Sempre que possível, os amigos de colégio se encontravam
para um chopp. Uma espécie de viagem no tempo através dos copos. Alguns não
perdiam nenhum encontro. Chegavam com a mesma disposição dos tempos da infância
e com a mesma alegria que sentiam quando o sinal tocava avisando que era hora
do recreio.
Naquele dia o poeta resolveu participar. Antes, porém
combinou um chopp com sua melhor amiga. Precisava botar a conversa em dia.
Precisava saber como as coisas andavam para ela e precisava contar também sobre
o tanto que andava sentindo. Ter uma melhor amiga faz toda a diferença, pensava
ele.
Foram cedo para um bar próximo ao lugar do encontro. Tomaram
alguns copos e, muito rapidamente, já sabiam que o outro estava bem, apesar dos
pesares. Ela ainda sofria pelas escolhas que havia feito. Ele mostrava-se, como
sempre, um incompetente emocional. Dizia, decidido: - Não vou cair nas
armadilhas do amor tão cedo. Agora só vou me dedicar quando tiver certeza de
que encontrei a pessoa certa. Não aguento mais errar – e coisas do gênero.
Estava realmente cansado de tantos desencontros. Seu
coração, machucado, não aguentava mais as mudanças bruscas de ritmo. Essa coisa
de disparar e, logo em seguida, quase parar era muito pesada para ele. E as suas
emoções transbordavam em histórias que contava para o papel, seu confidente
maior. A amiga apenas escutava e ria. Perguntava como ele pretendia encontrar a
pessoa certa sem tentar. E ele sabia que tentaria. Mas o desabafo servia para
aquietar sua mente que, teimosa, cismava em trabalhar quando o coração
descansava.
Foram andando para o encontro do colégio.
A mesa grande reunia meninos e meninas crescidos. Em torno
dela, as conversas traziam lembranças de outros meninos e de outras meninas. A
memória de todos trabalhava. Todos buscavam notícias de um e de outro e
entregavam confissões adolescentes de tudo aquilo que não tiveram coragem de
dizer nos tempos dos bancos escolares. A camaradagem os unia. Havia no ar uma cumplicidade
regada com os anos de convívio e com o chopp daquela noite.
O poeta chegou feliz, identificando cada um e demonstrando a
alegria de estar em casa. Logo, uma menina chamou sua atenção. Ele não a
reconheceu de imediato. Teve que esperar até que ela sorrisse. E nessa hora ele
sorriu também. Ela era linda em todos os aspectos, mas isso ele não podia
perceber. Tudo o que o poeta conseguia ver era o brilho nos olhos e o sorriso
doce. A falta de intimidade fez com que ele buscasse outros amigos para
conversar e matar as saudades da infância. Ele preferiu ficar por perto e, ao
final do segundo chopp, respirou fundo e interrompeu a conversa dela com outro
amigo.
Os assuntos surgiram fáceis, de forma natural, sem exageros
ou grandes explicações. Logo ele ria e ela ria. E, talvez pelo efeito dos
chopps, os dois começaram a se mostrar. Ela dizia que era assim e assado e ele
dizia que era poeta e sugeria que ela lesse algo dele, se o quisesse conhecer
melhor. Ela não passava despercebida para nenhum dos homens (e mulheres) da
mesa. Era como voltar aos tempos do colégio. Um burburinho tomava conta. Um
menino dizia para o outro que ela estava linda. Uma menina mostrava para a
outra a imperfeição de um detalhe tolo qualquer na roupa dela. E eles seguiam
alheios, conversando.
Ela contou que morava fora e que aquela era sua última noite
no Brasil. Ele quis fuugir. Foi tomado pela covardia infantil dos meninos. Mas não
conseguiu. Ficou por perto e resolveu olhar ainda mais fundo naqueles olhos que
ele não veria novamente tão cedo. E eles brilhavam.
