Mas o valente carrinho seguiu devagarinho pelo caminho na busca de uma praia que me surpreendesse, embora eu não acreditasse que isso pudesse ser possível depois de passar pela praia da Fazenda, Felix, etc. No caminho um rio acompanha o carro e entre uma curva e outra surgem pequenas quedas d'água em pedras imensas que fazem a paisagem espetacular.
Toquei o carro em frente quase convicto de que eu estava no caminho errado, mas sem me importar a mínima porque, mesmo que fosse o lugar errado, era um lugar lindo. De repente uma pequena vila...pequena mesmo, apenas algumas casas "ajuntadas" e uma escola interditada porque a sua construção está em risco. O carro segue até que chego no final da linha e um menino se oferece para guardar o carro. Conversamos um pouco e ele me conta que não está na escola por conta da tal interdição e me convenço de que ele era um bom garoto e que poderia me dar umas dicas. Bom, quando você pede informações no meio de um pessoal que não tem muito com quem conversar, logo aparece um monte de gente pra palpitar e assim foi.
Um cara numa moto me fez uma oferta para um passeio de barco até um lugar chamado Saco da Velha... ri com o nome e perguntei se isso era mesmo bonito, porque o nome não era. Ele disse que teria que pegar o barco no rio e que só estaria lá por volta de meio-dia...se a maré ajudasse.
Resolvi ficar por aquela praia mesmo. Tirei várias fotos, andei para um lado, andei para o outro e me diverti com o paraíso particular. Eu era a única pessoa com roupa de banho naquelas redondezas.
A tantas horas vejo um dos caras que tinha me dado umas dicas ajudando outro a carregar um motor de popa na areia fofa. Ele ajudou até um ponto e depois foi embora. O dono do motor foi buscar alguma coisa e voltou. Vi que ele ia tentar colocar sozinho o motor num pequeno barco e me ofereci para ajudá-lo e ajudei. Ele agradeceu e me disse que se eu não tivesse combinado com o outro cara (ele já sabia da minha vida toda), ele mesmo podia me levar... fiquei interessado e conversamos um pouco.
Perguntei por quanto ele faria o passeio e ele me disse que ia para Mamanguá de qualquer jeito e que invés do preço normal ele poderia me cobrar só a gasolina... três vezes menos do que o outro!!! Fechei com ele mas disse que precisaria de um favor e perguntei se ele se incomodaria em parar para que e jogasse a caixa com as cinzas do meu pai no fundo do mar. Ele não se importou. Acho até que ele achou bonito o gesto e quis ajudar.
Embarquei e partimos numa conversa entre pescador e homem da cidade grande que não entende nada do que eles falam. Ele me disse que tinha que levar uns documentos para uma prima que morava numa ilha próxima e que depois seguiríamos para Mamanguá e assim tomou o rumo da tal ilha... um lugar lindo, lindo, lindo em que você não acredita que possa morar alguém, mas mora.
Uns cinco minutos antes de chegarmos na ilha ele me disse: - olha, aqui é bem fundo e bem bonito. Você quer jogar a caixa aqui? Eu olhei em volta e realmente o lugar era um paraíso. Ele me disse depois que ali se chamava Ponta da Cajaíba. Paramos o barco e eu disse a ele que faria uma prece. Rezei um Pai Nosso e uma Ave Maria, pensei com todo carinho no meu pai querido e joguei a caixa com seus restos mortais em um lugar tão bonito que eu também gostaria de ter os meus restos mortais jogados lá. Me emocionei, algumas lágrimas rolaram, mas fiquei feliz em ter encontrado um lugar tão especial. Rezei um pouco mais em silêncio, agradeci e disse a ele que podíamos seguir.
Na ilha ele entregou "uns documentos" que depois me explicou que era o comprovante de residência daquela família. Ele é o Presidente da Associação de Amigos e Moradores de Mamanguá e por isso ele é quem cuidava de fornecer esse documento, tão básico e necessário que todas as pessoas por onde passamos o pediam para o meu amigo. Seu nome: Janildo... não posso esquecer de escrever sobre os nomes dessa viagem.
Como Presidente da tal associação ele estava rodando a região para convocar os moradores e pescadores para uma reunião na quinta feira com a presença da Capitania dos Portos e do Prefeito para falar sobre a conservação dos novos cais que estão sendo recuperados na região. Com isso, fotos, fotos e mais fotos em lugares maravilhosos e, entre uma parada e outra, Janildo me falava sobre a região me mostrando a casa do Roberto Irineu Marinho, a outra onde filmaram o final de O Crepúsculo, a do Xande Negrão e por aí vai. O cara é um guia e por umas três horas me mostrou toda a região com orgulho de quem nasceu e foi criado lá.
Na volta ele me perguntou: - quer ver umas tartarugas? e levou o barco para mais próximo da costa, de onde rapidamente surgiu uma imensa tartaruga do lado do barco. Não deu nem tempo de fotografar, mas esse cara fez desse um dia mais do que especial para mim e vou guardar com carinho as fotos e as lembranças do passeio mais bonito que fiz até agora.
Verdade isso da caixa com as cinzas do seu pai? Fiquei chapada! Lembrei de recomendar o filme The Way, com Emilio Esteves, trata de uma situação igual mas oposta (vai entender se assistir).O filme se passa no caminho de Santiago de Compostela.
ResponderExcluirFoi assim mesmo querida. Não conheço o filme mas vou ver se assisto...bjs
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