Essa é uma história tão antiga que vou ter que pular muitos capítulos. Fazendo as contas, tudo começou há mais de 23 anos... é muito chão.
Eu trabalhava em uma multinacional atendendo uma conta importante e bem complicada que me ajudou muito a alavancar minha carreira. Trabalhava feito um louco. Não tinha tempo ruim. Não tinha horário. Não tinha fim de semana. Não tinha nada que me desviasse de fazer aquela conta dar certo e com isso crescer dentro da empresa. Foi uma opção pelo trabalho que julguei ser a coisa mais importante da minha vida naquele momento. No cliente, a gerente de marketing era uma pessoa complicada mas justa e rapidamente encontramos um jeito de fazer as coisas funcionarem.
Um dia, fui apresentado para a nova assistente de marketing. Uma menina linda com covinhas lindas e que me deixou impressionado desde a primeira vez que a vi. Mas ela nem me notou e não me deu a menor atenção e eu optei por ficar quieto na minha até o dia em que a chuva fez o seu papel.
Depois de uma imensa discussão na agência sobre mudar ou não umas peças que já estavam prontas e aprovadas fui obrigado a ir ao cliente para desrecomendar o que havíamos aprovado e mostrar uma solução melhor. Lembro até hoje como eu fiquei puto da minha vida. Não entendia porque eu deveria rever uma coisa que estava aprovada mas: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Saí da agência com os novos layouts embaixo do braço rumo ao cliente que ficava a umas quatro ou cinco quadras de distância. Chovia muito no Rio e eu acabei deixando a chuva me molhar por inteiro. Achei que aquela seria uma excelente forma de me acalmar e jogar fora a raiva que eu sentia.
Comecei a gostar de andar na chuva e de me molhar daquela forma e nem me importei com o aspecto que eu teria quando chegasse no cliente. A chuva me fez bem, muito bem, e eu cheguei com ótimo astral no cliente pronto para desdizer tudo o que eu tinha dito antes e convencê-los de que a nova solução era muito melhor do que a antiga. Entrei pingando pelos corredores até o departamento de marketing e passei pela menina das covinhas no caminho e notei que ela me olhou pela primeira vez de uma forma diferente. Segui em frente e aprovei o que precisava aprovar e voltei para a agência debaixo da mesma chuva mas com a sensação de dever realizado. Foi uma bela lição profissional que eu levei naquele dia.
Uma ou duas semanas depois haveria a festa (a fantasia) de final de ano do cliente para a qual eu havia sido convidado. Pedi para o pessoal do estúdio montar dois cartazes em papel paraná (um papel super duro) e juntei os dois com uns barbantes ou coisa que o valha. Minha fantasia estava pronta: eu iria de homem sanduíche. Na festa encontrei a menina de covinhas vestida de palhacinha, mais linda do que nunca e ficamos a maior parte do tempo juntos. De lá ofereci uma carona, paramos na Pizzaria Guanabara para comer algo e começamos a nossa história de amor.
Foram muitos anos de namoro e dois pedidos de casamento devidamente recusados. Ao mesmo tempo em que nos amávamos profundamente, tínhamos perspectivas de vida muito diferentes e aquilo era bem complicado. Tivemos inúmeras idas e vindas até que em um dos términos ela me disse: - Eu não te amo mais. Aquilo doeu muito, mas muito e eu respondi feito criança idiota: - Se você não me ama mais, então eu vou casar com a primeira mulher que quiser se casar comigo. Ela duvidou e eu segui minha vida.
Duas semanas depois conheci a minha primeira ex-mulher (não a mãe da minha filha). Começamos um namoro e, encantado pela vontade que nós tínhamos de que aquilo funcionasse me empolguei de verdade. Na manhã seguinte a nossa primeira noite juntos, eu acordei mais cedo e fiquei olhando para ela. Quando ela acordou eu perguntei: - Quer casar comigo? e ela quis e nos casamos cinco meses depois de nos conhecermos. Foi tudo muito intenso e louco e, infelizmente não deu certo, como era de se esperar. E quando decidimos nos separar (eu morava em São Paulo) vim passar o fim de semana no Rio e a primeira pessoa que encontrei foi a menina das covinhas e ficamos juntos e voltamos a tentar fazer com que aquele amor desse certo. Não deu.
Por muito tempo, com idas e vindas, nós tentamos mas, por alguma razão, estávamos sempre em momentos de vida diferentes e isso gerava conflitos imensos, brigas e sempre acabava com o rompimento. Depois, passava algum tempo e tentávamos de novo e a história parecia que jamais teria um fim.
A menina das covinhas ao longo de todo o tempo em que nos conhecemos sempre teve o seu espaço. A vida levou cada um para um lado. Conheci a mãe da minha filha, me apaixonei e me casei e tive um casamento que deu muito certo por quase quinze anos e nesse tempo não estive com a menina das covinhas nem soube bem o que ela estava fazendo. Sei que morou em outro estado, sei que tentou se casar uma ou duas vezes, sei que não teve filhos e sei muito pouca coisa além disso.
Há algum tempo atrás voltamos a nos esbarrar. Ela estava em um relacionamento com um cara que é sócio do mesmo clube que eu e nos encontramos algumas vezes na piscina. Ele nunca foi muito simpático comigo e eu nunca fiz questão de ser com ele também. Vida que segue, sem drama.
Com a minha separação, a vida me levou para outros caminhos, outros lugares, outras pessoas e a menina das covinhas, na minha cabeça, estava "casada" e estarmos juntos não era algo que poderia voltar a acontecer e eu segui minha vida.
Antes das minhas férias teve um dia em que eu pensei muito nela e vi que ela entrou no MSN e perguntei se estava tudo bem. Ela me disse que sim e eu disse que não era o que eu estava sentindo mas, se ela estava dizendo que estava tudo bem, então é porque devia estar. No final das férias em Paraty vi um barco com o nome dela e mandei a foto e uma mensagem por MSN e ela me disse que estava péssima, que tinha terminado o namoro/casamento e o resto que eu contei em outro post.
Neste fim de semana saímos juntos para conversar. Zero expectativas. Mas o fato é que o amor que temos um pelo outro é o maior que pode existir e o carinho e a vontade de ver o outro bem é imensa. Ficamos até tarde conversando, trocando, falando, lembrando, pensando, curtindo, rindo, chorando, sendo...
Ontem ela me disse que era melhor não nos vermos enquanto ela estiver vivendo o luto do fim da relação. Foi ela quem terminou com o cara, mas foi muito tempo e na cabeça dela começar algo agora seria deixar o luto pela metade e isso pode ter consequências no futuro.
Por um lado admiro a maturidade dela em me dizer isso e escolher viver assim. Por outro, entristeço.
O que me deixa muito tranquilo é saber que o que nós dois temos, um pelo outro, é maior que tudo o que já tivemos por qualquer outra pessoa e é mais simples e mais bonito também. Tudo tem sua hora. E se tivermos que estar juntos, estaremos. Sem pressa, sem drama, sem agonia e sem expectativas.
Adoro aquelas covinhas.
que bom que vc tem uma "menina de covinhas" na sua vida!
ResponderExcluirÉ sim, bom demais! bj
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