quarta-feira, 18 de julho de 2012

- Ainda está muito longe?


Ele se pegava repetindo a pergunta que fazia ainda menino quando viajava de carro. A resposta, embora nunca fosse verdadeira, era sempre a mesma: - Tá chegando! E ele esquecia por alguns instantes olhando pela janela as paisagens de todas as viagens. Por lá passavam bois e vacas pastando. Passavam cavalos. Passavam pequenas cidades. Passavam pessoas estranhas caminhando pelo acostamento. Passava o mundo inteiro por aquela janela até que ele se lembrasse, cinco minutos depois, de repetir a pergunta:

- Ainda está muito longe?

Hoje, ele parou por um instante e viu a chuva enfeando o dia frio de um raro inverno carioca e se perguntou: - Ainda tá muito longe? E a pergunta repetida inúmeras vezes nas viagens da infância começou a lhe perturbar de cinco em cinco minutos. Só que agora ele não pensava mais no destino, mas na Menina de Longe.

- Ainda está muito longe?

Desde que se conheceram eles passaram a se falar todos os dias. Ele liga. Ela liga. Eles trocam mensagens de texto. Ele deixa um recado. Ela publica uma resposta. Ele segue escrevendo. Ela continua longe... muito longe.

- Ainda está muito longe?

A distância nem aumenta, nem diminuí. Para estar com ela uma boa dose de loucura era não apenas recomendável como necessária. Mas, de outra forma, eles estão sempre juntos. Ela dentro dele. Ele dentro dela. Em uma cumplicidade que se formou rápida demais, forte demais. O pensamento começou a ser tomado de memórias e as memórias se transformaram em saudades e ela repetia: - Saudades é o amor que fica.

- Ainda está muito longe?

Não pode ser, pensava ele. Se as saudades forem o amor que fica então como matá-la? Matar as saudades mataria também o amor que fica? E ele se perdia em pensamentos tolos, olhando o mundo passar pela janela do dia de chuva, para depois concluir que não era isso o que ela queria dizer, mesmo porque quando estivessem juntos já não haveria saudades, apenas o amor que chega.

- Ainda está muito longe?

E ainda estava. E a fantasia de ambos seguia tomando conta das vontades dos dois. E ele imaginava outra vida, outro momento, outras chances de estar perto. E pensava: - Eu nem a beijei ainda... como pode ser isso? E pensava mais ainda: - Nós ainda não confessamos amor com as palavras... como posso guardar tanto para dizer?

- Ainda está muito longe?

A chuva não ajudava em nada. Seguia caindo mais ou menos intensa, mas seguia e fazia com que o barulho dos carros nas pistas molhadas abafassem os seus próprios pensamentos.

- Ainda está muito longe?

Preciso chegar logo!

3 comentários:

  1. E o Poeta disse...Nós ainda não confessamos amor com as palavras... como posso guardar tanto para dizer?

    E a Menina de Longe diz...Olhe nos olhos dela, e nao guardas nada para dizer.

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  2. Oi Eduardo, Namastê! Não pode guardar o que tens para dizer... fale!
    parabéns, gostei do vi aqui. Bjs

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