O combinado era sair antes das cinco da manhã. Os cavalos já
estariam prontos. O ponto alto do passeio seria assistir o nascer do sol do
alto de um morro lindo de onde se pode ver todo o horizonte de todos os lados.
Ele nunca precisou do despertador que ela ligou para as 4h30 e abriu os olhos às
4h25. Ela ainda dormia a seu lado. Ele preferiu ficar em silêncio e olhar,
apenas olhar para ela dormindo serena.
Foi com um abraço leve que ele trouxe ela de volta do mundo
dos sonhos sonhados para o mundo dos sonhos vividos. Ela acordou sorrindo,
devagar, mansa e com a felicidade tomando conta do seu corpo. Um beijo com
gosto de bom dia. Uma olhada no relógio. A pressa de não perder o espetáculo da
natureza. Os dois correram juntos para um banho rápido e evitaram se tocar para
não perderem a hora.
Calçaram as botas – ela tinha uma coleção – vestiram os
jeans surrados, e as camisas separadas na véspera e bateram a porta com os
chapéus na cabeça. Os barulhos da mata ainda eram os barulhos da noite. Andaram
um pouco e logo encontraram Seu Chico e os cavalos já arreados e prontos para o
passeio. Ele montaria um cavalo preto, grande e valente. Ela, a sua égua
preferida. Os dois acarinharam os animais antes de montar. Cada um do seu jeito,
os dois davam para os bichos um pouco de conforto e falavam palavras de carinho.
Os cavalos pareciam entender, pareciam sorrir, pareciam felizes.
Montados, seguiram pela trilha que os levaria ao topo do
morro. Estava escuro ainda e os barulhos das matas chamavam a atenção dos dois.
Tinham sempre muito a falar, um para o outro, mas naquele dia preferiam seguir
em silêncio, apaixonados pelo dia que nem havia nascido ainda.
Depois de meia hora, chegaram ao destino. Desceram e
deixaram os cavalos soltos perto de um riacho e seguiram a pé. Ele a abraçou
com carinho. Gostava de senti-la embaixo do seu braço, encaixada. Ela a olhou
com carinho, beijou seu rosto e repetiu: delícia! E seguiram por mais uns 50 ou
100 metros até o topo do morro.
Ele havia levado uma manta. Ela gostava disso. Sentaram juntos
em uma pedra e ele a cobriu com a manta. No céu, a lua cheia iluminava o fim da
noite que traria em minutos novas cores, novos ares, novos sons e encheria os
dois de sentimentos e sensações únicos. Era a segunda lua cheia do mês.
- Você sabia que essa é uma “lua azul”? uma blue moon? Ela
não sabia e ele explicou: - A segunda lua cheia dentro de um mesmo mês é
chamada de blue moon. Os antigos acreditavam ser um sinal de boa sorte.
Ela olhou novamente para o céu e enxergou a lua de um jeito
diferente. Ela gostava quando ele se exibia falando coisas que ela não sabia. Ele
gostava de dividir com ela as coisas diferentes que aprendeu com o pai e com os
livros de toda uma vida.
O céu, em breve começaria a mudar de cor. O sol já vinha. E
os dois olhavam fixo para o horizonte. O momento era mágico. E, do nada, uma
linda menininha loira apareceu na frente deles sorrindo e tampando a visão. Eles
ficaram confusos.
- Bom dia – disse a menina.
- Bom dia – responderam – quem é você? O que está fazendo
aqui tão cedo?
- Só vim dar bom dia e agradecer.
- Agradecer? Não entendi – disse ele.
- É que vocês tem um amor tão raro que transborda os limites
de vocês dois. Eu mesma estava dormindo quando senti um sopro de felicidade
entrando pela janela e acordei. Sai do meio do meu sonho sorrindo e vim ver
vocês.
- Nossa, que coisa estranha – disse ela.
- Não é não. Sempre tenho uns sonhos cheios de vida. Tudo acontece
neles. E hoje sonhei com vocês dois. Por isso vem dar bom dia!
- E com o que você sonhou?
- Sonhei que vocês dois se conheciam e que se apaixonavam
rápido demais. Em menos de uma semana vocês já tinham uma relação que muita
gente demora anos para conseguir. Era tudo muito intenso, muito forte. Não era
um sentimento comum, era especial. Iluminava o ambiente e as pessoas que
ficassem perto de vocês. Sonhei que vocês se entregavam de corpo e de alma um
para o outro sem nenhum medo de serem felizes. E sonhei que isso incomodava um
monte de gente e, que mesmo assim, vocês seguiam se amando.
- Foi mesmo assim que tudo começou entre a gente.
- E depois? Quis saber ela.
- Depois, vocês buscavam um no outro um ponto de equilíbrio.
As brigas que cada um de vocês tinha antes com o mundo haviam perdido a razão
de ser. Juntos vocês eram imensos. Eram tomados pelo bom senso e encontravam
sempre a melhor forma de lidar com os problemas.
- Muito bom... mas, e ai? Vivemos felizes para sempre? Que nem conto de fadas?
- Não... nada é que nem conto de fadas. Vocês tiveram suas
brigas. Tolas, é verdade, mas tiveram. Foi com elas que vocês descobriram que
precisavam um do outro como a noite precisa do dia, como a lua precisa do sol.
A vontade de estarem sempre juntos sempre foi maior do que qualquer briga. Mas,
no final do meu sonho vocês dois acordavam juntos e iam viver um momento único,
mas não sabiam disso. Por isso vim.
- Menina, você tem muitos mistérios. Explica melhor...
- Vocês vieram se beijar no nascer do sol no dia da lua
azul. Esse único beijo, nesse momento único é mágico. Com ele vocês selam um
amor ainda maior do que o amor que já sentem um pelo outro. E desse amor só vem
coisas boas. Com ele vocês podem tudo. Esse amor vai iluminar os olhos dos seus
filhos, o bem querer de seus amigos, o bem estar dos seus pais, a cumplicidade
dos seus irmãos e vai fazer de vocês um casal raro com um sentimento eterno...
- Como um casamento? Perguntaram juntos
- Não. Casamentos são diferentes e às vezes meio chatos. Como
mágica mesmo. Esse amor junta o que nasceu para estar junto. E mesmo que um dia
vocês decidam não estarem um do lado do outro, ainda assim vão estar juntos. O carinho
desse beijo não se encerra num sorriso, num momento. Esse carinho é pra sempre.
E os dois olharam para o céu por um instante. A lua azul
brilhava forte e os primeiros raios de sol despontavam. Olharam novamente para
o lugar onde estava a menina, mas ela havia sumido.
Olharam um para o outro e beijaram-se apaixonadamente.
Que bonita estória!
ResponderExcluirObrigado Fabiana! abs
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