A Menina de Longe começava a tomar forma de poesia. Ele sabia
que não seria difícil imaginar o tanto que poderiam viver juntos. Incomodada, ela resolveu mostrar a personagem
que veste em situações como aquela. Ele riu. Viu a Menina de Longe vestir a
fantasia de sedutora, de bem resolvida, de autossuficiente, de mulher segura. E
ele apenas riu.
Afastaram-se um pouco e foram ter com outros amigos, sem que
um perdesse o outro de vista. Ele, mostrando o orgulho de ser poeta. Ela mostrando
habilidade no convívio e no disfarce que escolhera. Ele mantinha o sorriso no
rosto. Ela provocava. Ele não percebia seu corpo, apenas seu olhar e, mesmo
assim, ela se sentia desnudada com o jeito que ele olhava. Ele esticou a mão, ela
voltou para perto e os dois se abraçaram com carinho.
O poeta disse que estava feliz com o que ele conseguia ver.
E ele a via por dentro. Ela dizia que muito pouca gente a conhecia de verdade. E
os dois seguiam abraçados numa cumplicidade divertida e rara.
... ... ...
Claro q ja sei quem é a menina. Hehehe... Abraçao, Forbes.
ResponderExcluirJoão RIcardo
Ela também sabe...rs...abs
ResponderExcluirI have perceiv’d that to be with those I like is enough,
ResponderExcluirTo stop in company with the rest at evening is enough,
To be surrounded by beautiful, curious, breathing, laughing flesh is enough,
To pass among them, or touch any one, or rest my arm ever so lightly round his or her neck for
a moment—what is this, then?
I do not ask any more delight—I swim in it, as in a sea.
There is something in staying close to men and women, and looking on them, and in the contact
and odor of them, that pleases the soul;
All things please the soul—but these please the soul well.
I Sing The Body Electric - Walt Whitman
rsrsrs....
ResponderExcluirand so it says...
The love of the Body of man or woman balks account--the body itself
balks account;
That of the male is perfect, and that of the female is perfect.
The expression of the face balks account;
But the expression of a well-made man appears not only in his face;
It is in his limbs and joints also, it is curiously in the joints of
his hips and wrists;
It is in his walk, the carriage of his neck, the flex of his waist
and knees--dress does not hide him;
The strong, sweet, supple quality he has, strikes through the cotton
and flannel;
To see him pass conveys as much as the best poem, perhaps more;
You linger to see his back, and the back of his neck and shoulder-
side.
...
This is the female form;
ResponderExcluirA divine nimbus exhales from it from head to foot;
It attracts with fierce undeniable attraction!
I am drawn by its breath as if I were no more than a helpless vapor--
all falls aside but myself and it;
Books, art, religion, time, the visible and solid earth, the
atmosphere and the clouds, and what was expected of heaven or
fear'd of hell, are now consumed;
Mad filaments, ungovernable shoots play out of it--the response
likewise ungovernable;
Hair, bosom, hips, bend of legs, negligent falling hands, all
diffused--mine too diffused;
Ebb stung by the flow, and flow stung by the ebb--love-flesh swelling
and deliciously aching;
Limitless limpid jets of love hot and enormous, quivering jelly of
love, white-blow and delirious juice;
Bridegroom night of love, working surely and softly into the
prostrate dawn;
Undulating into the willing and yielding day,
Lost in the cleave of the clasping and sweet-flesh'd day.
This is the nucleus--after the child is born of woman, the man is
born of woman;
This is the bath of birth--this is the merge of small and large, and
the outlet again.
Be not ashamed, women--your privilege encloses the rest, and is the
exit of the rest;
You are the gates of the body, and you are the gates of the soul.
The female contains all qualities, and tempers them--she is in her
place, and moves with perfect balance;
She is all things duly veil'd--she is both passive and active;
She is to conceive daughters as well as sons, and sons as well as
daughters.
As I see my soul reflected in nature;
As I see through a mist, one with inexpressible completeness and
beauty,
See the bent head, and arms folded over the breast--the female I see.
Lindo isso...ainda mais para um poema de 157 anos e que segue atual... adorei! bjssss
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