Ele se pegava repetindo a pergunta que fazia ainda menino quando
viajava de carro. A resposta, embora nunca fosse verdadeira, era sempre a
mesma: - Tá chegando! E ele esquecia por alguns instantes olhando pela janela
as paisagens de todas as viagens. Por lá passavam bois e vacas pastando. Passavam
cavalos. Passavam pequenas cidades. Passavam pessoas estranhas caminhando pelo
acostamento. Passava o mundo inteiro por aquela janela até que ele se
lembrasse, cinco minutos depois, de repetir a pergunta:
- Ainda está muito longe?
Hoje, ele parou por um instante e viu a chuva enfeando o dia
frio de um raro inverno carioca e se perguntou: - Ainda tá muito longe? E a
pergunta repetida inúmeras vezes nas viagens da infância começou a lhe perturbar
de cinco em cinco minutos. Só que agora ele não pensava mais no destino, mas na
Menina de Longe.
- Ainda está muito longe?
Desde que se conheceram eles passaram a se falar todos os
dias. Ele liga. Ela liga. Eles trocam mensagens de texto. Ele deixa um recado. Ela
publica uma resposta. Ele segue escrevendo. Ela continua longe... muito longe.
- Ainda está muito longe?
A distância nem aumenta, nem diminuí. Para estar com ela uma
boa dose de loucura era não apenas recomendável como necessária. Mas, de outra
forma, eles estão sempre juntos. Ela dentro dele. Ele dentro dela. Em uma
cumplicidade que se formou rápida demais, forte demais. O pensamento começou a
ser tomado de memórias e as memórias se transformaram em saudades e ela
repetia: - Saudades é o amor que fica.
- Ainda está muito longe?
Não pode ser, pensava ele. Se as saudades forem o amor que
fica então como matá-la? Matar as saudades mataria também o amor que fica? E ele
se perdia em pensamentos tolos, olhando o mundo passar pela janela do dia de
chuva, para depois concluir que não era isso o que ela queria dizer, mesmo
porque quando estivessem juntos já não haveria saudades, apenas o amor que chega.
- Ainda está muito longe?
E ainda estava. E a fantasia de ambos seguia tomando conta
das vontades dos dois. E ele imaginava outra vida, outro momento, outras chances
de estar perto. E pensava: - Eu nem a beijei ainda... como pode ser isso? E pensava
mais ainda: - Nós ainda não confessamos amor com as palavras... como posso
guardar tanto para dizer?
- Ainda está muito longe?
A chuva não ajudava em nada. Seguia caindo mais ou menos
intensa, mas seguia e fazia com que o barulho dos carros nas pistas molhadas
abafassem os seus próprios pensamentos.
- Ainda está muito longe?
Preciso chegar logo!
E o Poeta disse...Nós ainda não confessamos amor com as palavras... como posso guardar tanto para dizer?
ResponderExcluirE a Menina de Longe diz...Olhe nos olhos dela, e nao guardas nada para dizer.
- Ainda está muito longe? risos...bjssss
ExcluirOi Eduardo, Namastê! Não pode guardar o que tens para dizer... fale!
ResponderExcluirparabéns, gostei do vi aqui. Bjs