quinta-feira, 31 de maio de 2012

Meu Primeiro Beijo

Eu tinha treze anos de idade e a vida estava só começando a mudar para mim. Fim dos bons tempos do primário no Colégio Santo Inácio eu ingressava no ginasial e minha forma de ver a vida mudava junto com ela. Lembro-me, ainda menino, que muitas e muitas vezes sentei a beira do imenso campo de areia do colégio para comer meu lanche e ver as crianças correrem de um lado para o outro, sem destino e sem razão para isso. Eu? Quieto no meu canto pensava sobre aquilo e já não entendia bem. Buscava razões onde elas não estavam e comia meu lanche sozinho.

Nesse tempo as descobertas eram mais frequentes. Todos os dias havia algo de novo. Um dia foi o rádio que um amigo me perguntou se eu não ouvia e, por conta disso, comecei a ouvir e nunca mais parei. Outro dia era a poesia que encontrei entre os incontáveis livros de meu pai e a quem dediquei muitos dos meus esforços em mal escritas linhas. Era um tempo novo. Lembro que a cada dúvida que eu levantava com meu pai na mesa de jantar ele respondia com o número do "tomo" do Novo Tesouro da Juventude e da página aonde eu encontraria minha resposta. Ele estava invariavelmente certo. E eu lia e voltava para conversar sobre o que havia lido. E assim ele me ensinava a buscar respostas ao invés de apenas formular perguntas.

As questões e curiosidades sexuais e amorosas eram departamento da minha mãe. Uma libertária de nascença que falava de qualquer coisa sem criar mentiras ou falsear explicações. Ela era clara, direta e dedicada a nossa formação emocional. Acho que havia nela um certo medo de que nos transformássemos pessoas mais duras do que o mundo precisa. Ela nos amolecia falando de sonhos, de romantismo, de entrega, do que quer que houvesse para ser dito e nós, eu e meu irmão, aprendíamos a imaginar. Cada palavra dela era interpretada de formas completamente diferentes por mim e por ele, mas ambos ganhamos muito com isso.

Minhas experiências emocionais até então se resumiam a uns namoros infantis com minhas primas ou com as filhas das amigas de minha mãe que nunca chegaram ao ápice do beijo tão sonhado. Esses namoros infantis eram temperados com olhares furtivos, leves toques nas mãos, atenções e pequenos gestos capazes de ganhar a dimensão que minha imaginação quisesse dar. Uma flor roubada de um jardim e ofertada a uma namorada da infância equivaleria a um diamante comprado para simbolizar um amor de hoje. Fico com a flor.

Nessa fase da vida meu primo era meu herói. Um ano a mais do que eu e várias namoradas e experiências para contar. Ouvia atento, mesmo que duvidando de grande parte, e levava aquelas experiências para o plano do inimaginável. Sonhava com meu primeiro beijo todas as noites. Esse mesmo primo tinha uma fazenda no interior de São Paulo, entre Lorena e Guaratinguetá e era para lá que íamos passar parte das longas férias de verão. Não havia nada melhor do que um carnaval no interior de São Paulo... outros tempos, bons tempos.

Neste ano, meu primo contava histórias de seus namoros e eu seguia atento e decidido a encontrar um amor adolescente. Uma das meninas sobre as quais ele falava estava em uma festinha que fomos na cidade. Era linda, ou pelo menos me parecia linda. Ele me dizia que já tinha namorado a moça e eu duvidava. Ela era desenvolta, solta, livre e radiante. Não conseguia parar de olhar mas não tive chance de me aproximar. As pessoas daquela dia estariam novamente juntas no baile do dia seguinte e eu tremia esperando pelo que poderia acontecer naquela noite.

Fantasiados de improviso fomos ao clube com meu querido tio que ficou a noite inteira dormindo no carro enquanto nos divertíamos. E como nos divertimos. Gente bonita, brincadeiras despretensiosas, música, animação e ela, a menina dos meus sonhos passeando pelo salão. Fui em busca de um momento só meu com ela. Tremia inteiro por dentro e o medo de ser rejeitado me consumia. A todo o momento eu negociava comigo mesmo. De um lado dizia: - Cuidado! Você pode ouvir um não! E do outro lado eu mesmo respondia: - E o que é um não frente a perspectiva de um sim?

Já tarde da noite convidei a moça para sairmos um pouco e olhar o céu do lado de fora. Sentamos na grama e contamos estrelas que se juntavam e que iluminavam o ambiente. A música ao fundo contaminava o cenário de alegria e conversamos um pouco. Eu queria saber mais sobre ela mas mal escutava o que ela dizia porque meus olhos não paravam de tentar entrar dentro dos olhos dela e quando paravam era para olhar sua linda boca se mexendo e me enlouquecendo de vontade. Desse momento para o primeiro beijo da minha vida foi um passo. Um pequeno passo para o homem que eu ainda não era, mas um imenso passo para a minha humanidade.

Seu nome era Monica, seu sabor inesquecível. Nunca mais a vi ou soube dela, mas nunca esqueci a sorte de ter começado dessa forma. E foi assim que nasceu mais um incompetente emocional no mundo.

Cedo??? Agora é tarde...

Lá no início do blog eu postei a música Tu Es Ma Came, explicando que essa era uma música me machucava e doía a cada vez que eu a escutava. Mas os dias e os posts vão passando e hoje ela não me dói mais. Parece doido, mas é até simples.

A viagem me fez entender o que eu estava fazendo comigo mesmo. E foi assim que percebi que depois de sair de um casamente de 15 anos que me deu muitas coisas boas (principalmente minha filha como presente maior) e acabei entrando em um relacionamento onde escolhi colocar todas as minhas fantasias guardadas por tanto tempo.

O terreno era fértil para isso. A mulher que escolhi para ser minha namorada pós-casamento também é do ramo da fantasia. Com ela as loucuras pareciam mais divertidas e todas elas faziam sentido. Podíamos mergulhar num precipício sem perder o riso largo na boca só por compartilharmos o mesmo nível de loucura. Dormíamos juntos e ao acordar podíamos comentar um o sonho do outro. Criamos uma cumplicidade que parecia muito com amor, mas não era. Era vício mesmo.

Depositamos um no outro todas as fantasias e expectativas emocionais, sem nenhuma restrição. Nos permitimos esperar do outro a compreensão total de tudo. Acreditamos que juntos éramos maiores, mais fortes e mais sãos. E eu me entreguei de olhos fechados, sem medir consequências àquilo que me parecia ser o último dos meus relacionamentos nessa vida.

Mas essa mesma vida segue seu rumo e não dá pra viver só de fantasia. À medida que o tempo passou e que encaramos a realidade do cotidiano percebemos também as nossas diferenças e começamos a frustrar um a expectativa do outro e foi assim o início do fim.

As discussões e desencontros tiveram um imenso impacto nos dois. De um lado, minha busca pelo acerto e pelos acordos que pudessem transformar um momento ruim em um aprendizado para os bons momentos que deveriam vir depois. Do outro lado, mágoa pelas frustrações que se traduzia em distância e em medo. Como resultado, fomos cada um pra uma direção diferente. Era o início do fim.

Mesmo assim o vício continuava presente. Eu viciado nos momentos que tive ao lado dela e ela viciada sei lá em que, mas louca pra se curar e canalizando todas as frustrações do momento que vivia na nossa relação. Virei uma espécie de bode expiatório do seu momento, da sua vida.

E, depois, na busca da minha cura encontrei pessoas maravilhosas e cometi o meu pecado maior: depositei em cada uma delas as mesmas fantasias que não haviam funcionado antes. Era como se eu simplesmente estivesse trocando a pessoa e tentando manter (ou resgatar) os sentimentos que tive com ela. Não podia dar certo e eu não entendia porque não dava certo.

Ontem, ouvindo o show do Wagner Moura com a Legião Urbana prestei mais atenção do que nunca na letra da música Ainda é Cedo.

