Quando me desligo do passado, seja por exaustão ou por convicção (ainda que podendo ser passageira) rapidamente me entrego às fantasias, donas da minha poesia, encantos da minha vida. As fantasias são para mim as musas essenciais de cada palavra que escrevo. Sem elas não haveria nem um poeminha, nem uma crônica, nem um contozinho... nada, nada, nada...
Há muito tempo atrás, mas precisamente em 1985, escrevi uma história que falava sobre uma das fantasias da minha vida. Uma linda mulher que amei profunda e intensamente. Quando terminamos, ou melhor: quando ela terminou comigo, fiquei tão arrasado e chorei tanto que precisei botar aquilo tudo para fora. Escrevi a história de uma mulher chamada Fantasia que se tornou uma espécie de totem....tinha uma levada indígena o texto, mas ficou bem bom. Entreguei o texto de presente junto com a Flauta Mágica executada pela orquestra de Londres (eu acho) e dei por acabada aquela história que nunca mais voltou a me incomodar. Hoje somos bons e queridos amigos. Ela segue uma linda mulher mas o amor acabou com a fantasia.
E assim me dou conta de que alterno entre uma fantasia e outra. Uma, a fantasia de um amor que já morreu e que não voltará mais e de outro as fantasias que sou capaz de criar ao longo do dia. Imagino que a moça que conheci ainda outro dia pode ser a fantasia ideal para minha vida de poeta, ou não... quem sabe a moça que conheço há tantos anos pode me revelar um lado de fantasia que nunca percebi...ou quem sabe amanhã quando acordar e resolver sair para conhecer as praias próximas eu encontre uma mulher que me fascine e que rapidamente assuma o posto de fantasia...vai saber. Isso realmente não é importante hoje. O que é importante de verdade é que eu me dê conta de que eu sou movido a fantasias e, baseado nisso, entenda se eu quero ou não continuar sendo assim.
Penso no meu casamento de quase 15 anos. Antes de me casar eu era exatamente como sou hoje, o mesmo poeta, o mesmo poder de fantasiar, o mesmo apaixonado pela paixão. Um dia conheci uma alemã que simplesmente não entrou no meu mundo fantasioso. Me propôs um outro mundo onde teríamos muita coisa a construir juntos e aquilo me fascinou e foi tanto o fascínio que nossa história gerou uma filha linda e muito amada e quinze anos de convívio intenso. Não é que o casamento não tenha dado certo, pelo contrário: quinze anos não são quinze dias ou quinze meses. O casamento deu muito certo até que paramos de construir juntos o mesmo mundo. Mesmo assim, ainda ficamos dois anos juntos tentando ver quem conseguiria ceder e o quanto cada um de nós seria capaz de ceder até que concluímos que não dava mais e terminamos nossa história romântica para começar a escrever outra história como pais da nossa filha e como amigos que queremos ser para sempre.
Sou como sou e pago meu preço por isso. Ele é um louco, ele é irresponsável, ele é inconsequente e por aí vai. Impressionante como as pessoas gostam de falar da minha vida, mas minhas contas ninguém quer pagar.
O fato é que comecei a história com "ela" menos de três meses depois de me separar e com isso não vivi um necessário luto de um casamento de 15 anos. Isso fez falta pra minha relação com ela e para mim mesmo que acabando passando por cima do fim do casamento como se isso não tivesse sido uma coisa imensamente importante, como foi. O fato é que a nova relação era tão forte e intensa que não tive como refletir ou amadurecer com o fim do casamento. Mas ninguém escapa de um luto de relação, pode ser quando acaba, pode ser muito depois, pode ser a qualquer hora, mas ninguém escapa, isso é fato. Acho que no meu caso acabei juntando dois lutos em um só. Tive que encarar tudo junto. Sabe sensação de impotência que vem com o final dos relacionamentos que não acreditávamos que fossem acabar? Pois é, no meu caso veio em dobro e doeu, putz como doeu e ainda dói de vez em quando. É como a hérnia de disco que operei...hoje nem lembro, mas de vez em quando ela vem me lembrar que ela esteve ali e fez estrago.
Mas qual é a questão então? Fantasiar ou não fantasiar???? Isso não é questão para mim. É impossível para mim não viver fantasias, como pode um escritor fingir que elas não existem ou dizer: - a partir de agora vocês precisam ficar longe de mim...??? É como jogar fora a caneta (nos dias de hoje, o laptop) e ir brincar de expectador da vida... não é pra mim.
Minha conclusão é bem lógica: a fantasia sou eu!
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