Coloque uma boa música pra tocar no computador e comece a
escrever. As ideias aparecem mesmo sem serem convidadas. Logo é uma festa de
palavras. Umas conversando com as outras, algumas cheias de reticências... outras de pontos e vírgulas; mas
todas elas aparecem... surgem do nada, mas surgem.
... ... ...
O poeta tinha uma mãe especial. Uma mulher diferente
de todas as outras que ele conheceu. Alta, magra e de uma elegância que a
destacava onde quer que estivesse. A mãe do poeta era linda, como são lindas todas as
mães de todos os poetas.
E o poeta não apenas amava sua mãe e via nela um exemplo de
mulher, como também a acompanhava aonde quer que ela fosse. Quando ela dizia: - Vou ao supermercado, ele corria para se arrumar e ir junto. Mesmo quando os
programas eram muito chatos para ele, ele estava lá.... fosse para o que fosse como... comprar
roupas, ir ao cabeleireiro ou qualquer outra coisa que as mães fazem. Apenas a
oportunidade de estar junto dela era o bastante para que ele quisesse marcar sua presença.
A mãe do poeta recomeçou os estudos tarde na vida e por isso
tinha amigas e amigos mais jovens. Algumas vezes o poeta menino ia junto com o
motorista para pegar sua mãe na faculdade. Dava um jeito de sair do carro e ir
procurar sua mãe entre as salas. Quando encontrava, entrava na sala e sentava-se
quieto ao lado da mãe que sempre esboçava um sorriso cúmplice. Havia também os terríveis momentos em que as amigas, normalmente as mais velhas, se divertiam
apertando as grandes bochechas do poeta menino – pouca coisa na vida o irritava
mais.
A melhor amiga da mãe do poeta era de outra cidade, aliás,
da mesma cidade de onde vinha sua mãe. Quando ela vinha visitar era uma festa. A
amiga tinha o incrível poder de transformar sua mãe em uma menina. A amiga
bebia o dobro que sua mãe e fumava o dobro também e ainda por cima falava os
palavrões que o poeta, menino ainda, não conhecia. Uma verdadeira aula que ele aproveitava como se fosse um sorvete de chocolate do Morais.
Em uma dessas visitas, a amiga da mãe hospedou-se no
Copacabana Palace e o menino foi com o irmão e com a mãe visitá-la. A piscina
do Copa era o melhor programa daquele tempo. Ele já ia pronto para nadar sem
parar durante o maior tempo possível. Só parava para tentar ouvir um pouco da
conversa dos adultos, tomar um gole de um suco ou roubar uns pedacinhos do maravilhoso
filet aperitivo que só havia no Copa.
- Quem quer dar um pulo na praia? Perguntou a amiga da mãe.
Ele logo se preparou, era sempre o primeiro a topar qualquer convite, fosse
para o que fosse. Levaram algumas toalhas e atravessaram o calçadão rumo a
praia que encanta até hoje todos os turistas que vem ao Rio. Lá, ela disse que
queria comprar um biquíni novo e parou logo o primeiro vendedor que passou.
Olhou, olhou, escolheu, escolheu e pronto. Decidiu-se por um biquíni mais
moderno e mais escandaloso do que os que ela tinha trazido de São Paulo.
- Bom, agora preciso trocar de biquíni, disse ela. Os olhos
do menino poeta se esbugalharam e ele não se conteve: - Aqui???? E ela riu
alto, como sempre ria e disse: - Mas é claro que sim. Cada um pega uma toalha e
vamos fazer uma cabine para eu trocar de biquíni. E logo o menino e mais duas
pessoas juntaram 3 toalhas em volta daquela figura impar enquanto ela
arremessava primeiro a parte de cima do biquíni e em seguida a de baixo, para
delírio de quem passava por lá.
- Podem baixar, disse rindo e o menino baixou rápido
encontrando a amiga de sua mãe em um biquíni supermoderno e sensual. Nossa,
está demais – pensou ele, sem dizer.
Depois voltaram ao Copa, onde ela queria mostrar
sua nova aquisição e desfilar pela piscina escandalizando os falsos moralistas
de plantão e chamando a atenção do Ibrahim Sued que passava as tarde por lá.
Bomba, bomba, bomba!
O menino poeta, depois de recuperar o fôlego e ainda sem
entender bem o que sentia, achou melhor dar um tempo na piscina. Sua mãe e os
demais amigos aproveitavam o sol e o ambiente tomando doses semi-industriais de
gin tônica – a bebida perfeita para ser tomada na beira de qualquer piscina e em qualquer lugar do mundo.
Os risos aumentavam, a diversão era imensa e aquela alegria
logo trouxe o menino poeta de volta para perto da mãe. Ele queria ouvir mais do
animado papo e a amiga já não media mais o que podia ou não dizer na sua
frente. A tantas horas ela contou um caso de um amor tórrido que tinha acontecido com ela
e o menino ficou petrificado. Ele nunca havia escutado tantos detalhes de um
romance tão excitante e, imóvel para que não fosse notado, permaneceu fixado
nas palavras que saiam da boca da amiga de sua mãe.
Quando ela notou o estado do menino riu. E disse: - Querido,
aprenda uma coisa pro resto da sua vida: a vida sem amor é uma merda!
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