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei Era quase escravidão Mas ela me tratava como um rei Ela fazia muitos planos Eu só queria estar ali Sempre ao lado dela Eu não tinha aonde ir Mas, egoísta que eu sou, Me esqueci de ajudar A ela como ela me ajudou E não quis me separar Ela também estava perdida E por isso se agarrava a mim também E eu me agarrava a ela Porque eu não tinha mais ninguém E eu dizia: - Ainda é cedo cedo, cedo, cedo, cedo.
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo.
Aí eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.
cedo, cedo, cedo, cedo.



Sei que ela terminou

O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo.
Aí eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.

...

Foi mais ou menos assim. A única grande diferença é que não foi tão cedo assim e nem ela me ensinou quase tudo o que eu sei.

E segue o baile...


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Escolhas

Tava pensando ontem a noite e hoje de manhã cedo na dificuldade que as pessoas tem de se permitir.

Você conversa com uma pessoa e depois com outra e depois mais uma e percebe que as pessoas não se permitem viver como elas realmente gostariam. Ontem mesmo uma amiga me disse que o psicólogo dela comentou que ela estava muito radical e que precisava ser mais flexível para lidar com o mundo porque ele não aguenta tanta honestidade e transparência. Hein?????

Ir a um psicólogo pro cara me dizer que eu tenho que aceitar as todas as regras, baixar a cabeça e seguir em frente do jeito que der??? Eu mudava de médico na hora. Não que eu não respeite as regras, é claro que respeito, mas muito mais importante do que as regras é a minha capacidade de escolher como eu quero viver. Nisso ninguém mete a mão. Eu não sou nenhum idiota pra ficar chutando o saco das pessoas que passam na minha frente, mas também não sou um cordeirinho pra achar que tá tudo certo e que o mundo vai me levar pra onde eu tenho que ir.

Descobri em mim duas coisas essenciais. Uma é a capacidade de me permitir ser e fazer as coisas que eu acredito e a outra é a capacidade de me emocionar com as coisas mais simples da vida.

Me permitir ser e fazer o que eu acredito implica em buscar na minha história e na minha bagagem a base das minhas escolhas. Se eu escolho sair com uma pessoa e não com a outra ou fazer de um jeito ao invés do outro é porque naquele momento acredito que vai ser melhor assim. Respeito meus instintos e os sigo. E normalmente eles funcionam muito bem. Mesmo profissionalmente, por mais complicado que esteja um trabalho ou um momento profissional eu preciso me permitir fazer o que eu acredito ou aquilo não vai funcionar.

Acho até que nos últimos tempos andei muito acuado pelas situações da vida e segui muito mais o que ouvi dos outros do que o que eu realmente acredito. E isso quase nunca dá certo. Aprendi a me respeitar mais e a acreditar mais em mim mesmo e isso resulta num caminho que me faz mais feliz. Não é arrogância nem prepotência mas segurança. Eu hoje me permito escolher com base no que eu sou sem esperar nenhum sinal divino pra isso.

E é a capacidade de me emocionar que me faz ser quem eu sou.

Depois de uma viagem de quinze dias, sem ter que negociar nada com ninguém, você descobre que todas as suas escolhas foram emocionais. Escolhi parar nas praias mais bonitas porque o mar me emociona. Escolhi levantar cedo para aplaudir o nascer do sol por que isso me emociona. Escolhi repetir um passeio de barco com um homem simples contando as suas histórias de vida porque isso me emociona.Eu sempre escolho o caminho da emoção.

Talvez seja isso que me faz tão intenso. A necessidade de me emocionar e a certeza de que a emoção não está  fora de mim, pelo contrário: a emoção sai de dentro pra fora e se manifesta com base no que eu consegui ser até aqui e isso tem a ver com minhas escolhas.

Vejo um monte de gente lidando com a vida de forma objetiva e direta, quase cínica. São pessoas que vivem a vida como se estivessem disputando uma partida de xadrez, sempre competindo e sempre necessitando ganhar e derrotar o outro para alimentar seus próprios egos. Pra que? O que é que isso pode trazer de bacana na vida? Pessoas assim educam seus filhos para vencer na vida e não para viver a vida. Educam para que eles possam ter coisas ao invés de ser. E o mundo não é feito de quem tem ou deixa de ter, pelo menos não quando se pensa no que realmente faz diferença na vida.

Não acredito mais nas escolhas de ocasião. Escolhas precisam ser resultado daquilo que você é porque são elas que vão transformar você naquilo que você quer ser.

Acho que estou num momento de escolher aliás, acho que todo mudo está.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Vira-Latas

Sempre gostei de vira-latas. São meus preferidos por muitas razões mas, principalmente, porque eles são a minha cara. É sério! Pensa bem: quando estão pela rua sempre buscam os lugares mais animados e vão chegando devagarinho, fazendo amizades, seduzindo e conquistando até ganhar um pouquinho de atenção ou quem sabe até um carinhozinho... Quando alguém os recolhe, eles assumem a nova casa como verdadeiros cães policiais. Tomam mais conta do que qualquer pastor alemão e sempre dão os sinais certos nas horas certas.

De resto, qualquer prazer os diverte. Pode ser uma criança passando por perto que ele abana o rabo. Pode ser um velhinho, que ele senta ao lado pra ouvir histórias. Pode ser uma roda de amigas da nova dona, que ele fica por perto cochilando mas não deixando ninguém perceber que ele está aproveitando o tempo livre pra sonhar.

Um dia, uns amigos queridos, me convidaram para almoçar num restaurante em Vargem Grande... longe pra caramba, mas era de um amigo boa gente deles. Comemorava-se o aniversário de alguém e lá fui eu e minha tropa, cruzando a cidade da Barra da Tijuca, passando pelo Recreio e chegando pertinho do fim do mundo...lá onde o vento realmente faz a curva. O tal restaurante era como uma casa de veraneio, com direito a piscina, varandas, muito verde e coisa e tal. Fomos eu, minha ex-mulher e minha filha, além dos amigos que nos convidaram.

Lá notamos a presença do Jorge Mautner o que me deixou bem contente porque o cara é o máximo. Além dele, estavam seu companheiro e seu violão. Tudo sinalizava que íamos ter um show particular a qualquer momento e fomos chegando devagarinho, sentamos por perto, fizemos amizade, conquistamos umas risadas e pronto: estávamos em casa.

Minha filha, uma sedutora de nascença, foi além e saiu conquistando as pessoas com seu sorriso largo e sua atenção constante aos detalhes de cada uma das pessoas que estavam por perto. Ela não tinha a menor ideia de quem era aquele cara e, por isso mesmo, não se intimidou em chegar perto e bater um bom papo sobre a música... alguma coisa como: - você sabe tocar violão? Logo o Mautner estava encantado com o sorriso e a atenção sincera daquela criança e quando ele pegou o violão o show foi todo pra ela.

Uma das primeiras músicas que ele tocou foi essa aí do vídeo: Cachorro Vira-latas. Ela adorou. Riu com o riso cheio de alegria e o fez repetir algumas vezes até decorar a letra por inteiro. Passou o resto do dia e da noite cantarolando "eu gosto de cachorro vira-latas que anda sozinho no mundo sem coleira e sem patrão..." e todos nós aproveitamos o momento único de felicidade regada a uma excelente comida, bebidas variadas e uma companhia exuberante.

Do meu lado, pensava no tal vira-latas. Era eu, mas eu ainda não sabia.

Hoje, depois de decretar minha incompetência emocional e buscar a cura das formas mais improváveis possíveis, percebi que ultimamente andei comprometido demais com o papel de vira-latas e mudei de música: eu por mim desisti, me cansei de fugir. Eu por mim decretei que fali, e daí? Eu jurei para mim não botar nunca mais minhas mãos pelos pés...

E segue o baile...


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Menina das Covinhas

Essa é uma história tão antiga que vou ter que pular muitos capítulos. Fazendo as contas, tudo começou há mais de 23 anos... é muito chão.

Eu trabalhava em uma multinacional atendendo uma conta importante e bem complicada que me ajudou muito a alavancar minha carreira. Trabalhava feito um louco. Não tinha tempo ruim. Não tinha horário. Não tinha fim de semana. Não tinha nada que me desviasse de fazer aquela conta dar certo e com isso crescer dentro da empresa. Foi uma opção pelo trabalho que julguei ser a coisa mais importante da minha vida naquele momento. No cliente, a gerente de marketing era uma pessoa complicada mas justa e rapidamente encontramos um jeito de fazer as coisas funcionarem.

