Uma sequência de mão. Todas as cartas na ordem certa foram
aparecendo na mão dele. Dez, valete, dama, rei e ás. Todas de copas menos a
dama.
Aquele jogo já acontecia há muito tempo. Começava como brincadeira entre os amigos de sempre. Nenhum deles jogava se não fosse a
dinheiro. Haviam aprendido cedo que se um jogo não fosse jogado com seriedade,
não valia a pena ser jogado.
Na mesa, os cinco amigos encontravam seu passado, suas
lembranças de infância. Conversavam as mesmas conversas de sempre. Sorriam
das mesmas coisas de sempre. E sempre brincavam as mesmas brincadeiras. Aquele jogo de poker
significava mais do que apenas mais um encontro. Era quase uma celebração, uma
celebração à amizade.
Aquela noite não era diferente. Todos estavam, como sempre,
felizes em se encontrar. Cada um era uma parte do outro. Juntos eram um só. E o
jogo era o que os unia. Sentados na mesa redonda escolhiam seus lugares, não
pela sorte mas por pequenas afinidades. De um lado da mesa ficavam os amigos
fumantes. Um não gostava de sentar-se de costas para a porta, outro queria
sempre ficar perto da cozinha, sua geladeira e suas cervejas. Os outros não
tinham tantas preferências e cediam com mais facilidade.
O jogo começou com o embaralhar das cartas. Um corte. E cinco
cartas jogadas na frente de cada um. O amigo do lado fazia a mesa e o
seguinte dobrava a aposta. Os fumantes acendiam seus primeiros cigarros e todos
levantavam, cada um do seu jeito, suas cinco cartas. Um arrumava o jogo
levantando cada carta de uma vez. A outra reunia todas as cartas ao mesmo tempo
e forçava uma a uma para o lado permitindo-se ver apenas o suficiente para
reconhecer a figura e o naipe. Um olhava carta por carta sem colocá-las na mão
e o outro alternava a forma de abri-las em busca da forma que lhe desse mais
sorte.
As primeiras mãos mostravam um pouco do que havia de
acontecer durante a noite. Quem estava com mais ou menos sorte. Quem estava
pensando ou não em blefar. Que tipo de jogo seria aquele. Ele observava, como
sempre, os gestos de cada um. Sabia que seu irmão jogava com inteligência e
sabia que seus outros amigos jogavam em função da sorte.
Poucos jogos maiores deixavam o jogo mais calmo do que o
normal. Um four valeria um prêmio de cada um dos jogadores, mas o four não
acontecia. Um full-house ou qualquer jogo acima valeria a opção de
pedir e escolher um jogo aberto na rodada seguinte e isso acontecia
repetidamente.
As fichas seguiam de um lado para o outro da mesa, trocando
de dono por diversas vezes. Ele estava numa noite inspirada. Contava piadas e
bebia entre amigos. Seu jogo estava morno, mas ele sabia que haveria de receber
uma mão especial. E esperava por ela.
De repente, cartas distribuídas. Uma sequência de mão. Todas
as cartas na ordem certa foram aparecendo na mão dele. Dez, valete, dama, rei e
ás. Todas de copas menos a dama. Ele tinha uma sequência de mão, mas não era
isso o que ele via. Ele só pensava no Royal Street Flush que poderia fazer se
trocasse a dama errada pela certa. Se o jogo entrasse, cada um dos companheiros
de mesa lhe pagaria um cacife como prêmio além das fichas que estivessem em
disputa.
Trocar ou não as damas? Essa era a questão que lhe afligia. Ele
pensava que qualquer um no seu lugar seguiria em frente com o jogo de mão e,
possivelmente, garantiria as fichas da mesa mostrando o jogo vagarosamente para
criar nos outros a sensação que mistura ansiedade, medo e expectativas. Mas no
final todos saberiam que o jogo não passava de um jogo mediano que não lhe dava
sequer o direito de pleitear uma rodada de aberto. Ele pensava que seria tolo
deixar passar a oportunidade de uma vida sem tentar. Um Royal não é um jogo que
se faz todos os dias. Um Royal é motivo de comemoração, digno de registro e ele
não abriria mão da chance de viver isso.
Apostas feitas e todos entraram no jogo. O primeiro a trocar
cartas pediu apenas uma, o segundo pediu três, o terceiro disse não querer
cartas. Ele trocou a sua e a dealer também pediu duas cartas. O jogo prometia
disputa. O que não quis cartas abria um sorriso cínico no rosto como se já
tivesse garantido sua mesa, os demais estavam concentrados torcendo para que o
jogo de cada um entrasse. Ele, recebeu sua carta e a colocou no final das
demais, abrindo novamente a coleção de cartas de copas, uma depois da outra,
até chegar na última que ele puxava devagar, chorando a sorte – como diziam.
A primeira coisa que ele pode ver é que a carta era vermelha
e isso era bom. Continuou puxando a carta enquanto os outros já se preparavam
para apostar. O jogador que não pediu cartas fez uma puxada alta. Apostou quase
meio cacife na mão que veio pronta. O do lado oposto passou antes da hora e ele seria o próximo a
falar, mas ainda não havia acabado de abrir as cartas e ainda não conhecia sua
sorte. Seguiu puxando e viu que a carta vermelha era uma dama e respirou
aliviado. Havia garantido, pelo menos, uma nova sequencia. Mas ele ainda não
vira o naipe.
E se aquela dama fosse de ouros? E se aquela dama fosse a errada? Os outros queriam pressa e ele
pedia calma. Fechou o jogo e tornou a abri-lo com mais confiança. Agora ele
puxava a dama vermelha por cima das demais em busca do naipe e quando a ponta do
coração apareceu, ele apenas fechou o jogo, tomou um gole da cerveja e apostou
sobre a aposta.
- Seu meio cacife, mais meio cacife. Determinou.
A jogadora que havia dado as cartas não se intimidou e disse
que tinha que pagar para ver. O seguinte pulou fora. O que não quis cartas tornou a olhar seu
jogo e depois seus amigos e disse que não só pagaria como aumentaria a aposta
em mais meio cacife. Ele contou suas
fichas e apostou todas de uma só vez.
A dealer pediu um novo cacife e pagou
a aposta. O que não quis cartas também pagou e ele teria que mostrar seu jogo.
Abriu um imenso sorriso e atirou uma a uma as suas cartas
sobre as fichas no meio do feltro verde. Primeiro o dez, o valete, pulou a
dama, jogou o rei e o ás e por fim, beijou a dama de copas e a jogou dizendo: -
Pedi e a dama que eu mais desejei na minha vida veio. Fiz um Royal Street
Flush! E gritou de felicidade!!! Junto com a vibração dos demais. Ver um Royal
na mesa é tão bom que ninguém se importava em pagar o prêmio e todos
comemoravam juntos.
Era seu dia de sorte.
Interessante a sua crõnica, de autoestima.
ResponderExcluirParabens e bom fim de semana
UM CONVITE ESPECIAL
Vim cá, lê o seu blogue. Eu, tenho um. Muito simples, sem Cores e sem Nuances. Estou lhe convidando a visitar-me, e se possível, Seguirmos juntos por Eles. Estarei lhe esperando lá, afinal o que importa é a Amizade que fazemos e as publicações que expomos.
Eu te Convido a vir Aqui www.josemariacosta.com
Obrigado José, vou visitar seu blog e seguimos nesse mundo virtual através das nossas incompetências! abs
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