
escolheu e resolvi fazê-las personagens. Os sentimentos e sensações são frutos
do que eu gostaria de viver, mas são só meus.
- E se não for?
- Como assim? Não entendo!
- Se eu lhe disser que todas as pessoas do mundo sonham. Se eu
lhe contar que os sonhos de todas as pessoas se encontram. Se eu lhe mostrar
que os lugares lindos que você acha que criou foram na verdade criados por
muitos que, como você, escolheram os campos de verde intenso pontuados com
flores de todas as cores. Se lhe disser que as pessoas especiais só são
especiais porque sonham também e porque fizeram de você uma personagem dos
sonhos delas. Se com isso tudo você mesmo concluir que os sentimentos e
sensações só existem por serem compartilhados...
- Você está tentando me dizer que tudo isso aqui é real?
- Estou apenas mostrando. Os sonhos vão existir sempre. Sua escolha
não é parar de sonhar porque você não poderia evitar os sonhos. A escolha que o
aflige é parar de lembrar, de acreditar. E pra que?
- Para encontrar uma pessoa que não evapore nos primeiros
erros. Para conseguir me entregar inteiro. Para me preparar para receber a
mulher que quero por inteiro também: com qualidades e defeitos, com erros e
acertos, com generosidades e egoísmos, com coragem e com medos. Para que eu não
faça das pessoas fantasias.
- Mas o caminho não é esse...
- Então me diga: por onde sigo? Qual o caminho?
E ele riu do poeta, menino. E disse apenas:
- Sonhe acordado!
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