Um dia, fui apresentado para a nova assistente de marketing. Uma menina linda com covinhas lindas e que me deixou impressionado desde a primeira vez que a vi. Mas ela nem me notou e não me deu a menor atenção e eu optei por ficar quieto na minha até o dia em que a chuva fez o seu papel.

Depois de uma imensa discussão na agência sobre mudar ou não umas peças que já estavam prontas e aprovadas fui obrigado a ir ao cliente para desrecomendar o que havíamos aprovado e mostrar uma solução melhor. Lembro até hoje como eu fiquei puto da minha vida. Não entendia porque eu deveria rever uma coisa que estava aprovada mas: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Saí da agência com os novos layouts embaixo do braço rumo ao cliente que ficava a umas quatro ou cinco quadras de distância. Chovia muito no Rio e eu acabei deixando a chuva me molhar por inteiro. Achei que aquela seria uma excelente forma de me acalmar e jogar fora a raiva que eu sentia.

Comecei a gostar de andar na chuva e de me molhar daquela forma e nem me importei com o aspecto que eu teria quando chegasse no cliente. A chuva me fez bem, muito bem, e eu cheguei com ótimo astral no cliente pronto para desdizer tudo o que eu tinha dito antes e convencê-los de que a nova solução era muito melhor do que a antiga. Entrei pingando pelos corredores até o departamento de marketing e passei pela menina das covinhas no caminho e notei que ela me olhou pela primeira vez de uma forma diferente. Segui em frente e aprovei o que precisava aprovar e voltei para a agência debaixo da mesma chuva mas com a sensação de dever realizado. Foi uma bela lição profissional que eu levei naquele dia.

Uma ou duas semanas depois haveria a festa (a fantasia) de final de ano do cliente para a qual eu havia sido convidado. Pedi para o pessoal do estúdio montar dois cartazes em papel paraná (um papel super duro) e juntei os dois com uns barbantes ou coisa que o valha. Minha fantasia estava pronta: eu iria de homem sanduíche. Na festa encontrei a menina de covinhas vestida de palhacinha, mais linda do que nunca e ficamos a maior parte do tempo juntos. De lá ofereci uma carona, paramos na Pizzaria Guanabara para comer algo e começamos a nossa história de amor.

Foram muitos anos de namoro e dois pedidos de casamento devidamente recusados. Ao mesmo tempo em que nos amávamos profundamente, tínhamos perspectivas de vida muito diferentes e aquilo era bem complicado. Tivemos inúmeras idas e vindas até que em um dos términos ela me disse: - Eu não te amo mais. Aquilo doeu muito, mas muito e eu respondi feito criança idiota: - Se você não me ama mais, então eu vou casar com a primeira mulher que quiser se casar comigo. Ela duvidou e eu segui minha vida.

Duas semanas depois conheci a minha primeira ex-mulher (não a mãe da minha filha). Começamos um namoro e, encantado pela vontade que nós tínhamos de que aquilo funcionasse me empolguei de verdade. Na manhã seguinte a nossa primeira noite juntos, eu acordei mais cedo e fiquei olhando para ela. Quando ela acordou eu perguntei: - Quer casar comigo? e ela quis e nos casamos cinco meses depois de nos conhecermos. Foi tudo muito intenso e louco e, infelizmente não deu certo, como era de se esperar. E quando decidimos nos separar (eu morava em São Paulo) vim passar o fim de semana no Rio e a primeira pessoa que encontrei foi a menina das covinhas e ficamos juntos e voltamos a tentar fazer com que aquele amor desse certo. Não deu.

Por muito tempo, com idas e vindas, nós tentamos mas, por alguma razão, estávamos sempre em momentos de vida diferentes e isso gerava conflitos imensos, brigas e sempre acabava com o rompimento. Depois, passava algum tempo e tentávamos de novo e a história parecia que jamais teria um fim.

A menina das covinhas ao longo de todo o tempo em que nos conhecemos sempre teve o seu espaço. A vida levou cada um para um lado. Conheci a mãe da minha filha, me apaixonei e me casei e tive um casamento que deu muito certo por quase quinze anos e nesse tempo não estive com a menina das covinhas nem soube bem o que ela estava fazendo. Sei que morou em outro estado, sei que tentou se casar uma ou duas vezes, sei que não teve filhos e sei muito pouca coisa além disso.

Há algum tempo atrás voltamos a nos esbarrar. Ela estava em um relacionamento com um cara que é sócio do mesmo clube que eu e nos encontramos algumas vezes na piscina. Ele nunca foi muito simpático comigo e eu nunca fiz questão de ser com ele também. Vida que segue, sem drama.

Com a minha separação, a vida me levou para outros caminhos, outros lugares, outras pessoas e a menina das covinhas, na minha cabeça, estava "casada" e estarmos juntos não era algo que poderia voltar a acontecer e eu segui minha vida.

Antes das minhas férias teve um dia em que eu pensei muito nela e vi que ela entrou no MSN e perguntei se estava tudo bem. Ela me disse que sim e eu disse que não era o que eu estava sentindo mas, se ela estava dizendo que estava tudo bem, então é porque devia estar. No final das férias em Paraty vi um barco com o nome dela e mandei a foto e uma mensagem por MSN e ela me disse que estava péssima, que tinha terminado o namoro/casamento e o resto que eu contei em outro post.

Neste fim de semana saímos juntos para conversar. Zero expectativas. Mas o fato é que o amor que temos um pelo outro é o maior que pode existir e o carinho e a vontade de ver o outro bem é imensa. Ficamos até tarde conversando, trocando, falando, lembrando, pensando, curtindo, rindo, chorando, sendo...

Ontem ela me disse que era melhor não nos vermos enquanto ela estiver vivendo o luto do fim da relação. Foi ela quem terminou com o cara, mas foi muito tempo e na cabeça dela começar algo agora seria deixar o luto pela metade e isso pode ter consequências no futuro.

Por um lado admiro a maturidade dela em me dizer isso e escolher viver assim. Por outro, entristeço.

O que me deixa muito tranquilo é saber que o que nós dois temos, um pelo outro, é maior que tudo o que já tivemos por qualquer outra pessoa e é mais simples e mais bonito também. Tudo tem sua hora. E se tivermos que estar juntos, estaremos. Sem pressa, sem drama, sem agonia e sem expectativas.

Adoro aquelas covinhas.

sábado, 26 de maio de 2012

Eu tô voltando pra casa...

"O tempo é uma medida de transformação."

Ouvi isso numa chamada de um programa de TV na boca do Marcelo Gleiser e desde então essa frase ficou martelando na cabeça...o tempo é uma medida de transformação... é, ele tem razão. Que sentido teria o tempo se não fossem as transformações das coisas? Nenhum!

Foram 15 dias viajando e postando sobre as coisas que passei, que vi, que ouvi e que vivi. 15 dias muito especiais pra mim e que me ajudaram a ser uma pessoa diferente hoje do que eu era quando resolvi fazer a viagem. Minha perspectiva de vida e de valores mudaram. As coisas que me estressavam ficaram entre uma onda e outra, entre uma nuvem e outra, entre uma cidade e outra. Minha ansiedade por resolver tudo na minha cabeça para conseguir virar a página foi trocada por uma visão muito mais simples... ao invés de virar a página por que caralhos eu não troco de livro??? E é isso o que eu quero fazer agora.

Conheci lugares lindos... Iporanga é muito bacana, a praia da Almada é linda, Trindade é de tirar o fôlego, Paraty Mirim é generosa demais, as ilhas de Angra são muito mais encantadoras do que eu imaginava, bem como suas praias e principalmente a praia de Paquetá que me deu uma tartaruga pra nadar comigo. Viajar é transformar e talvez o tempo seja uma medida das viagens que a gente escolhe fazer na vida.

