segunda-feira, 14 de maio de 2012

Do Começo

Hoje é o primeiro dia em que me sinto realmente de férias. Acordei cedo como tenho acordado cedo todos os dias, esperei minha mãe acordar, tomamos café juntos e me preparei para o início dessa viagem que vai de mim até mim mesmo.

Voltando um dia no tempo, ontem perguntei para o meu irmão sobre as cinzas do meu pai. Pode parecer louco mas nunca me preocupei muito em saber, porque foi ele quem cuidou de tudo. Sabia que esteve em um armário na casa dele, mas não sabia muito mais do que isso. Ele me disse que continuava lá e eu disse que gostaria de levá-las para jogar as cinzas do meu pai no mar, o que ele achou ótimo.

Essa atitude tão simples me obrigou a pensar e de cara a me sentir incompetente por jamais ter cuidado disso. Meu pai já morreu há dois anos e durante todo esse tempo seus restos mortais ficaram em um armário. E se fosse eu? acho que eu voltava pra puxar o pé do meu filho...

Hoje de manhã, depois de passar no supermercado, encontrei meu irmão no seu apartamento e peguei a "sacola"... isso mesmo: papai ficou numa sacola nos últimos dois anos e eu nem sabia. Tudo bem que é uma sacola digna, discreta e a urna dentro dela está hermeticamente lacrada por um plástico que contém a informação básica de que ali estão os restos mortais de Carlos de Figueiredo Forbes.



Com a sacola devidamente acomodada no banco do carona parti...direto rumo as curvas da estrada de Santos. Fiz como ele gostava: música alta, ar-condicionado ligado apesar do frio e vim calmamente descendo a serra. A música não era a que ele mais gostava mas me fez a companhia que eu precisava para uma manhã chuvosa.

Mesmo antes de sair rumo a Iporanga, na casa de um querido amigo (Tony Gil), decidi que iria a Santos e tentaria jogar na praia em frente a Avenida Ana Costa as cinzas de meu pai. A chuva quebrou esse encanto mas não me impediu de ir até o número 493 da estrada para ver o que havia no lugar da casa da infância dele. Hoje existe um prédio com algumas lojas embaixo, inclusive uma papelaria onde aproveitei para comprar um bloco e umas bobagens. Fotografei o número da fachada e segui rumo a outro lugar que sempre quis voltar e que só tina conhecido na infância: a Igreja de N. Sra. de Monte Serrat.




Subi o plano inclinado em uma espécie de bonde que sobe de meia em meia hora. Tirei diversas fotos no caminho e lá em cima entrei na igreja para rezar e chorei. Chorei muito por estar lá e por saber da importância desse lugar para meu pai e seus irmãos, principalmente o Raul. Rezei por meus mortos. Além de meu pai, rezei por meus avôs e avós e rezei também pelos meus vivos. Por minha mãe, minha filha, meus amigos e meus amores. E chorei o choro do início dessa minha caminhada em busca de mim mesmo.





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