Por um lado eu sei que estou enrolando pra entrar no assunto que me motivou a escrever mais um blog. Acho que dói demais... ser incompetente emocional não é nada fácil. Daí comecei a pensar mais um pouco sobre meu pai e suas histórias, as que eu soube e se é que eu soube direito.
Acho que meu pai era um Incompetente Emocional ainda mais gabaritado do que eu.
Nasceu sedutor, sempre foi um sedutor, morreu sedutor. Das histórias que sei fica claro que ele era o tipo de pessoa que lia as outras com muita rapidez e riqueza de detalhes. Assim, ele conversava um pouco, juntava as percepções e em seguida partia para seu costumeiro ataque de sedução. Falava sobre qualquer assunto, impressionava com a sua assertividade e mesmo que estivesse errado em alguma coisa, ninguém ousaria duvidar. Era divertido assistir seus shows de sedução, fosse com quem fosse. Sim, porque ele não fazia isso apenas com as mulheres que lhe interessavam. Fazia com todo mundo, do manobrista de qualquer restaurante ao Presidente de qualquer empresa. Do guarda de trânsito até um Ministro do Supremo. Mas eram as mulheres que ocupavam sua máxima incompetência. Ele colecionava amores, amantes, apaixonadas e admiradoras. Era um séquito de mulheres sempre se atirando para ele.
Lembro que nossa diversão favorita era quando o telefone da casa dele tocava e eu estava lá. Como nossas vozes ao primeiro "alô" eram muito parecidas, invariavelmente eu ouvia coisas como: - Oi amor da minha vida ou - Paixão que saudade.... eu sempre ria e dizia que não era o amor da vida dela mas o filho dele... e ele se divertia em dobro pela peça pregada.
Se eu parasse de escrever esse post agora, muita gente que me conhece diria... tá vendo...ele imita o pai e também quer um séquito de mulheres e apaixonadas atrás dele... mas o post não acaba aqui.
Apesar da sedução meu pai não morreu casado e nem mesmo namorando ninguém. Morreu só, como nunca quis ficar. Morreu reclamando a sorte que ele mesmo escolheu. Apesar das mulheres que ele seduziu e cuidou, ele morreu sem amor e isso é triste.
Lembro que numa das últimas conversas que tivemos falei sobre meu casamento, que ia de mal a pior, e ele me recomendou que eu segurasse a relação o máximo possível. Prático como ele era, suas palavras foram: - Fique casado até que a Sophia tenha pelo menos 15 anos. É importante para você, para sua mulher e principalmente para sua filha. E confesso que pensei muito sobre essas palavras e continuei tentando manter o casamento a qualquer custo. Foi assim até o dia em que a Sophia não aguentou mais nos ver brigando e, chorando, me disse: - vocês deviam se separar, essas brigas são muito ruins.
Essas foram quase as mesmas palavras que usei quando eu tinha 15 anos e não aguentava mais ver meus pais brigando. Eles se separaram logo depois e por conta disso carreguei a culpa da idade. Passei muito tempo achando que eles tinham se separado por minha causa e precisei trabalhar isso em mim para entender que não era verdade. Do meu lado falei inúmeras vezes para a Sophia que minha separação não era causada pelo que ela tinha dito, mas era uma busca pela felicidade, minha, da Ursula e, principalmente, dela mesmo.
Algumas das namoradas do meu pai eram muito chatas. Não entendia a relação dele, mas evitava julgar. Só me lembro de uma vez que pedi para ele evitar convidar a namorada da vez quando estivéssemos juntos porque eu a achava insuportável. Ele se magoou com isso, mas nunca mais a chamou quando eu estava junto.
Claro que eu, menino, achava meu pai o máximo quando seduzia suas namoradas. prestei bastante atenção nisso e muitas vezes depois não me furtei de repetir sua fórmula de sucesso. Meu pai me ensinou a arte zen de ser um verdadeiro incompetente emocional e eu me graduei com louvor.
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