Fiquei em lugares maravilhosos... a casa da Tony é espetacular, o apartamento do meu irmão tem jeito de família, a Casa Milá é sedutora demais, a Bambu Bamboo é uma surpresa deslumbrante e a Casa do Bicho Preguiça é cheia de amor e de detalhes capazes de fazer você uma pessoa melhor.

Mas o melhor da viagem foram as pessoas... cada um do seu jeito, cada um mexendo um pouquinho em mim e no meu jeito de ser e de viver. Pessoas incríveis, antigas ou novas na minha vida, me ajudaram a viver o tempo em toda a sua intensidade. Tony, Rachel, Valentim, Chica, Berta, Neto, Luciane, Michael, João, Bruno Felipe, Gustavo, Janildo, Elthon, Lilian, Horácio, Albano e B... como agradecer?

Agora é hora de levantar a âncora e tocar o barco em frente com mais tranquilidade, com mais calma, com mais determinação e gostando muito mais de ser quem eu sou hoje do que a quinze dias atrás.



Mas o blog tá só começando...

Visita

Antes de dormir no dia anterior, conversei com duas pessoas no Facebook. Uma delas era a Srta. R, uma pessoa incrível de quem virei amigo via web e com quem troquei conversas deliciosas. Claro que como bom incompetente emocional cheguei a imaginar a possibilidade de sermos mais do que amigos mas essa não era e não é uma preocupação nem minha nem dela nesse momento e seguimos como bons amigos, quase cúmplices das inseguranças da vida. Adorei as conversas, as opiniões e as trocas, inúmeras, que tivemos via computador.

A outra pessoa com quem conversei foi a Srta. B, amiga querida que me apóia e que cuida de mim como pouca gente na vida. B é uma pessoa especial. Somos amigos antes e depois de qualquer coisa. Sim já tivemos alguma coisa no passado, mas hoje nosso carinho é maior do que isso e nossa história vai seguir por esse caminho, sem sexo, sem beijos na boca, sem fantasias sexuais que talvez só compliquem essa nossa relação tão deliciosamente simples. No meio da nossa conversa ela me perguntou se eu gostaria de companhia para o último dia de férias e eu disse que sim, adoraria a companhia dela aqui.

Combinamos que eu a pegaria na rodoviária as 9h30 e dormi feliz porque ter a B como companhia para conversar seria ótimo. E no dia seguinte estávamos aqui conversando e contando um para o outro tudo o que havia acontecido nos últimos tempos. Ela falando dos seus amores e casos e eu falando do novo ciclo que decidi começar com essa viagem.

Falei muito sobre uma certa Menina de Covinhas que foi para mim uma das maiores paixões da minha vida e que havia aparecido no dia anterior. É que eu vi em Paraty Mirim um barco com seu nome e o fotografei. Mandei a foto por MSN e ela começou a conversar comigo, contando que havia terminado seu namoro/casamento e que não estava bem. Perguntei se ela queria que eu fosse embora para o Rio naquela hora e ela me disse que não, que eu devia curtir o fim das férias e que estaríamos juntos na minha volta e seguimos conversando. Ela se sentindo em culpa pelo fim de sua história e eu dizendo a ela que não existe esse tipo de culpa.

Na verdade acredito que as pessoas possuem o eterno complexo de pequeno príncipe. Livro que eu detesto e que fez as pessoas pensarem que são realmente responsáveis pelo que cativam e com isso desenvolverem a maldita culpa. Ninguém é responsável por ninguém a não ser por si mesmo e pelo compromisso em serem felizes.

Com a visita de B pude falar mais sobre isso. Contei e me lembrei da importância que a Menina de Covinhas teve na minha vida. Juntos aprendemos muito sobre o amor, a cumplicidade e sobre a vida. Ela foi mesmo muito mais do que apenas mais uma pessoa que passou.

Não que eu ache que nós vamos voltar a namorar. Pode até acontecer, mas não tenho expectativas nessa relação. O fato que realmente importa é o tamanho do carinho e do amor que temos um pelo outro. A Menina de Covinhas é talvez a única pessoa por quem eu deixaria qualquer coisa na vida (exceto minha filha) para estar do lado na hora que fosse e pelo motivo que fosse. Meu amor por ela vai muito além de um amor de homem por uma mulher. Ele é muito maior e mais importante do que isso.

Foi muito bom ter B para conversar sobre isso. É muito bom ter amigos de verdade e me sentir gente de verdade.



Acabei combinando um novo passeio com o Albano e seu Mustang que foi muito melhor do que no dia anterior. Além das novas lições e histórias que aquele sábio homem seguiu contando, paramos em praias e ilhas que eu não conhecia e tive a sorte de conseguir nadar com uma linda tartaruga marinha na praia de Paquetá, uma experiência para não ser esquecida jamais.

Arco-Íris

Chegando do passeio de barco resolvi tomar um banho e tirar um soneca. Coisa rápida. O suficiente para parar de balançar e me sentir bem de novo para escrever, conversar e acabar o dia maravilhoso que eu tinha tido.

Claro que a soneca foi até as 11h da noite e acordei sem sono e sem ter o que fazer na pousada. Nenhuma disposição para interagir com as pessoas que talvez ainda estivessem acordadas mas toda a disposição do mundo para escrever e interagir pela janela do computador. Foi o que fiz até umas duas da manhã, quando peguei no sono novamente preocupado em não perder o nascer do sol do dia seguinte.

Às 5h30 eu já estava de pé e descendo para o deck onde esperava ver mais um espetáculo da natureza. Fiquei de frente para o sol e o espetáculo foi mesmo bem diferente do dia anterior. Ainda no início, percebi uns flashes saindo de uma das varandas da pousada. Era a moça do casal de Fortaleza tentando fazer fotos sem descer. A convenci que valia a pena vir ver o sol e ela veio me fazer companhia no deck.

O sol nascia colorindo as nuvens mas não estava tão maravilhoso como no dia anterior e a moça reclamava muito da sua sorte, da sua máquina, da sua vontade de ter fotografado o mesmo nascer do sol do dia anterior, sem entender que cada dia é diferente do outro. Fiquei quieto, fotografando mesmo assim, feliz de estar ali e de ter uma câmera que me permitisse registrar aquele momento.

Em um determinado momento, virei de costas para o sol para ver como estava o mar e as montanhas do outro lado e dei de cara com o maior arco-íris que eu já vi em toda a minha vida. Um momento mágico que me fez reagir como criança, excitado com a beleza das cores e com a perfeição da forma. Ele estava inteiro lá. Eu conseguia ver de onde ele saía e aonde ele chegava. Suas cores estavam fortes e marcadas e eu agradeci pela experiência única que estava tendo.



A moça fez meia dúzia de fotos do arco-íris e preferiu continuar reclamando do nascer do sol. Desisti de falar qualquer coisa. Se a pessoa não sabe ver a beleza que o dia oferece tão generosamente, então não há o que se dizer.



Angra II

O simpático Elthon me disse que havia um passeio saindo as 11h da própria pousada e que um casal hospedado aqui iria e talvez um outro cara (gringo). Me animei e resolvi sair de barco. A essa altura já tinha feito amizade com o casal de Fortaleza e com os americanos, um casal de idosos simpáticos e seu filho que trabalha numa multinacional em São Paulo.

As 11h em ponto o barco encostou no pier e entramos no Mustang (nome do barco). Cumprimentei o "capitão" enquanto entrava e logo que saímos resolvi bater papo com ele. Seu nome: Albano. O cara sabia tudo sobre todas as ilhas e sobre Angra também. Ia comentando uma a uma e acrescentando uma certa dose de cultura inútil ao mencionar de quem era cada casa ou cada ilha. Inútil porque apesar de ser interessante não vai me ajudar em nada...e porque eu estava muito mais preocupado em curtir os peixes e em procurar tartarugas do que em saber que a Xuxa vendei aquela casa e que o Luciano Huck tem uma outra, toda irregular, do outro lado, etc.

