quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Menina que nunca mais vi


(vinte anos depois)

Eu tinha saído de uma grande agência e montado a minha pequena consultoria. Nessa época eu morava em São Paulo e as coisas prometiam encontrar um caminho bom. Logo de cara consegui alguns clientes que me mantinham com as contas pagas e curioso para saber de tudo o que acontecia no mercado.

Um dia alguém me falou de uma menina e seus projetos e acabamos marcando um encontro.

Ela veio ao meu escritório e logo na primeira olhada pensei comigo: “vai ser difícil prestar atenção no projeto”. Sentamos numa mesa de reunião e ela pacientemente foi me contando o que fazia e o que não fazia, o que era e o que não era. E eu me esforçava para tentar entender, mas meus olhos estavam fixos nos olhos dela que cismavam em desviar.

A conversa evoluiu, tomou outro rumo e ela me contou um pouco da sua vida. Da sua paixão pelo mar e de uma viagem que estava por fazer rumo ao extremo sul do mundo. Quanto mais eu ouvia as histórias mais encantado ficava. Pensava quieto que tudo o que me ligava ao polo sul era a minha paixão por pinguins, mas naquela conversa virei um especialista no assunto tentando me mostrar interessante para a menina que me fascinava.

Marcamos outra reunião, antes da sua viagem, com o pretexto de conhecer melhor alguns detalhes do projeto e voltamos a nos ver.

A essa altura eu já sabia que ela tinha um namorado e que o cara era bem conhecido. Sabia que minhas chances eram nenhuma. Mas não sabia como tirar aqueles olhos da minha memória.

Nesse encontro gastamos pouco tempo com o projeto e bastante falando da vida, amores, sonhos, desafios e outras bobagens sem compromisso. A conversa era boa. Ela estar por perto era bom e ficamos assim até perdemos a hora e até que um de nós olhasse no relógio. O tempo não estava ao nosso lado.

Desci com ela até a garagem. Esperei seu carro. Ia me despedindo aos poucos como se soubesse que não voltaria a vê-la. Desejei boa viagem. Disse que se agasalhasse. Avisei que continuaria no mesmo lugar e a vi partindo com um sorriso doce no rosto.

Depois, muito tempo depois, minha secretária aparece na minha sala com um embrulho e um envelope. No embrulho uma caneca de pinguins que guardo até hoje. No envelope uma pasta transparente com alguns peixes e outros recortes de papel colorido que simulavam o fundo do mar. Junto, um bilhete carinhoso da Menina que nunca mais vi.

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