(vinte anos depois)
Eu tinha saído de uma grande agência e montado a minha
pequena consultoria. Nessa época eu morava em São Paulo e as coisas prometiam
encontrar um caminho bom. Logo de cara consegui alguns clientes que me
mantinham com as contas pagas e curioso para saber de tudo o que acontecia no
mercado.
Um dia alguém me falou de uma menina e seus projetos e
acabamos marcando um encontro.
Ela veio ao meu escritório e logo na primeira olhada pensei
comigo: “vai ser difícil prestar atenção no projeto”. Sentamos numa mesa de
reunião e ela pacientemente foi me contando o que fazia e o que não fazia, o
que era e o que não era. E eu me esforçava para tentar entender, mas meus olhos
estavam fixos nos olhos dela que cismavam em desviar.
A conversa evoluiu, tomou outro rumo e ela me contou um
pouco da sua vida. Da sua paixão pelo mar e de uma viagem que estava por fazer
rumo ao extremo sul do mundo. Quanto mais eu ouvia as histórias mais encantado
ficava. Pensava quieto que tudo o que me ligava ao polo sul era a minha paixão
por pinguins, mas naquela conversa virei um especialista no assunto tentando me
mostrar interessante para a menina que me fascinava.
Marcamos outra reunião, antes da sua viagem, com o pretexto
de conhecer melhor alguns detalhes do projeto e voltamos a nos ver.
A essa altura eu já sabia que ela tinha um namorado e que o
cara era bem conhecido. Sabia que minhas chances eram nenhuma. Mas não sabia
como tirar aqueles olhos da minha memória.
Nesse encontro gastamos pouco tempo com o projeto e bastante
falando da vida, amores, sonhos, desafios e outras bobagens sem compromisso. A
conversa era boa. Ela estar por perto era bom e ficamos assim até perdemos a
hora e até que um de nós olhasse no relógio. O tempo não estava ao nosso lado.
Desci com ela até a garagem. Esperei seu carro. Ia me
despedindo aos poucos como se soubesse que não voltaria a vê-la. Desejei boa
viagem. Disse que se agasalhasse. Avisei que continuaria no mesmo lugar e a vi
partindo com um sorriso doce no rosto.
Depois, muito tempo depois, minha secretária aparece na
minha sala com um embrulho e um envelope. No embrulho uma caneca de pinguins
que guardo até hoje. No envelope uma pasta transparente com alguns peixes e
outros recortes de papel colorido que simulavam o fundo do mar. Junto, um
bilhete carinhoso da Menina que nunca mais vi.
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