O barco parou primeiro nas Ilhas Botinas que eles dizem ter o formato de botas mas que, honestamente, precisa ter muita criatividade para se ver isso. O que também não fez nenhuma diferença. Vesti a máscara, o snorkel e o pé de pato e comecei a nadar pelas águas transparentes do lugar. Vi muitos peixes, uma quantidade impressionante mas uma variedade que não impressiona. O gostoso era estar com a máscara e flutuar nas águas claras ouvindo a minha própria respiração. O mundo do outro lado fica do outro lado... deve ser como entrar no espelho de Alice... muda tudo e tudo é completamente diferente desse outro lado do espelho. Me lembrei feliz do prazer imenso que tenho em mergulhar mesmo sem fazer isso há tanto tempo.

De volta ao barco e rumo a outras ilhas e praias fiquei conversando com Albano que contava entusiasmado sobre a sua vida. Ele tem sete filhos e treze netos, todos criados com seu esforço e dedicação. Ficou viúvo da primeira mulher e teve todas as dificuldades do mundo em ser pai e mãe ao mesmo tempo e seguia contando detalhes da sua vida que eu ouvia com atenção e absorvia devagar. Cada história do Albano era como uma lição de vida. De tudo ele tirou os ensinamentos que ele tentava passar nas suas histórias.



Me vi diante de um cara sábio. Simples e sábio. Que sabe viver a vida com um sorriso no rosto, aproveitando o que de melhor a natureza tem para oferecer e generosamente oferecendo sua vida como exemplo. Coisa boa. Gente como o Albano é rara e é preciso prestar atenção nelas.

O passeio foi ótimo. No final o casal de Fortaleza disse que sairia numa lancha rápida no dia seguinte e eu fiquei me perguntando para que uma lancha rápida se a velocidade do Mustang era excelente para o meu ritmo de viagem...

Angra I

Antes de dormir perguntei ao Elthon (não posso esquecer de falar sobre os nomes) a que horas o café era servido. Ele me disse que normalmente as 8h e eu disse que acordava bem mais cedo do que isso e ele não teve dúvidas em me dizer que então as 7h ele já teria um café preto pronto pra mim. Adorei. Esses pequenos gestos e detalhes é o que fazem toda a diferença.



Acordei por volta das 5h15, abri a janela e o computador (outra janela) e fui conferir se o sol já tinha nascido. Como ainda faltava um tempinho para isso fiquei na cama escrevendo e enrolando um pouco. Lá pelas 5h50 fui ver de novo e o sol começava a despontar entre nuvens...tirei umas fotos da varanda do meu quarto e resolvi descer para ver melhor e fotografar melhor. Foi um choque... o sol nasceu lindamente na minha cara me dando bom dia numa imensa orquestração de cores...wow, se eu pudesse teria aplaudido de pé.



Depois fiquei no deck escrevendo mais um pouco e esperando que outros hóspedes acordassem para tomar café da manhã. Quando acordaram e eu falei do nascer do sol, quiseram ver as fotos e todos ficaram impressionados com a beleza das cores. Alguém se lamentou por ter perdido o espetáculo e eu disse: - O bom é saber que ele nasce todo dia e nunca é igual.

O bom de ver um nascer do sol tão espetacular é entender que o mundo já fez a parte dele e agora é com você fazer a sua parte também.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

America - A horse with no name (clip HQ)

Good vibe!!!!!!

Última Parada

Saí de Paraty com vontade de ficar...mas achei melhor ir embora cedo rumo a Angra no mesmo ritmo que venho adotando até agora... 70km/h, deixando qualquer fusquinha me passar e nem ligando pra isso. Na saída deixei reservado o mesmo quarto para daqui a dez dias voltar para o festival de jazz de Paraty, mas honestamente não sei se venho ou não.

Estrada vazia e lá fui eu curtindo o visual das praias e minhas músicas no iPhone. Passei por várias praias sobre as quais ouvi falar e fiquei com muita vontade de parar em São Gonçalo e São Gonçalinho, mas resisti e toquei em frente. O nome da próxima pousada me interessava muito: A Casa do Bicho Preguiça, tudo a ver com meu momento preguiça e lá fui eu cantarolando pela estrada. Engraçado é que sempre estava na estrada as 11h11 e todas as vezes prestei atenção no número mágico.

Nessa parte da estrada parece que tem mais civilização. Tem mais trânsito, mais gente nervosinha querendo ultrapassar onde não dá. Enfim, tem mais stress do que o necessário. Mas nada disso me tirou a alegria da viagem e a boa onda. Continuei prestando atenção nas praias, nas "gentes" à beira do caminho, curtindo muito cada minuto.

Em Angra achei que fosse me perder, mas as indicações eram bem claras... é depois do Colégio Naval. Ok. Lá fui eu seguindo rumo ao tal colégio, que depois percebi que é um imenso complexo arquitetônico com museus e vários prédios da Marinha além do colégio em si. Lindo demais. Só que você passa por dentro do Colégio para chegar na pousada e isso ninguém tinha me dito.

Resolvi perguntar!!! Sim, eu mesmo resolvi pedir indicações, coisa que nunca faço porque me rouba o prazer de me perder em lugares que não conheço. Mas resolvi me provar mais maduro e perguntei para o soldado da guarita que me disse que eu estava no caminho certo, era só seguir um pouco mais a frente. Fiquei puto! Se é pra dizer que eu tô certo, não precisava ter perguntado! Ri muito disso e fui em frente.

Cheguei cheio de preguiça na Casa do Bicho Preguiça, outro lugar lindo, de cara pro mar, de frente para as Ilhas Botinas e para a própria Ilha Grande. Ah...o mar! é bonito demais! Com a pousada vazia, deitei numa espreguiçadeira, li um pouco mais do Livro do Desassossego que me acompanha , dei um mergulho, fumei uns cigarrinhos olhando os relevos do horizonte e relaxei mais ainda, se é que isso é possível.

Soube que a cozinheira tinha faltado e por isso eu resolvi ir a cidade comer alguma coisa e dar uma olhada. É incrível como uma cidade tão feia pode ter paisagens tão magníficas. Angra precisa de um Prefeito apaixonado pela cidade. É como as pessoas lindas por fora e feias por dentro...se não tiverem uma ajuda não vão deixar de ser assim...

Voltei para a pousada e escrevi um tanto, assisti alguma bobagem na TV e fui dormir cedo para curtir o nascer do sol do dia seguinte.

There were plants and birds and rocks and things...

Sabe "Horse with no name" do America? Aquela música que fez muito sucesso há uns trinta anos atrás e que até hoje as pessoas da minha geração sabem a letra? Bom, de vez em quando penso nela, principalmente quando vejo as plantas, pássaros, pedras e coisas no caminho dessa viagem.

No meu último dia em Paraty vi muito disso e logo cedo bem no café da manhã que por sinal estava maravilhoso. Nessa viagem o café da manhã tem sido minha melhor refeição. Eu sei que devia ser assim sempre, mas nunca é. Normalmente meu café da manhã é café, café, café e mais um pouco de café. Mas viajando eu adoro aproveitar as frutas, bolos, pães e, é claro, o café.

Na Bambu Bamboo o café é farto, cheio de escolhas. Uma mesa super colorida cheia de delícias e lá fiquei eu, horas e horas curtindo o momento enquanto pássaros lindos apareciam do lado da mesa e me fascinavam mais ainda. De frente para o Rio Perequê-Açu ainda vi patos e garças pescando e até um rapaz com um arpão se aventurando nas águas escuras em busca de um peixe grande.












Tava tão bom que pensei: - para ser perfeito só precisava que alguém me oferecesse um ovo. E, como mágica, a moça da cozinha veio me perguntar se eu não gostaria de um ovo ou um omelete. Quase dei um beijo na sua boca... pedi um ovo frito com a gema mole que comi com um prazer raro.



Começar o dia com coisas boas por todos os lados facilita muito. Tenho que prestar mais atenção nisso.

Relax e Thai

Cheguei na pousada por volta das 16h. Bem na hora de tomar um banho antes da massagem que eu tinha marcado com a Luciane, a mesma que eu conheci na Praia da Fazenda com o marido e com a filha. Gente bacana, boa onda...e, pra ser honesto, tava bem precisando de uma massagem que já não fazia há anos.

