segunda-feira, 16 de julho de 2012

Manhã de Chuva


Era um dia de chuva quando ele se deu conta do que estava fazendo com a sua vida. Acordou mais tarde do que o normal e com menos vontade de levantar da cama do que o normal. Acendeu logo um cigarro e começou a pensar.

Ele tinha tentado ser feliz com várias pessoas, mas não encontrava ninguém que realmente se encaixasse do que ele esperava da vida. Tinha tido um namoro longo e especial que acabou de forma tola e superficial. Mas aquele amor tinha marcado a vida dele pra sempre. Tentava seguir, não desistia. Tinha certeza de que logo encontraria alguém ainda mais especial e capaz de fazer da sua vida uma vida mais completa.

Levantou para fazer café, já no segundo cigarro, e se deu conta de que aquela não seria apenas mais uma manhã chuvosa. Ele teria que pensar, não tinha escolha.

Na semana anterior ele havia saído com pessoas importantes no seu passado. No fim de semana anterior encontrou-se com uma das meninas com quem havia namorado recentemente e sorriu feliz de estar por perto dela. Ela pensava em retomar a relação de algum jeito. Não entendia bem porque as coisas não tinham ido em frente. Ele sabia, mas não falava.

No dia seguinte um reencontro de pele marcou seu dia que acabou mal por que pele é pele, sentimento é outra coisa. Melhor nem comentar.

Já no outro dia, outro reencontro sem intenção de ser mais do que um encontro marcou sua semana. Ele reviu uma das pessoas mais importantes da sua vida. Percebeu que ela continuava importante, mas não fez disso uma coisa maior do que era. Manteve-se à distância segura que mantem as pessoas que não querem nem machucar nem serem machucadas. Uma despedida com um beijo carinhoso. A certeza de que ela faria parte da vida dele para sempre e a vida voltava ao rumo desencontrado de antes.

Na mesma semana uma amiga pede colo e ele oferece cafuné. E o que parecia um encontro só de amigos ganha ares de um romance despretensioso e ele caminha sem se dar conta dos caminhos que está escolhendo.

Sua vida cobra explicações dele. O que é que você está fazendo? Por que essa eterna necessidade de se sentir desejado, querido, amado? Por que tanta intensidade em todos os seus momentos? Por que é que você não aprende de uma vez por todas a respeitar seu coração e seu tempo?

E ele toma a segunda caneca de café pensando nos caminhos a seguir. Percebe que sua vida chegou novamente a uma encruzilhada. É hora de escolher. Se for por um lado, continuará fazendo o que faz e se perdoando com a desculpa de ser poeta, com a covardia de quem não é capaz de amar de verdade, com o vazio preenchendo apenas as páginas de um livro que sequer foi editado ainda.

Se escolher o outro lado vai deixar de viver com a intensidade que o caracteriza. Vai deixar de se permitir encontros que podem não ser nada mas que também podem ser tudo. Vai aprender a esperar sozinho o encontro mágico que a vida há de proporcionar. A escolha por uma vida menos intensa lhe preocupa. É como se ele mergulhasse tão fundo que duvidasse ser capaz de voltar à superfície sem respirar. Medo.

Ele busca a terceira caneca de café e continua pensando. Deve ser a chuva que lhe deixa assim, inseguro das escolhas, sem saber que caminho tomar. Sem saber se o que faz é bom ou ruim. Deve ser a chuva.

O que ele queria de verdade é que houvesse alguém capaz de percebê-lo da mesma forma que ele acredita perceber as pessoas. E que esse alguém lhe oferecesse a mão e dissesse: - Vem! É por aqui! E, mesmo assim, ele talvez ainda duvidasse de que aquela seria a mão certa a segurar.

O tal namoro especial que o marcou fez com ele aumentasse a sua expectativa. Já não basta apenas um beijo apaixonado. Já não basta mais o sexo intenso. Sua necessidade é por algo muito maior que não surge nas esquinas todos os dias. Desde esse tempo, em todas as vezes em que tentou amar e que buscou na outra pessoa a mão que lhe puxaria para um dos lados da estrada ele hesitou. Sentou-se frente a encruzilhada e não se deixou levar. Não achava justo nem bom o bastante seguir com alguém que não tivesse a mesma importância daquele amor que se desfez. Não acreditava o bastante. Preferia sentar-se e seguir olhando a estrada sem seguir.

Pensava na menina de longe que povoa seu imaginário. Ele sabe que a fantasia que ela traz é capaz de encantá-lo de uma forma especial. O fato dela estar longe o anima a viver a fantasia porque viver o real é quase impossível. E o fato de ser quase impossível o atrai, o desafia.

Percebe que está sozinho e não gosta disso. Percebe que seu coração está cheio apenas de fantasias, sem nada de realidade, e também não gosta disso. Acende mais um cigarro, toma seu banho e seu rumo para a vida do dia-a-dia que não espera. Para de pensar. Prefere apenas escrever e tirar a angústia de dentro.

E segue o baile.

4 comentários:

  1. Muito bacana, meu irmão. Parabéns pelo blog e pela sensibilidade. Abraço forte! Guilherme

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Gui. É sempre bom ouvir elogios e incentivos de quem a gente admira!abs

      Excluir
  2. Muito legal. A gente se vê, de alguma estranha forma, nesses textos. Abraços. João Ricardo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom João. A ideia do blog passa por aí. De alguma forma somos todos incompetentes emocionais. Acho bom compartilhar, trocar e seguir... abs

      Excluir