terça-feira, 19 de junho de 2012

Lembranças de Aniversário - Memória Seletiva


Tive a sorte de ser afilhado de Genésio e Vanja. Duas pessoas incríveis que fizeram a minha vida melhor em cada palavra e em cada carinho que recebi de ambos. Tio Genésio morreu cedo, ou melhor, cedo comparado com ela que viveu até seus 103 ou 104 anos de idade. Tia Vanja foi madrinha de minha tia e de minha avó também, portanto ela já era uma senhora quando me segurou para o banho de água benta.

Na minha casa de garoto junho e julho eram meses de festa. Meu pai e meu irmão fazem anos em junho e eu em julho, mas como bom leonino começo as comemorações um mês antes e sigo comemorando até o ano seguinte.

Tia Vanja era uma mulher prática. Em quase todos os meus aniversários, lembro-me dela me entregando um pequeno envelope com o que ela chamava de dinheirinho de aniversário e o que achava ser uma fortuna. Ela sempre repetia que era mais fácil que eu escolhesse meu próprio presente. E aquilo se tornou um ritual que acontecia repetidamente e que me fazia sonhar com as maravilhas que eu poderia comprar com seu dinheirinho.

Mas antes disso houve um ano em que ela resolveu presentear os três aniversariantes ao mesmo tempo e mandou entregar em nossa casa uma sacola com três embrulhos cada qual com seu nome. O meu foi fácil, mas meu irmão e meu pai tem o mesmo nome e aí começou a confusão.

Tia Vanja sempre chamou meu pai pelo nome em diminutivo e na hora de marcar os presentes não fez diferente. Só que em casa o diminutivo era usado para o meu irmão e não para o meu pai, que aliás não tinha nada de diminutivo.

Meu irmão foi direto e reto para o pacote marcado e abriu avidamente o seu presente no auge dos seus treze ou quatorze anos. Era uma loção pós-barba ou um after-shave como se dizia na época. Lembro do seu rosto de felicidade com o presente que instituía sua maturidade precoce. Lembro da alegria dele em ser reconhecido como um adulto digno de se barbear. A emoção tomou conta dele naquele final de tarde e ele não parava de comemorar sua nova fase de vida.

Contou para a minha mãe, contou para os empregados e repetiu inúmeras vezes para mim que a minha madrinha era simplesmente o máximo e que ela estava sendo a responsável por um dos melhores momentos da sua vida.

Tanta alegria só durou até o meu pai chegar em casa e abrir seu embrulho. Dentro dele, um carrinho de bombeiros revelava o mal-entendido. Presentes destrocados e agradecimentos feitos ficou certo ar de decepção no rosto do meu irmão, mas ficou também uma marca na sua vida por descobrir que o homem generoso, alegre, querido e íntegro que ele é hoje estava se formando. Quem sabe no ano que vem, deve ter pensado ele.

Parabéns irmão querido! Curta seu dia!

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