segunda-feira, 30 de julho de 2012

Nem uma vela em dia de Finados


Tirei do ar o blog que escrevi durante um ano e meio para uma pessoa que me era muito especial. Eu já não escrevia nele desde fevereiro deste ano quando postei uma espécie de despedida e me disse pronto para viver meu luto. O estranho é que esse blog continuava a receber visitas. Possivelmente de gente curiosa em ver o fracasso de uma relação intensa.

O fato é que comecei a pensar nas razões que me faziam manter o blog por lá e não encontrei muitas. A pessoa pra quem eu tanto escrevi e pra quem tanto me dediquei jamais respondeu nenhum dos posts por mais carinhosos que fossem. Também não respondeu os agressivos. Nunca respondeu nada. Preferiu sair de cena no meio do espetáculo sem esperar o final e transformou um diálogo num monólogo e lá fiquei eu em cena aberta fazendo papel de idiota. E fiz esse papel por muito tempo, tempo demais.

O gatilho pra tirar o blog do ar foi a ausência no meu aniversário. Nem um SMS, uma mensagem por Facebook, um recado, um sinal de fumaça. Nada. Esse vazio me permite imaginar o que eu quiser. A escolha é só minha. E cheguei à conclusão de que realmente a pessoa, por quem me apaixonei e que tanto amei, nunca deu a menor importância para o que eu senti. Só se preocupou com o que ela mesmo sentiu e com as ameaças que eu representava na lógica (?) de vida que ela escolheu.

Me senti várias vezes como se eu estivesse sendo assaltado. Tipo assalto à mão armada. Aquele que gera uma insuportável sensação de impotência. Fui roubado nos meus sentimentos e tive que ficar com os braços para o alto, sem falar nada. Imagina a cena: “Passa seu amor ou leva tiro! Manda seus sentimentos pra cá e não adianta esconder o tesão não...passa tudo!”.

De vez em quando me lembro com carinho dos bons momentos e das marcas que ela deixou em mim. Eu tinha acabado de sair de um casamento longo e muito bem sucedido. Tinha acabado de perder meu pai. Tinha acabado de fechar minha empresa. Tinha quebrado. Estava completamente fragilizado e decidido a não ter pena de mim mesmo. Acordava todos os dias pensando que aquele dia seria melhor. Que alguma coisa de muito boa ia acontecer. Tomava café, lia o jornal, tomava banho e me arrumava a espera de conseguir uma entrevista ou um encontro que me gerasse bons frutos. Segui todos os dias acreditando que tudo poderia melhorar até que um dia melhorou mesmo.

Foi no meio dessa bagunça que ela apareceu. E a vida dela não estava muito melhor do que a minha. Ela tinha todas as dúvidas do mundo sobre o seu próprio futuro. Tinha questões pessoais e profissionais a resolver e a vida dela também não estava fácil. Tentei, ou pelo menos acho que tentei, dar de volta o mesmo apoio que ela me deu. Nossas brigas eram virtuais porque juntos normalmente estávamos bem. Mas nessa época morávamos longe e era mais fácil estarmos distantes do que perto um do outro e as brigas se multiplicavam.

Criei uma fantasia nessa mulher. Imaginei que ela fosse assim ou assado. Vi nela coisas que nunca tinha visto antes e que queria ver sempre. Imaginei que ela fosse a pessoa certa. Demorei a me entregar, mas quando me entreguei foi pra valer, “de com vontade”. E nada disso adiantou de nada. A não ser pra me fazer ver que eu estava apaixonado por um ideal de vida e não por uma mulher de verdade.

Tentei de todas as formas estar junto. Respeitei quando ela quis ficar sozinha. Estive presente quando achei que devia. Escrevi sobre o que havia de mais bonito e de mais triste. Sorri e chorei sem vergonha de sorrir ou de chorar. Não tive pena de mim. Tive pena de ver um sentimento tão bonito sendo jogado fora da forma que foi.

Procurei em outras pessoas o que senti por ela. Não achei. Procurei a cumplicidade das palavras e dos gestos. Procurei o que ela me fazia sentir. Procurei o carinho. Procurei as tolices. Não achei.

Achei pessoas muito melhores do que ela. Pessoas grandes, cheias de razões para se orgulharem de quem são. Achei pessoas lindas, muito mais bonitas do que ela. Achei pessoas fortes, muito mais guerreiras do que ela. Achei pessoas corajosas, muito mais do que ela... mas isso é fácil. O que não achei foi a mim mesmo nestas pessoas. E por isso todas as minhas relações fracassaram de um jeito ou de outro.

Talvez o fracasso esteja na essência da própria busca. Talvez, enquanto estiver procurando a mim nos outros não ache nunca nada. Talvez...

O fato é que preciso viver intensamente uma relação de verdade com objetivos grandes. Essa coisa de beijar por beijar, transar por transar, sair por sair. Isso tudo não me interessa nem um pouco. Mas acabo saindo, acabo beijando, acabo transando. E acho que faço isso para me sentir vivo enquanto não encontro a pessoa que eu acredite ser a pessoa certa de verdade. É muita incompetência!

Venho a esse blog botar pra fora meus sentimentos. Falo da menina sorriso, da menina de covinhas, da menina de longe e de outras meninas que povoam o meu imaginário e a minha vida. Mas com nenhuma delas eu consegui viver de verdade o grande amor. Talvez ainda viva. Talvez encontre em quem eu já conheço o que fico procurando em quem eu não conheço. Mas ainda não aconteceu de verdade. Por essa ou por aquela razão, sigo sozinho e me sentindo sozinho.

Não corro o risco de desistir disso. A busca pelo amor é o que me move e o que me mantém vivo. Vou continuar buscando. Vou continuar tentando. Vou continuar me permitindo errar e vou continuar cuidando para não machucar ninguém.

Mas a mulher para quem eu dava bom dia todos os dias. A quem eu perguntava sempre se já havia dito que ela é linda. A mulher para quem eu escrevi por mais de um ano e meio e que não me deu sequer parabéns no meu aniversário. Essa morreu e não merece nem uma vela em dia de Finados.

E segue o baile.


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