Um sábado de sol. Ele como sempre lamentando não ter ido para
Búzios, a cidade que ele tanto gostava e que era sinônimo de praia para quem
não tinha paciência para os vendedores de mate e sanduíches naturais. Praia no
Rio era uma tortura para ele a menos que fosse para sentar no quiosque do
português, no calçadão em frente à Rua João Lira e curtir uns bons salgadinhos e
umas lindas caipirinhas. Mas esse não era o programa daquele dia.
Tomou, junto com sua melhor amiga o rumo de um de seus
botequins favoritos. Logo estavam sentados na parte de fora do Chico &
Alaíde. Lá, o antigo garçom do Bracarense o reconhecia sempre e lhe dava
atenção e agrados que faziam seu lado leonino vibrar. Nada melhor do que não
precisar pedir mais pressão no chopp. Nada melhor do que contar com garçons
atentos e dedicados. Nada melhor... nem a praia.
Conversavam sobre as amenidades de sempre. As questões dela
com o namoro que nunca dava certo e as lembranças dele do amor que morreu sem
razão de ser. Falavam e bebiam e sorriam. De vez em quando, alguma figura
conhecida do Leblon parava para falar com os dois. Tomava um chopp, contava uma
história, comia um petisco e seguia seu caminho de sábado. Uma tarde sentado
naquela varanda (se é que se pode chamar aquilo de varanda) tinha o poder de
regenerar seu cansaço pelo trabalho de toda a semana.
O bar enchendo de gente. O volume das vozes aumentando. E o
humor dos garçons começando a mudar. Os dois observavam tudo e riam dos
detalhes das mesas próximas. Ele conseguia ouvir a conversa de, pelo menos,
três mesas simultaneamente, ela focava uma situação e seguia como se fosse
novela. E os dois riam de cada lance da vida, deliciosamente mundana, que os
cercava.
Foi quando ele percebeu um casal em busca de uma mesa. Ele
primeiro viu a Menina com Charme e depois é que se deu conta de que ela não
estava sozinha. Uma fração de segundos. O suficiente para ele imaginar como
seria a história entre ele e aquela Menina.
...
Ela chegou sozinha no bar. Ele, sentado com uma amiga, viu
que ela não conseguiria um lugar e ofereceu uma cadeira para que se sentasse
com eles. Ela aceitou, sorrindo, charmosa. Sentou-se, pediu um chopp e começou
a ouvir e a falar como se fossem velhos conhecidos. Coisa de carioca, diriam os
paulistas.
A amiga, boa conhecedora dos brilhos dos olhos do amigo,
logo inventou uma desculpa para sair de cena e os deixou sozinhos no meio do
bar lotado. Ela contou sobre sua vida, sobre seus filhos, sobre seu trabalho. E
ele ouviu. A cada novo chopp ela ficava mais a vontade. A companhia facilitava.
Ele falava das suas coisas, do seu jeito e a conversa seguia fácil e gostosa.
- Você é sincero demais...
- Sou. Aliás... você não teria uma irmã gêmea para me
apresentar não, né?
E riram um riso fácil. A velocidade do chopp havia diminuído.
Os dois queriam continuar sóbrios e atentos um ao outro. Ela foi ao toillete. Ele
esperou. Na sua volta ele resolveu ir também. E, de frente para o espelho,
enquanto lavava as mãos, viu que seus olhos ganhavam um colorido novo. Sempre
que ele estava feliz demais ou bravo demais seus olhos ganhavam tons de verde.
Ele sorriu. Não estava nem ficaria bravo naquele dia.
Voltando para a mesa ele a viu sentada de costas para o seu
caminho e não resistiu a um abraço carinhoso. Ela encolheu-se, mas não se
furtou ao carinho e segurou seus braços com as duas mãos respirando fundo. Ele disse
no ouvido dela:
- Gosto de ter você por perto.
E com uma das mãos ele acariciou seus cabelos. E com carinho
beijou-lhe o rosto enquanto ela fechava os olhos. E com ternura voltaram ao
abraço que marcava o início de uma história de amor.
...
Quando se deu conta de que estava imaginando e não vivendo aquele
romance, ofereceu assento ao casal e logo começaram uma deliciosa amizade de
botequim. Coisa de carioca, diriam os paulistas novamente. Os meninos tinham
algumas coisas em comum. Mas ele não conseguia parar de olhar para ela,
dividido com a presença de um cara legal a seu lado que o impedia até mesmo de
imaginar qualquer coisa. Logo ela disse que precisava ir embora. Tinha que
pegar um dos filhos em algum lugar próximo. Deixou o namorado na mesa, avisando
que logo voltaria para buscá-lo, despediu-se e foi.
Alguns chopps a mais e ele também se foi.
A melhor amiga notou seu interesse, mas preferiu não
comentar. Ele escolheu ir embora. Disse que queria dormir um pouco. A amiga
ainda protestou:
- Mas já? Jura que você quer dormir agora? Por quê?
Ele pensou e respondeu:
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