A massagem era uma espécie de shiatsu mas ela trabalhava a coisa de equilibrar energias, etc apesar da sua formação de fisioterapeuta. Ela usou um óleo de lavanda super gostoso e durante mais de uma hora fui puxado, amassado, alongado e relaxado... nossa, como massagem é bom. No final ela mandou eu me cuidar melhor, etc... tudo aquilo que eu já sei e que mesmo assim acabo não fazendo. Mas ela tem razão, se eu não cuidar de mim, quem vai?

De volta pro quarto tomei outro banho e tracei meu rumo para o centro histórico decidido a comer em um Thai que eu tinha ouvido falar antes. Adoro comida thai e achei que combinava com minha onda no dia. Acertei na mosca, comi super bem e ainda deu tempo de dar uma rodada pela cidade antes de voltar e dormir cedo.



Tanto da massagem quanto da comida thai, depois de uma manhã incrível em Paraty Mirim, ficaram as lições do equilíbrio. Não dá pra viver sem ele e é essa minha busca. Assim como o óleo de lavanda só é bacana porque vem com a força e a energia de quem sabe fazer uma massagem, o peixe thai super apimentado só é bom de verdade quando você aproveita com o arroz de jasmim. Tudo tem dois lados e isso não basta, eles precisam do equilíbrio.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Paraty Mirim

Volta um pouco na Rio-Santos e fica esperto. Se você piscar na hora errada não percebe a entrada para Paraty Mirim e mesmo sem piscar você demora a acreditar que aquilo seja a entrada de tão ruins que são as condições do asfalto... ops terra...porque asfalto mesmo não tem por ali não.

Mas o valente carrinho seguiu devagarinho pelo caminho na busca de uma praia que me surpreendesse, embora eu não acreditasse que isso pudesse ser possível depois de passar pela praia da Fazenda, Felix, etc. No caminho um rio acompanha o carro e entre uma curva e outra surgem pequenas quedas d'água em pedras imensas que fazem a paisagem espetacular.

Toquei o carro em frente quase convicto de que eu estava no caminho errado, mas sem me importar a mínima porque, mesmo que fosse o lugar errado, era um lugar lindo. De repente uma pequena vila...pequena mesmo, apenas algumas casas "ajuntadas" e uma escola interditada porque a sua construção está em risco. O carro segue até que chego no final da linha e um menino se oferece para guardar o carro. Conversamos um pouco e ele me conta que não está na escola por conta da tal interdição e me convenço de que ele era um bom garoto e que poderia me dar umas dicas. Bom, quando você pede informações no meio de um pessoal que não tem muito com quem conversar, logo aparece um monte de gente pra palpitar e assim foi.

Um cara numa moto me fez uma oferta para um passeio de barco até um lugar chamado Saco da Velha... ri com o nome e perguntei se isso era mesmo bonito, porque o nome não era. Ele disse que teria que pegar o barco no rio e que só estaria lá por volta de meio-dia...se a maré ajudasse.

Resolvi ficar por aquela praia mesmo. Tirei várias fotos, andei para um lado, andei para o outro e me diverti com o paraíso particular. Eu era a única pessoa com roupa de banho naquelas redondezas.



A tantas horas vejo um dos caras que tinha me dado umas dicas ajudando outro a carregar um motor de popa na areia fofa. Ele ajudou até um ponto e depois foi embora. O dono do motor foi buscar alguma coisa e voltou. Vi que ele ia tentar colocar sozinho o motor num pequeno barco e me ofereci para ajudá-lo e ajudei. Ele agradeceu e me disse que se eu não tivesse combinado com o outro cara (ele já sabia da minha vida toda), ele mesmo podia me levar... fiquei interessado e conversamos um pouco.

Perguntei por quanto ele faria o passeio e ele me disse que ia para Mamanguá de qualquer jeito e que invés do preço normal ele poderia me cobrar só a gasolina... três vezes menos do que o outro!!! Fechei com ele mas disse que precisaria de um favor e perguntei se ele se incomodaria em parar para que e jogasse a caixa com as cinzas do meu pai no fundo do mar. Ele não se importou. Acho até que ele achou bonito o gesto e quis ajudar.

Embarquei e partimos numa conversa entre pescador e homem da cidade grande que não entende nada do que eles falam. Ele me disse que tinha que levar uns documentos para uma prima que morava numa ilha próxima e que depois seguiríamos para Mamanguá e assim tomou o rumo da tal ilha... um lugar lindo, lindo, lindo em que você não acredita que possa morar alguém, mas mora.










Uns cinco minutos antes de chegarmos na ilha ele me disse: - olha, aqui é bem fundo e bem bonito. Você quer jogar a caixa aqui? Eu olhei em volta e realmente o lugar era um paraíso. Ele me disse depois que ali se chamava Ponta da Cajaíba. Paramos o barco e eu disse a ele que faria uma prece. Rezei um Pai Nosso e uma Ave Maria, pensei com todo carinho no meu pai querido e joguei a caixa com seus restos mortais em um lugar tão bonito que eu também gostaria de ter os meus restos mortais jogados lá. Me emocionei, algumas lágrimas rolaram, mas fiquei feliz em ter encontrado um lugar tão especial. Rezei um pouco mais em silêncio, agradeci e disse a ele que podíamos seguir.

Na ilha ele entregou "uns documentos" que depois me explicou que era o comprovante de residência daquela família. Ele é o Presidente da Associação de Amigos e Moradores de Mamanguá e por isso ele é quem cuidava de fornecer esse documento, tão básico e necessário que todas as pessoas por onde passamos o pediam para o meu amigo. Seu nome: Janildo... não posso esquecer de escrever sobre os nomes dessa viagem.

Como Presidente da tal associação ele estava rodando a região para convocar os moradores e pescadores para uma reunião na quinta feira com a presença da Capitania dos Portos e do Prefeito para falar sobre a conservação dos novos cais que estão sendo recuperados na região. Com isso, fotos, fotos e mais fotos em lugares maravilhosos e, entre uma parada e outra, Janildo me falava sobre a região me mostrando a casa do Roberto Irineu Marinho, a outra onde filmaram o final de O Crepúsculo, a do Xande Negrão e por aí vai. O cara é um guia e por umas três horas me mostrou toda a região com orgulho de quem nasceu e foi criado lá.

Na volta ele me perguntou: - quer ver umas tartarugas? e levou o barco para mais próximo da costa, de onde rapidamente surgiu uma imensa tartaruga do lado do barco. Não deu nem tempo de fotografar, mas esse cara fez desse um dia mais do que especial para mim e vou guardar com carinho as fotos e as lembranças do passeio mais bonito que fiz até agora.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Só pra não esquecer...e pra lembrar sempre!

Às 11:11 lá tava eu no carro e a música que não conhecia ou não lembrava dizia: o arco-íris dorme dentro da caixa de lápis de cor.

Bambu Bamboo

O lugar é incrível, uma pousada super bem construída com dois andares, muito conforto e uma beleza natural de dar gosto. Quando cheguei o gerente me levou pra conhecer tudo... desse lado a piscina, ali em frente o Ofurô, depois o restaurante na beira do Rio onde servem o café da manhã, a sauna que fica do lado do Spa e em cima uma sala de convivência, etc... Wow! Que lugar legal!

O que mais me impressionou foi a boa onda do lugar. Funcionários sorridentes, cachorros educados em harmonia com o espaço, muitos pássaros e um quarto limpo com tudo o que eu preciso e mais um detalhe valioso pra mim: uma cafeteira no quarto!!!! Sim, eu não preciso esperar ninguém acordar para tomar meu café da manhã e isso não tem preço!!!









Deixei minha mala no quarto e segui para Paraty Mirim.

Não era mesmo para mim...

De volta, feliz com o meu dia resolvo tentar ser mais condescendente com a Pousada Caminho do Ouro. Abro a mala, tiro minhas roupas e me preparo para dormir... até aí tudo bem, mas quando eu deitei na cama a minha sensação é que eu estava deitando numa piscina bem rasa de tanta umidade que tinha no lugar. A essa altura não tinha o que fazer a não ser contemplar uma abelha que resolveu dormir no mesmo quarto que eu, bem pertinho, pendurada na cortina que ficava atrás da minha cabeça. Quase perguntei pra ela: - você fez reserva? pagou 50%? Mas resolvi deixar pra lá e torcer pra eu não engolir o bicho durante a noite.

