sexta-feira, 6 de julho de 2012

Amem


Perdidamente apaixonado. Doido de amor. Amando loucamente. 

Você já reparou que não tem uma expressão ao contrário? Ninguém diz que está saudavelmente apaixonado ou são de amor ou amando inteligentemente. O amor já vem com o peso de tirar você do seu prumo. É condição sine qua non.

As pessoas nascem e passam boa parte da infância pensando em fantasias e contos de fada. Tudo sempre começa com “Era uma vez..” e sempre acaba com “...e foram felizes para sempre!”. Depois, entram no colégio, na faculdade, começam a trabalhar e aprendem a necessidade de vestir uma personagem para sobreviver no mundo de “gente grande”. E, quando menos esperam elas viram mais uma “gente grande” e deixam para trás tudo o que antes era o mais importante e que, de repente, sequer faz sentido.

Claro que no meio disso tem a fase em que você descobre (ou tenta descobrir) o amor. Mas se você não se dedicar a isso, não acreditar de verdade que a sua namorada de adolescência é a pessoa mais linda e importante do mundo e que todos os sonhos que vocês tiverem juntos são possíveis de acontecer, você simplesmente não aprende a amar.

Aí as pessoas saem em busca de uma pessoa para dividir a vida. É isso mesmo, as pessoas não buscam mais um amor. Buscam alguém com quem possam dividir a vida. Se está na hora de ter filhos então é o caso de buscar alguém que tenha tido uma educação parecida com a sua e que vá educar os filhos de uma forma parecida, com valores parecidos. Se a ideia é construir um patrimônio então busca-se um companheiro ou companheira focado no lado profissional. E por aí vai. Tudo tem que fazer muito sentido para que você possa se sentir confortável dentro dos valores estabelecidos na sociedade em que você vive.

Então, com a pessoa certa ao lado, resta trabalhar, fazer parte desse ou daquele círculo de amizades, frequentar esse ou aquele lugar e viver do jeito que der e, principalmente, do jeito que convier. Não esqueça de estragar seus filhos também: diga a eles tudo o que você aprendeu para chegar até onde chegou. E diga com orgulho, de peito aberto como se a sua vida fosse a melhor possível.

Fico na posição de expectador disso tudo. Olho e não entendo nada. Acho que os valores estão trocados... os dos outros ou os meus, ainda não descobri. O fato é que não compactuo com esse tipo de vida. Pra mim não faz sentido reduzir a vida a um jogo de lógica. E o que mais ouço é que se as pessoas fossem abertas a se apaixonar sofreriam muito mais. É como se viver relações convenientes não fosse um sacrifício absurdo. É como se não fosse um sofrimento imenso deixar para trás todas as fantasias e os contos de fada e todos os sonhos que eles traziam.

Você é imaturo.

Sei, sei... maduro é você que vive com uma pessoa toda produzida para agradar os outros e para ser aceito nas rodas que interessam. Maduro é você que faz amor sem amar. Maduro é você que não percebe a beleza de um nascer do sol porque tá ocupado lendo o jornal. Maduro é você que nunca roubou um beijo.

São essas as mesmas pessoas que dizem que a pessoa está perdidamente apaixonada. Ora, se está apaixonada não está perdida. É um contrassenso. Onde mais você poderia se encontrar se não na paixão? Aí vem alguém e fala, mas paixão não é amor. Ah não? É o que então? Claro que paixão é amor. Paixão é o inicio do amor. É o estado em que ficamos quando descobrimos que podemos amar aquela pessoa e que é isso o que queremos naquele momento. Paixão só não é amor quando o medo toma conta. Porque esse filho da puta desse tal de medo chega de um jeito bem safado e fala no seu ouvido: - Tá apaixonado? Cuidado! Você vai se machucar. Você vai sofrer... e outras bobagens do gênero. Aí a pessoa, tomada de medo de viver a paixão “de com vontade”, foge e nem percebe que se machucou muito mais apenas porque escolheu não transformar sua paixão em amor.

Ficar doido de amor é bom demais. Amar loucamente é o que dá sentido à vida. As coisas não precisam fazer sentido para ninguém além de você mesmo. Você não deve satisfação a ninguém. Como diz uma amiga querida: explicação se dá pra delegado.

Ontem alguém me disse: você é um eterno apaixonado! E eu só posso responder: - Amém! E talvez acrescentar: amem!

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