segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nas Asas da Panair II


Conhecer Roma, a cidade eterna, era um dos maiores sonhos da aeromoça recém-contratada pela Panair. Uma rota concorrida, o mês de julho tinha sido um mês de muito movimento e agosto não seria diferente. Ela estava chegando de uma viagem quando a supervisora deu a notícia: - Você vai para Roma na aeronave que vai levar a delegação do Brasil para os Jogos Olímpicos.

Eu vou para Roma, vou conhecer a Itália! – Pensava ela, mal se contendo de felicidade e nem se importando com os atletas brasileiros que ela atenderia durante o voo. As amigas que fariam o mesmo voo estavam todas muito mais excitadas. Diferente dela, tudo em que pensavam era nos atletas.

No dia da viagem, chegou com antecedência e perfeitamente arrumada para o voo transatlântico. Seria uma viagem cansativa, mas ela não se importava. Iria finalmente conhecer o destino dos seus sonhos. E esses mesmos sonhos incluíam vitrines de lojas que ela havia ouvido falar, visita a praças e parques que povoavam sua imaginação e até mesmo uma inevitável visita ao Vaticano para ver de perto o monumento maior do catolicismo. Não que ela fosse religiosa, mas como ir a Roma e não ver o Papa? Impossível.

No embarque, seu melhor sorriso recebia e convidava os passageiros a entrar. Ia apontando os assentos e driblando os olhares maliciosos dos jovens atletas brasileiros que se espantavam com a sua beleza. Tinha gente do atletismo, natação e das equipes de handebol, basquete e water pólo que eram os esportes olímpicos mais importantes daquele tempo no Brasil e tinha também os militares do hipismo, esses bem mais sérios que os outros meninos.

O trabalho de acomodar pessoas e bagagens ainda continuava quando ela sentiu um olhar insistente chamando sua atenção. Um rapaz bonito e alegre não conseguia desviar os olhos. Ela não retribuía e nem passava recibo. Seguia com seu profissionalismo e dedicação mesmo sabendo que seria uma longa viagem.

Portas em automático. Todos sentados e o Douglas DC-7 ganha velocidade e em seguida os céus rumo a Europa. O rapaz continua buscando uma forma de chegar perto dela e, logo depois do jantar, faz uma visita à gare para, supostamente, tomar um suco de laranja. Em seguida, puxa uma conversa que demoraria horas. Ela sempre tímida, ele sempre simpático, agradável e sedutor. Ele diz que quer vê-la na volta ao Rio de Janeiro, ela dá um telefone errado de propósito. O tempo segue passando e chega a hora dela voltar ao trabalho e dele tentar descansar um pouco, feliz pela conversa e com o telefone no bolso da calça.




A atuação da equipe brasileira em Roma não rendeu mais do que duas medalhas de bronze. Uma no basquete e outra nos 100 metros livres. O rapaz não trouxe uma medalha de volta, mas trouxe o orgulho (que guardaria para sempre) de ter feito parte da história do esporte brasileiro.

De volta no Rio, a primeira providência foi abrir o papel onde ela havia anotado o telefone e discar cuidadosamente um número depois do outro com o coração cheio de esperanças. O toque repetitivo anunciava que o telefone estava ocupado e isso se repetiu durante todo aquele dia, até que ele resolveu pedir ajuda a telefonista. Foi ela quem disse que o número não existia. Foi ela quem ouviu um, raro, palavrão do outro lado da linha antes que o rapaz se desculpasse e desligasse.

Apático por algum tempo, ele logo se lembrou que na conversa ela havia contado que morava em um pequeno hotel desde que chegara do interior do Rio Grande do Sul. Lembrou-se do nome do hotel e resolveu não perder tempo: tomou o rumo da rua e seguiu a pé até o Leblon. O nome no crachá o ajudou a buscar pela moça bonita. A beleza dela a fazia fácil de localizar pela equipe do hotel e ele logo soube que estava no lugar certo, mesmo que ela não estivesse por lá.

Passou a fazer visitas diárias ao hotel buscando informações sobre a moça. Foram dois, três, quatro dias seguidos até que a recepcionista abrisse um sorriso dizendo a ele: - Ela está no quarto. Quer que avise que o senhor está aqui? Seu coração disparou. Ele não queria que avisassem. Pediu apenas que não a deixassem sair até que ele voltasse e saiu correndo em busca de uma floricultura próxima. Lá comprou uma braçada de flores do campo e voltou correndo novamente, com medo de perdê-la uma vez mais.

- Ela ainda está aqui, mas nos pediu um táxi. Deve estar de saída – avisou a recepcionista.
- Obrigado! O táxi é aquele? - Era.

Ele foi até o motorista e tramou uma ideia de improviso. Ela saiu em seguida, apressada. Entrou distraída, como sempre, no automóvel, falando o destino e pedindo urgência. Precisava ver sua irmã que estava na cidade.

Ele deu a partida e seguiu tomando a praia e parando no arpoador.

- Por que paramos?
- Porque tenho flores para você. Porque você é a mulher da minha vida – Disse-lhe, entregando as flores que ela sequer havia notado e virando-se no banco para olhar de frente a linda aeromoça que o reconheceu de imediato.

O susto deu lugar a um sorriso largo. A pressa de visitar a irmã deu lugar a um passeio na orla de Ipanema. O medo de conhecer aquele homem deu lugar ao encanto que os uniu daquele dia para frente e que gerou duas filhas e muitas histórias para celebrar o amor dos contos de fadas.

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