De manhã levei uma bronca da Berta, a chilena. Você não dorme? Está muito cedo e vou ter que correr com o café porque o "señor" já se levantou. Eu tinha acordado as cinco e enrolei no quarto úmido, perfeito para torturas, até as sete e pouco e ainda tomei bronca!!!!

De qualquer jeito ela se esforçou para trazer o café. Que, por sinal, era muito mais pretensioso do que gostoso. Tive que explicar que o que eu gosto mesmo é de café, aquele líquido pretinho que os brasileiros tomam. Ela colocou uma garrafa térmica que devia ter meia xícara de café dentro. Ohmmmmmmmm

Quando ela finalmente trocou a garrafa térmica e eu ganhei a outra metade da xícara disse a ela que não ficaria. E ela me disse que tudo bem, mas que outras pousadas eram mais barulhentas do que eles... suspirei e fui pro quarto buscar outro lugar pra ficar na internet.

Lembrei do casal que eu tinha conhecido na Praia da Fazenda em Paraty. Ela me disse que trabalhava na Bambu Bamboo e fui na internet conferir. Vi mais um site, por via das dúvidas, empacotei minhas coisas e parti.

Cheguei na nova pousada e fiquei de queixo caído. Pelo mesmo preço daquela porcaria eu poderia ficar num lugar maravilhoso, limpo, amplo, quieto, na beira do mesmo rio e com um tratamento super atento. Adorei e o gerente (dono?) que se chamava Neto (não posso esquecer de escrever sobre os nomes) me apresentou meu quarto, o 11... sempre ele.


Casa do Fogo

Já tinha curtido o nome. O fogo me fascina, sempre fascinou e por isso, depois de rodar um tempo pela cidade tracei minha reta para o restaurante. O pessoal do almoço tinha me dito que um casal iria tocar lá e que eu ia gostar muito. Fiquei tenso, sempre acho que em Paraty a única música que esses caras tocam é "Te Amo Espanhola", mas nada como estar zen... entrei sem medo de ser feliz no restaurante que ainda estava vazio. Na verdade eu não pretendia comer nada por ali, tinha almoçado minha moqueca e tava contente com isso. Queria mais era uma cerveja gelada, uma boa música e quem sabe encontrar pessoas novas e bater um papo.

O primeiro encontro foi com Bruno Felipe, o garçom.

Pausa. Os nomes das pessoas nessa viagem são tão incríveis que vou ter que escrever um post só sobre isso. Fim da pausa.

Bruno é aquele garçom gente boa que te coloca a vontade e faz um milhão de sugestões, todas baseadas no gosto dele, mas de forma sempre muito simpática. Com o restaurante vazio notei que a música de fundo era muito boa e começamos um papo sobre isso. Teve uma hora que ele confessou: - as músicas são ótimas mesmo, mas é a mesma playlist há uns dois anos...eu não aguento mais! E eu ri. Perguntei se ele conhecia ZAZ e ele me disse que não e eu me ofereci pra colocar no som dele já que não tinha ninguém por ali mesmo.

O cara adorou e eu também, porque ZAZ é mesmo a minha melhor descoberta musical em anos. Tomei umas cervejinhas e nada do restaurante encher. Os músicos chegaram e eu olhei bem para aquele casal antes de começarem a cantar. Ele parecia uma mistura de Sivuca com Itamar Assumpção e ela parecia a Amália Rodrigues tupiniquim. Fiquei com medo. Se eu não gostasse não poderia sair, eles iam fazer o show só pra mim.



Saí para fumar um cigarro e tentar ficar o mais zen possível, já cantarolando: te amo espanhola, te amo espanhola, pra que chorar...te amo...... quando entram dois franceses mortos de fome e de curiosidade e sentam na mesa ao meu lado. Ufa, tava salvo.

Mas quando a música começa tenho outra boa surpresa. A voz da "Amália" era linda e o violão do "Itamar" era sensacional. O repertório tinha alguns deslizes é claro, mas nada que comprometesse o cantinho e o violão. Adorei e no final da noite já tava querendo comprar o CD deles porque achei absurdo pagar R$ 7,00 para ouvir horas de uma música tão boa.

Quando me empolguei com o som e com o lugar resolvi pedir uma Lula flambada com papaia. Esqueci de dizer, mas tudo era flambado na Casa do Fogo, daí o nome. Era um petisco, mas era bom demais.



Num dos intervalos do show, o Bruno me deu a dica do dia seguinte: - cara, você não pode deixar de conhecer Paraty Mirim. E aquilo me martelou na cabeça... Por que não?


Um pássaro? Um avião? Não...é um arco-iris! Ou melhor: dois!!!

Wow, um arco-iris no céu de presente pra mim em Paraty



Epa, DOIS arco-iris de presente!!!! Como a natureza é linda!


Ontem não escrevi...

Tem dia pra escrever e dia pra viver. Ontem foi dia de viver e foi bom.

Na segunda cheguei na Pousada Caminho do Ouro em Paraty e confesso que foi minha primeira decepção na viagem. Tava esperando uma casa no mato, cheia de passarinhos e muito sossego e não encontrei nada disso. Dei de cara com um restaurante na beira da estrada Real que por acaso tem quatro quartinhos muito mal cuidados. A funcionária chilena me olhou como se eu fosse um ET. - Ah si, tienes reserva!? Bien, voy a me certificar. Já não curti nem um pouco.

Volta ela com a informação de que era sim verdade, eu tinha feito e pago 50% da minha reserva. Como se eu mesmo não soubesse. E me convida para mostrar o quarto que foi o ápice da frustração. Em si, ele nem tinha nem eu esperava que tivesse algo demais. Mas não precisava ter paredes estufadas de umidade e mofo. Olhei para aquilo e disse para a chilena: - Olha, eu não sei se vou ficar as duas noites porque procurava um lugar mais quieto, etc... e já fui preparando minha fuga.

Depois, ela me mostrou o restaurante (o Voilá), que fica no fundo, bem na beira do Rio Perequê-Açu... simpático e bonitinho, diga-se de passagem, mas não o suficiente para me encantar. Mas o pior mesmo foi ela me dizendo que os donos estavam viajando e por isso o restaurante, que era o melhor da pousada, estava fechado. Tomei a decisão de ir logo para a cidade - tava faminto - Ia ficar por ali aquela noite e então decidiria. Foi  que eu fiz.


Cheguei no Centro Histórico com meu sorriso aberto e meu estômago contorcido de fome. Resolvi torturá-lo um pouco mais e fui andar pelas pedras tortas dessa cidade linda em busca de um lugar legal. Não podia ser qualquer lugar, tinha que ser bem legal. Andei, andei, andei e parei em um lugar chamado: Bodega do Poeta. Claro que nem vi se o lugar era legal ou não...parei pelo nome achando que aquele era o lugar certo para mim. Pedi uma cerveja, abri o laptop, escrevi o post anterior e decidi pedir uma moqueca de camarão que tava dos deuses. Olhei pra cima da minha mesa, que ficava bem na porta do restaurante onde eu podia fumar alegremente, e dei de cara com o número 11. Ri porque esse número me acompanha em tudo e sempre.



Claro que nesse meio tempo fiz amizade com o garçom, a cozinheira, os caras da loja do lado, a doida da cidade que passa lá pra falar a previsão do tempo, a amiga da dona, etc. Virou uma festa e eu emendei umas quatro ou cinco cervejas antes de resolver seguir meu passo torto pelas pedras (que já me pareciam bem retas) nas ruas de Paraty. Antes, pedi uma dica sobre o que fazer de noite e eles me falaram de um restaurante chamado Casa do Fogo que tem música ao vivo, etc. Curti, era bem isso o que eu queria mesmo e lá fui eu rodar a cidade e ficar o mais longe possível da pousada...

