Por entre a névoa daquela manhã de inverno o Poeta caminhava
pensando. E seguia, olhando apenas para seus próprios pés, imaginando quando
ele conseguiria encontrar um momento de lucidez no meio de tanta poesia. Dizia
para si mesmo que já não era mais possível imaginar um mundo perfeito à frente.
Encontrava seu dilema entre os dois lados da sua moeda particular.
- Quero ser quem eu sou. Sou feliz do jeito que sou. Gosto
de me apaixonar e de acreditar que dessa vez será diferente. E é. É sempre
diferente, mas nunca é o amor definitivo que sempre procurei e tão logo
descubro isso fujo e fujo rápido para não correr o risco de me contentar com
menos do que eu sempre quis, sempre sonhei. E por isso mesmo sigo sozinho.
A dor de acreditar e investir num ideal era chamada por
todos os seus amigos de infantilidade, imaturidade, imbecilidade. Mas ele não
se importava e, de tempos em tempos, declarava em alto e bom som: -
Encontrei! Encontrei a mulher da minha vida, para logo depois ter que desdizer. Foi sempre um preço muito alto a pagar. Escolheu sempre o caminho do amor e evitou sempre a comodidade dos amores de conveniência.
- Deixar crescer... todos me dizem que tenho que deixar
crescer e eu só me lembro da música adolescente que repetia o mesmo tema: “Let
it Grow, let it grow, let it grow”... Mas para deixar crescer preciso de alguém que sinta como eu. Não
posso deixar crescer algo que vá contra a minha natureza. Será que ainda tenho
tempo para isso? Será que é tudo isso em vão? Será que nada vai acontecer?
O sonho de poeta não permitia que ele se despisse dessa
roupa e buscasse um caminho mais calmo como quase todos a sua volta haviam
feito. O sonho de poeta lhe oferecia a possibilidade de sentir diferente, de
vier diferente, de ser diferente daquilo tudo que todos passaram a vida toda
dizendo que ele teria que sentir, que viver e que ser. Sua poesia já não estava
mais nas letras arrumadas em palavras, ele as havia abandonado. Preferiu viver
a poesia e transformar sua própria vida em um imenso poema de amor. Que missão
complicada, pensava ele. Que escolha mais sem sentido. Que diferença faz?
- Chega de poesia! Serei apenas mais um. Encontrarei uma
namorada que tenha mais qualidades que defeitos e aprenderei a relevar os
problemas e a valorizar apenas as coisas boas. Farei como todos fazem. Criarei
na pessoa que eu escolher a fantasia que não pude viver. Chega de poesia!
Buscarei o amor prático e a companhia para a velhice (que não tarda) e seguirei
minha vida como todo mundo segue a sua. Não serei mais infantil, imaturo,
imbecil.
E, enquanto repetia isso para si mesmo, sentia crescer a
imensa dor de abandonar sua fé nos sentimentos que ainda não sentiu, nas
poesias que ainda não viveu, nos ideais que ainda não se realizaram. A dor lhe
tomava de assalto, em defesa da poesia. Dentro dele a angústia crescia. Sua
razão e sua emoção haviam rompido relações.
... ... ...
Por entre a névoa daquela manhã de inverno o Poeta seguia
caminhando e pensando. Até que o mar veio lhe acariciar os pés e o sol que
despontava por de trás da montanha veio lhe beijar o rosto. No céu, os pássaros
davam vida à natureza que ele tanto admirava e logo um sorriso aberto preencheu
seu rosto. E ele se emocionou com o tanto de vida que cabia em um momento tão
curto.
Deu adeus à razão e seguiu seu caminho de poeta.
O amor é sempre redescoberto. Será que ele vai envelhecer feliz?
ResponderExcluirBoa pergunta... será? abs
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