A vontade de fazer certo muitas vezes me levou ao erro. É assim,
a gente se empolga, fecha os olhos pra tudo o que não quer ver e se apega a
tudo o que interessa a nossa própria alma. Uma pessoa pode parecer a pessoa
certa pro resto da vida e não durar num relacionamento nem um mês. Acontece.
Hoje, ando bem feliz, entregue a uma relação que me faz bem.
Não sou cego aos defeitos, mas não faço deles um problema insolúvel. Não
acredito em pessoas perfeitas, além do que elas devem ser muito chatas. Mas nem
sempre foi assim e, honestamente, hoje ando preferindo falar do passado
incompetente que me trouxe até o blog.
Uma vez cheguei tarde ao Real Astória, meu lugar preferido
durante os meus anos preferidos. Já tinha um grupo lá, numa mesa grande e a
bagunça corria solta. Na mesa, uma linda mulher me chamou a atenção. Ela era
linda, delicada, traços finos e um jeito de menina. Não demorei a perguntar
quem era e a descobrir que era amiga da amiga da amiga.
Eu estava do lado de fora, perto da mesa e não conseguia
tirar os olhos da paixão daquela noite. Era hipnótico. Conversava com um e com
outro, mas sempre em uma posição de onde eu pudesse vê-la. Três chopps depois
eu não aguentei. Pulei a mureta baixa que separava a calçada da varanda e fui
sentar ao lado da moça. Apresentei-me, descobri seu nome e segui a conversa.
A menina não era tão menina assim. Tinha feito suas escolhas.
Era engenheira química e já tinha chegado a uma posição bacana para a sua
idade. Quanto mais eu ouvia, mais eu gostava. Fiquei completamente cego de
paixão. Rabisquei versos de guardanapo. Sorri meu melhor sorriso. Elogiei. Mostrei
a lua e logo o clima estava pronto para transformar aquele encontro em uma
coisa especial.
No meio da nossa conversa ela me disse que morava longe,
muito longe. Em Vila da Penha, um bairro do subúrbio carioca que eu não
conhecia. Não me importei em nada, nunca tive preconceitos ou julguei ninguém
por onde mora ou pelo que veste. Achei ainda mais curioso e isso não impediu
que a paixão crescesse. Umas duas ou três horas depois eu já estava entregue. Se
me perguntassem o que eu sentia poderia descrever a paixão em detalhes, mas
ninguém perguntou e eu não perderia tempo com isso.
Logo, o clima transformou-se em um beijo apaixonado e eu flutuei
nos ares boêmios do Real Astória. A paixão havia nascido e eu estava pronto
para vivê-la. Ficamos juntos, abraçados, acarinhados, felizes e sorridentes até
o final da noite quando me dispus a levá-la para a casa da amiga onde ela
dormiria aquela noite. Beijos e mais beijos selaram aquele encontro.
Marcamos um novo encontro. Eu a pegaria em sua casa, na Vila
da Penha. Ela me deu as indicações e eu rezei para não me perder muito. Não havia
celular naquela época. Errar seria perder o encontro e possivelmente a menina.
Concentrado, fui seguindo o passo-a-passo que ela havia ditado. Depois de muito
andar cheguei, finalmente. Tivemos uma noite linda, éramos parecidos em muitas
coisas e não foi difícil perceber isso. Mas éramos diametralmente (adoro essa
palavra) opostos em outras tantas. Mas a noite foi ótima, com gostinho de quero
mais.
Um ou dois dias depois fui encontrá-la em um happy-hour com
seus amigos na Urca. Foi tudo ótimo. Na saída seguinte ela me deu de presente o
livro do Richard Bach, Longe é um Lugar que não Existe. Eu ri e muito. Não havia
preconceitos. Mas havia sim uma imensa distância de vida, de expectativas e de
valores que nos separavam conforme falávamos. E já nesse encontro o que parecia
tão certo começou a parecer bem errado. E o namoro não foi muito além.
Por conta de ímpetos e situações assim, meus amigos preferiam
me classificar como um sedutor, um galinha, etc. Sempre detestei esses títulos.
Acho que um galinha é o cara que fica por ficar, que beija por beijar que
transa por transar. Nunca fui isso, nunca quis isso. Mas a imagem dos outros
sobre nós mesmos é feita de percepções e não de realidade.
Durante muito tempo lutei contra essa pecha. Conversava,
falava, explicava, fazia de tudo para mudar o que os outros pensassem sobre
mim. Nada adiantou. Aí pensei comigo: - Pra que tentar mudar o que os outros
pensam? Pra que tentar mudar o que sou se eu gosto de ser como sou? E desisti
disso. Quer me chamar de galinha? Chama! Quer duvidar das minhas escolhas? Duvide!
Quer me julgar? Julgue!
O fato é que sou amigo de (quase) todas as mulheres que
passaram na minha vida e nunca me furtei de viver e de sentir as coisas que
vivi e que senti. A intensidade faz parte de mim. Não fosse ela não estaria com
o sorriso aberto nos lábios hoje, mas isso é outra história e não é para esse
blog.
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