sexta-feira, 29 de junho de 2012

Caminho de Poeta


Por entre a névoa daquela manhã de inverno o Poeta caminhava pensando. E seguia, olhando apenas para seus próprios pés, imaginando quando ele conseguiria encontrar um momento de lucidez no meio de tanta poesia. Dizia para si mesmo que já não era mais possível imaginar um mundo perfeito à frente. Encontrava seu dilema entre os dois lados da sua moeda particular.

- Quero ser quem eu sou. Sou feliz do jeito que sou. Gosto de me apaixonar e de acreditar que dessa vez será diferente. E é. É sempre diferente, mas nunca é o amor definitivo que sempre procurei e tão logo descubro isso fujo e fujo rápido para não correr o risco de me contentar com menos do que eu sempre quis, sempre sonhei. E por isso mesmo sigo sozinho.

A dor de acreditar e investir num ideal era chamada por todos os seus amigos de infantilidade, imaturidade, imbecilidade. Mas ele não se importava e, de tempos em tempos, declarava em alto e bom som: - Encontrei! Encontrei a mulher da minha vida, para logo depois ter que desdizer. Foi sempre um preço muito alto a pagar. Escolheu sempre o caminho do amor e evitou sempre a comodidade dos amores de conveniência.

- Deixar crescer... todos me dizem que tenho que deixar crescer e eu só me lembro da música adolescente que repetia o mesmo tema: “Let it Grow, let it grow, let it grow”... Mas para deixar crescer preciso de alguém que sinta como eu. Não posso deixar crescer algo que vá contra a minha natureza. Será que ainda tenho tempo para isso? Será que é tudo isso em vão? Será que nada vai acontecer?

O sonho de poeta não permitia que ele se despisse dessa roupa e buscasse um caminho mais calmo como quase todos a sua volta haviam feito. O sonho de poeta lhe oferecia a possibilidade de sentir diferente, de vier diferente, de ser diferente daquilo tudo que todos passaram a vida toda dizendo que ele teria que sentir, que viver e que ser. Sua poesia já não estava mais nas letras arrumadas em palavras, ele as havia abandonado. Preferiu viver a poesia e transformar sua própria vida em um imenso poema de amor. Que missão complicada, pensava ele. Que escolha mais sem sentido. Que diferença faz?

- Chega de poesia! Serei apenas mais um. Encontrarei uma namorada que tenha mais qualidades que defeitos e aprenderei a relevar os problemas e a valorizar apenas as coisas boas. Farei como todos fazem. Criarei na pessoa que eu escolher a fantasia que não pude viver. Chega de poesia! Buscarei o amor prático e a companhia para a velhice (que não tarda) e seguirei minha vida como todo mundo segue a sua. Não serei mais infantil, imaturo, imbecil.

E, enquanto repetia isso para si mesmo, sentia crescer a imensa dor de abandonar sua fé nos sentimentos que ainda não sentiu, nas poesias que ainda não viveu, nos ideais que ainda não se realizaram. A dor lhe tomava de assalto, em defesa da poesia. Dentro dele a angústia crescia. Sua razão e sua emoção haviam rompido relações.

... ... ...

Por entre a névoa daquela manhã de inverno o Poeta seguia caminhando e pensando. Até que o mar veio lhe acariciar os pés e o sol que despontava por de trás da montanha veio lhe beijar o rosto. No céu, os pássaros davam vida à natureza que ele tanto admirava e logo um sorriso aberto preencheu seu rosto. E ele se emocionou com o tanto de vida que cabia em um momento tão curto. 

Deu adeus à razão e seguiu seu caminho de poeta.



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