  



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Trindade

Passei por Trindade no caminho entre Ubatuba e Paraty e confesso que meu queixo caiu. Como é que pode ter um lugar tão bonito no mundo e eu não ter a menor noção de que ele existe.

Tudo começou quando fui parado na estrada por um guarda rodoviário. Como diz a Deyse (sócia da Copy): todo mundo para um Gol Vermelho mas como esse é o carro que eu tenho pra andar hoje, graças a minha mãe, nem reclamo mais.

- Documento!

Olha de um lado, olha do outro e o cara pergunta:

- Da família Suplicy?

Que pergunta idiota. O cara tá lendo meu nome nos documentos e ainda tem dúvidas...risos. Típico de quem baixa a guarda pro povo do "Você sabe com quem tá falando?". Mas eu tava tão relaxado que só disse que sim. Ele me devolveu os documentos, olhou pra máquina e me desejou lindas fotos dessa região tão linda. Concordei com ele. Isso é mesmo muito perto do paraíso.

Ai, aproveitei o clima amistoso pra perguntar como era Trindade. Se valia ou não a pena dar uma parada por lá, como era, etc.

Ele me disse que valia sim, que para chegar lá faltavam 5km e que o carro iria passar por dentro de um rio pra chegar na vila. Mas disse que era um riozinho e que eu podia ir sem susto...e aí começou o puxa-saquismo... o cara queria me falar, em detalhes, de todas as praias que existem na cidade... ohmmmmm e vamos em frente.

Entrei na saída certa e segui devagarinho pelo caminho que por si só já é lindo. Plantas maravilhosas, curvas cheias de graça e pequenas nesgas que permitiam ver uma praia linda bem ao fundo. De repente a estrada vira o leito de um rio...bem pequenininho, mas um rio. À esquerda uma praia alucinante, com ondas fortes e pedras imensas que protegem a terra do mar. Segui em frente e dei uma boa volta pela cidade. Entendi que eu precisaria desembarcar, largar o carro e pegar um barco pra conhecer o que Trindade tem de melhor. Quase fiz isso, mas com o carro todo carregado de malas achei que era melhor repensar essa ideia e deixar pra outro dia ou pra outra viagem.

Dá pra confundir Trindade com Canoa Quebrada. A onda é a mesma e eu me senti feliz e livre por estar passeando sem destino e sem horário... bom demais!



Amanhece!


Bom dia!!!!

Dia de pegar a estrada de novo!!! Rumo a Paraty!

domingo, 20 de maio de 2012

Mo meio do caminho...

A viagem já está no meio... hoje é domingo e daqui sigo pra Paraty e de lá para Angra antes de voltar no sábado, dia 26 pro Rio.

Hoje foi um dia especial. Acordei cedo como sempre e acompanhei o nascer do sol, coisa que adoro desde sempre. Me lembro que no auge da minha "mocidade" eu saia do baixo Leblon direto para a praia do Leme que tem o nascer do sol mais bonito do Rio. Sempre que fazia isso ficava com meu coração renovado, saía de lá direto para a minha cama e acordava sorrindo num super bom humor. Nas noites em que conhecia alguém então, nem se fala. Minha primeira vontade era que a conversa fosse tão boa que durasse até as 5h da manhã, hora de sair correndo para o Leme sem que a moça entendesse o que estava acontecendo... o sol nascendo era mágico e marcava bons momentos de uma maneira muito especial.

Nos meus dias ruins eu me mandava para a Urca ou para a Floresta da Tijuca. Ia eu, uma fita K7 e meu  maço de cigarro. Fosse na mureta da Urca olhando o mar e a cidade por aquele ângulo cheio de histórias pra contar ou em um mirante que já não existe mais na Floresta da Tijuca de onde se via o que a cidade tem de mais bonito, eu ficava horas pensando, lembrando, sorrindo, chorando e processando os meus sentimentos. Era para esses lugares que eu ia quando queria ficar sozinho e, principalmente, quando queria transformar um sentimento ruim em algo bom. O melhor é que sempre funcionava.

Alguns lugares marcam a vida da gente ou pelo menos uma época da vida. A praia do Felix em Ubatuba marcou uma boa parte da minha vida. Época em que eu tinha decidido me mudar para São Paulo, depois de tomar o que eu chamei de "meu tombo da humildade". Pra resumir, eu fui um daqueles profissionais de carreira meteórica. Aos vinte e um pra vinte e dois anos eu já era supervisor de uma multinacional, responsável por uma das maiores contas da agência. Mas eu não tava pronto e me tornei um  "pain-in-the-ass" a ponto da agência não me aguentar mais e nem eu aguentar mais a agência...quanta pretensão. Só me dei conta quando saí da agência de que eu não passava de mais um "bostinha" desempregado no mundo e que por conta das minhas escolhas ia ter que recomeçar minha carreira. Escolhi fazer isso em São Paulo e funcionou, graças a Deus e ao aprendizado.

Meu tio havia alugado essa casa em Ubatuba e ela passou a ser nosso refúgio de fim de semana. Sempre que conseguíamos, juntávamos uma turma e partíamos para a praia. Lá vivenciamos nossas descobertas pessoais e profissionais. Compartilhávamos palavras, discussões, conversas, brigas, carinhos e tudo o que pudéssemos compartilhar entre primos e amigos que haviam prometido serem amigos para sempre. Bons tempos aqueles.

Depois, meu tio morreu e nunca mais ouvi falar sobre a praia do Felix até o dia em que vim para essa pousada em Ubatuba. A praia do Felix fica há menos de 20km antes de chegar aqui. Passei por ela na vinda e pensei: - Vou voltar lá. Mas não na busca de sentimentos e promessas que o tempo se encarregou de apagar. Foi para matar as saudades mesmo. O acesso agora tem uma guarita e o lugar é coalhado de placas dizendo que aquilo é uma área de preservação ambiental e que qualquer sujeira é passível de multa, etc, etc, etc...

Fiz um caminho que me pareceu fazer sentido e perguntei para um guardinha se ele sabia quem era meu tio, se ele saberia dizer onde era a casa e por aí vai. Ele não sabia de nada mas eu disse que ia parar ali mesmo e seguir pela praia pra dar uma olhada e ele me mostrou uma trilhazinha do lado de onde eu tinha parado.

Pausa: saí da pousada com as cinzas do meu pai na mesma sacola do outro post pensando que a praia do Felix seria um bom lugar para entregar seus restos mortais ao mar. Fim da pausa.

Lá fui eu e a sacola com a urna das cinzas do meu pai numa mão e a câmera pendurada no outro braço. Quando cheguei na praia não acreditei: eu saí exatamente do lado da casa! Sorri feliz em rever aquele lugar que acolheu tantos dos meus melhores sonhos e olhei para a praia em si. Não me lembrava que ela fosse tão bonita. Fiquei super alegre. Rapidamente percebi que eu não era o único a achar aquela praia incrível e percebi que a praia estava relativamente cheia de gente. Fiquei pensando sobre as cinzas e aquele povo todo e decidi caminhar um pouco para procurar um lugar menos povoado para jogá-las. Quando achei, resolvi primeiro dar um mergulho e depois tirar a urna da sacola e abrir o plástico que a envolvia. Pronto para cumprir o ritual que me propus, procurei o lugar por onde deveria abrir a urna e descobri que não havia. A urna é completamente lacrada sem nenhuma abertura possível a não ser que eu tivesse um martelo e um formão que, é claro, eu não tinha.

Por um segundo ainda pensei em levar a caixa até o ponto mais fundo que conseguisse ir e deixar a caixa afundar. Depois percebi que isso seria muito louco e que no máximo em dois dias a urna estaria na praia e haveria um mistério capaz de mobilizar essa cidade em que nada acontece. Decidi voltar com a caixa para o carro e esquecer a tarefa por hoje.

Fiz fotos da casa e da praia e voltei com a urna (que deve pesar uns quarenta quilos) pela mesma trilha, feliz da minha vida e ainda sem saber o que eu faço com a urna. De lá fui conhecer a praia da Fazenda, um lugar lindo. Lavei a alma.