sábado, 19 de maio de 2012

Sem nunca perder a ternura


Uma das coisas que eu realmente gosto é de ser quem eu sou. Passei  boa parte da minha vida ouvindo um ou outro me dizendo como eu devia ser, o que falar, como me vestir, quando calar e quando responder e por aí vai. É impressionante como as pessoas gostam de tentar impor regras na vida dos outros. Comigo nunca funcionou muito. Meu pai dizia que por um lado eu era muito bem treinado e por outro que eu nunca conseguiria entender a diferença entre o Rio e São Paulo. Claro que eu entendi cedo, mas nunca fiz questão de me adaptar às regras paulistanas do bom convívio, rumo ao sucesso social. Detesto a ideia de que você tem que ser assim ou assado para: “se dar bem”.

Sempre gostei de me vestir mais largado. Menos camisinha de grife, calça na medida, sapatos lustrados e etc. Nunca me vi nesse papel de Mauricinho paulistano, nem quando eu morei em São Paulo e, honestamente, isso nunca fez nenhuma diferença na minha vida. Pelo contrário, as pessoas sempre souberam que eu era “o carioca” e isso me dava a liberdade de ser quem eu sou, do jeito que gosto de ser.

Mas hoje, isso não é um problema. A questão é me comportar assim ou assado porque é o que esperam de mim. Putz, que perda de tempo. Tem um lado meu que parece ansiar pelas regras que querem me impor... tipo: fala aí...como é que você quer que eu seja...e é só dizer pra eu me comportar de um jeito diametralmente oposto. Não é pra ser do contra, mas é porque me parece absurdo que as pessoas queiram todas participar do mesmo rebanho com o mesmo jeito, mesmo discurso, mesmas roupas, etc. Detesto me sentir parte do lugar comum. Passei minha vida inteira pensando, refletindo, analisando, observando pra de repente me tornar apenas “mais um”. Nem consigo imaginar (nem quero) o que é ser “mais um”.

E por ser assim, sempre paguei meu preço. Aprendi cedo que devia ser mais intolerante comigo mesmo do que com os outros. Claro que na adolescência era o contrário, mas aprendi que eu não ia jamais mudar ninguém a não ser eu mesmo. Parei de julgar e parei de esperar dos outros o que não era deles, mas fiquei com a sensação de que “os outros” faltaram nessa aula. Que mania que as pessoas têm em me julgar e me dar ordens. Pra que? Será que até hoje elas não aprenderam que não adianta nada? Não é que eu faça parte da turma do “eu sei errar sozinho”, mas tenho excelente noção das coisas que faço e as razões que me levam a fazer. Não sou nenhum inconsequente.

Mas ainda me aborreço com algumas coisas e isso me faz reagir de uma maneira muito mais agressiva do que deveria. Por exemplo: se no trabalho alguém insiste em desconhecer o óbvio e a agir de forma absurda perco as estribeiras, como diria meu pai. Juro que eu conto até dez, finjo que não entendi, me faço de idiota, mas tudo isso é inútil contra a burrice. Burrice é o meu demônio. Tenho horror a gente burra. Não qualquer burro, o que me incomoda é o burro orgulhoso de ser burro...o povo que sabe errar sozinho.

É assim também nas minhas relações. Por que tentar fazer o outro ser do jeito que você imaginou? Por que culpar o outro pelas suas expectativas frustradas? Se o nome disso não é burrice não sei que nome tem.

Na verdade, quando cada um resolver empacar e tentar convencer o outro que é ele quem está errado, normalmente os dois estão. A discussão já deve ter começado num erro e esse erro está quase sempre, se não sempre, nas expectativas do outro ou nas nossas. Que mania nós temos em esperar do outro aquilo que ele não tem pra dar. Se não tem, não tem e pronto. Quer o que tem? Ótimo...não quer, parte pra outra, mas não enche a paciência alheia... e pelamordeDeus... não perca a ternura, jamais.

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