quinta-feira, 31 de maio de 2012

Meu Primeiro Beijo

Eu tinha treze anos de idade e a vida estava só começando a mudar para mim. Fim dos bons tempos do primário no Colégio Santo Inácio eu ingressava no ginasial e minha forma de ver a vida mudava junto com ela. Lembro-me, ainda menino, que muitas e muitas vezes sentei a beira do imenso campo de areia do colégio para comer meu lanche e ver as crianças correrem de um lado para o outro, sem destino e sem razão para isso. Eu? Quieto no meu canto pensava sobre aquilo e já não entendia bem. Buscava razões onde elas não estavam e comia meu lanche sozinho.

Nesse tempo as descobertas eram mais frequentes. Todos os dias havia algo de novo. Um dia foi o rádio que um amigo me perguntou se eu não ouvia e, por conta disso, comecei a ouvir e nunca mais parei. Outro dia era a poesia que encontrei entre os incontáveis livros de meu pai e a quem dediquei muitos dos meus esforços em mal escritas linhas. Era um tempo novo. Lembro que a cada dúvida que eu levantava com meu pai na mesa de jantar ele respondia com o número do "tomo" do Novo Tesouro da Juventude e da página aonde eu encontraria minha resposta. Ele estava invariavelmente certo. E eu lia e voltava para conversar sobre o que havia lido. E assim ele me ensinava a buscar respostas ao invés de apenas formular perguntas.

As questões e curiosidades sexuais e amorosas eram departamento da minha mãe. Uma libertária de nascença que falava de qualquer coisa sem criar mentiras ou falsear explicações. Ela era clara, direta e dedicada a nossa formação emocional. Acho que havia nela um certo medo de que nos transformássemos pessoas mais duras do que o mundo precisa. Ela nos amolecia falando de sonhos, de romantismo, de entrega, do que quer que houvesse para ser dito e nós, eu e meu irmão, aprendíamos a imaginar. Cada palavra dela era interpretada de formas completamente diferentes por mim e por ele, mas ambos ganhamos muito com isso.

Minhas experiências emocionais até então se resumiam a uns namoros infantis com minhas primas ou com as filhas das amigas de minha mãe que nunca chegaram ao ápice do beijo tão sonhado. Esses namoros infantis eram temperados com olhares furtivos, leves toques nas mãos, atenções e pequenos gestos capazes de ganhar a dimensão que minha imaginação quisesse dar. Uma flor roubada de um jardim e ofertada a uma namorada da infância equivaleria a um diamante comprado para simbolizar um amor de hoje. Fico com a flor.

Nessa fase da vida meu primo era meu herói. Um ano a mais do que eu e várias namoradas e experiências para contar. Ouvia atento, mesmo que duvidando de grande parte, e levava aquelas experiências para o plano do inimaginável. Sonhava com meu primeiro beijo todas as noites. Esse mesmo primo tinha uma fazenda no interior de São Paulo, entre Lorena e Guaratinguetá e era para lá que íamos passar parte das longas férias de verão. Não havia nada melhor do que um carnaval no interior de São Paulo... outros tempos, bons tempos.

Neste ano, meu primo contava histórias de seus namoros e eu seguia atento e decidido a encontrar um amor adolescente. Uma das meninas sobre as quais ele falava estava em uma festinha que fomos na cidade. Era linda, ou pelo menos me parecia linda. Ele me dizia que já tinha namorado a moça e eu duvidava. Ela era desenvolta, solta, livre e radiante. Não conseguia parar de olhar mas não tive chance de me aproximar. As pessoas daquela dia estariam novamente juntas no baile do dia seguinte e eu tremia esperando pelo que poderia acontecer naquela noite.

Fantasiados de improviso fomos ao clube com meu querido tio que ficou a noite inteira dormindo no carro enquanto nos divertíamos. E como nos divertimos. Gente bonita, brincadeiras despretensiosas, música, animação e ela, a menina dos meus sonhos passeando pelo salão. Fui em busca de um momento só meu com ela. Tremia inteiro por dentro e o medo de ser rejeitado me consumia. A todo o momento eu negociava comigo mesmo. De um lado dizia: - Cuidado! Você pode ouvir um não! E do outro lado eu mesmo respondia: - E o que é um não frente a perspectiva de um sim?

Já tarde da noite convidei a moça para sairmos um pouco e olhar o céu do lado de fora. Sentamos na grama e contamos estrelas que se juntavam e que iluminavam o ambiente. A música ao fundo contaminava o cenário de alegria e conversamos um pouco. Eu queria saber mais sobre ela mas mal escutava o que ela dizia porque meus olhos não paravam de tentar entrar dentro dos olhos dela e quando paravam era para olhar sua linda boca se mexendo e me enlouquecendo de vontade. Desse momento para o primeiro beijo da minha vida foi um passo. Um pequeno passo para o homem que eu ainda não era, mas um imenso passo para a minha humanidade.

Seu nome era Monica, seu sabor inesquecível. Nunca mais a vi ou soube dela, mas nunca esqueci a sorte de ter começado dessa forma. E foi assim que nasceu mais um incompetente emocional no mundo.

2 comentários:

  1. MARAVILHA!!!!! Maria adorou, saboreou cada silaba e ficou com agua na boca.
    Parabens meu incompetente preferido.
    beijos e uma flor.

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