segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sujeito à Análise de Crédito


As pessoas de hoje são assim, não confiam em ninguém. Você é culpado até que se prove o contrário. Pode tentar ser um cara bacana, desarmado e entregue às infinitas possibilidades da vida, que isso não vai adiantar muito. Você vai ver que tem sempre alguém pra dizer que você não é de verdade ou que você está fingindo.

A regra de hoje é tão difícil de entender que a chance de você se dar mal é sempre imensa. A primeira regra é: se não tiver envolvimento então estou dentro. Como assim, sem envolvimento? Assim mesmo! As pessoas estão apenas dispostas a viver “uma certa” dose de emoção, desde que isso não ultrapasse o limite de segurança. A busca não é pelo outro que completa, é pelo outro que satisfaz! E isso é uma completa estupidez da raça humana (na qual, obviamente, eu me incluo).

Tenho visto pessoas que acreditam que a vida é um jogo. Aliás, um não, vários jogos. Tem gente que joga xadrez. E os que sabem jogar de verdade só fazem um movimento quando acreditam saber o que vai acontecer dali a umas três ou quatro jogadas – sacrificam o peão, avançam o cavalo, protegem a rainha e brincam com a torre – vale tudo. Os que não sabem ou os que jogam como se estivessem na praça com colegas aposentados entregam o jogo de cara, tombam o rei e não se importam em perder, desde que continuem a jogar.

Tem gente que joga dama num vai e vem de peças brancas e pretas que pulam umas sobre as outras como se não houvesse amanhã. O único objetivo é ganhar, seja o que for, custe o que custar, doa a quem doer. Mas a maior parte gosta mesmo é de jogar poker. Podem ganhar ou perder uma mão, mas seguem jogando, blefando ou apostando alto. São grandes os riscos dos jogadores, mas eles não se importam com isso.

O fato é que as pessoas precisam se conhecer antes de ir em frente numa relação qualquer. Não dá mais pra acreditar que um olhar seja o bastante para construir alguma coisa com alguém. E como as pessoas preferem se vestir com personagens ao invés de se despir deles, os desencontros são muito mais frequentes do que os encontros.

Em pouco tempo estaremos pedindo para as pessoas que chamam nossa atenção preencherem uma ficha, um cadastro com os dados mais relevantes. Tomaremos um chopp ou um vinho para a entrevista inicial de recrutamento e avisaremos o tempo necessário para que a ficha seja analisada. Numa despedida quase formal, um último aviso, do tipo: deixa que eu te ligo! E pronto, está encerrada a primeira fase.

Depois, é bater a ficha da pessoa, primeiro com as redes sociais. Os dados precisam ser idênticos: residência, estado civil, gostos pessoais, gostos musicais, gostos e desgostos de todos os tipos. Ainda nelas, chega a hora de conferir as fotos e os posts. Primeiro os da própria pessoa e em seguida os que os outros falam sobre e para ela e depois que tipo de gente circula o candidato.

Feito isso, uma nota é atribuída e você passa direto ao site da receita federal para checar o CPF. Se estiver ok, você descobrirá que, pelo menos, não há grandes dívidas em nome dele ou dela e seguirá mais tranquilo para a última fase. Hora de Googlar o cidadão ou a cidadã. E isso é crítico.

Digite o nome completo. Primeiro entre aspas para que só apareçam as citações com o nome completo. Assim você descobre se ele tem um blog e sobre o que ele escreve ou, pior, se é personagem do blog de alguém (isso pode eliminar sumariamente a candidatura). Vai descobrir também se ele já foi citado como réu ou autor de alguma ação, se ele já apareceu em algum jornal, algum portal ou mesmo se ele já foi clicado em alguma balada e foi parar num desses ridículos sites que imitam colunas sociais na web.

Em seguida, tente os apelidos conhecidos e os mais prováveis. Apelidos mostram as situações mais inusitadas e ele pode aparecer das formas mais humilhantes ou ridículas possíveis. Respire fundo, é hora da verdade. Siga na busca,

Por último, digite o nome completo com o sinal de mais entre nome e sobrenomes e isso mostrará todas as combinações possíveis. Prepare-se para o pior e tenha sempre em mente que nem tudo o que está na web é verdade, mas muita coisa é.

Se o candidato ou candidata tiver sobrevivido até aqui: corra! Ele ou ela devem estar fazendo parte de incontáveis processos seletivos. Vale cercar por todos os lados e de todas as formas: mande um e-mail, adicione no Facebook (em último caso adicione também no Google+), ligue, twite, envie SMS, faça de tudo, mas de tudo mesmo.

Depois é só aguardar. Se a sua ficha também estiver limpinha talvez role um encontro e quem sabe vocês sejam felizes para sempre.

Irgh.

2 comentários:

  1. Presumo que eu deva preencher a ficha de chutador de balde para ir na sua festa...

    Mas acho que não passo, não. Tirando o fato de ser amigo da Ira - e, por isso, ter tomado aqueles poucos chopes com você na Gávea -, meus dados são bem fraquinhos. Basta dizer que faz - pasme! - quase uma semana que não chuto o balde.

    Abraço

    P.S.: Se a minha coluna colaborar, farei uma "baldeação" lá amanhã.

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