quarta-feira, 11 de julho de 2012

Braçada de Flores



- Amigo, eu queria que você mandasse entregar uma braçada de flores do campo, pode ser?
- Uma braçada? Como assim? Um buquê?
- Não. Uma braçada mesmo!
- Mas o que é uma braçada de flores do campo?
- É assim, você vai juntando os buquês no seu braço, um depois do outro. Quando não conseguir mais segurar, aí então você tem uma braçada!

Entendida a dimensão do carinho que o poeta queria demonstrar, ficou combinado que o entregador passaria no seu escritório antes de levar as flores para a menina amada. Ele queria ver a tal braçada e ter certeza de que era do tamanho do seu amor. Queria também enviar um cartão junto com as flores, mesmo achando que as palavras não precisavam ser convidadas para aquele momento.

Rabiscou o que de mais simples ele podia dizer e grampeou o cartão no arranjo. O entregador seguiu seu rumo, orgulhoso de ganhar a vida em troca de sorrisos de mulheres amadas.

- Esse cara é bom – pensou o entregador – Braçada de flores... de onde será que ele tirou isso? E seguiu seu caminho com as flores tomando sol na garupa de sua bicicleta sempre observada por homens e mulheres de todos os tipos, cada um com a sua reação:

- Ai... se fossem para mim. Suspirou uma adolescente.
- Preciso levar flores para ela. Pensou o executivo ausente.
- Adoro flores do campo. Lembrou-se a viúva carente.
- Que vontade de roubar esse buquê. Pensou um monte de gente.

E seguiu até encontrar a rua, o número do prédio e o andar da menina que receberia as flores. Na portaria, o zelador estranhou o tamanho da encomenda, mas não resistiu a um sorriso e até ajudou o entregador a abrir a porta do elevador.

A menina amada foi avisada de que havia uma encomenda na recepção e tomou seu rumo pensando que iria assinar o protocolo de uma nota fiscal ou quem sabe apenas receber um envelope, qualquer coisa assim. Distraída foi direto ao balcão da recepção sem perceber o entregador equilibrista.

- É aquilo ali, apontou a recepcionista.

E o tempo entrou em câmera lenta e ela virou-se quadro-a-quadro para, aos poucos, se dar conta de que o cheiro bom que sentia vinha do maior buquê de flores do campo que ela já havia visto na vida.

Nome confirmado, recibo assinado e gorjeta recusada pelo entregador que ainda estava feliz pelo seu próprio trabalho e por mais um sorriso de amor colhido na vida. Ela voltou à sua mesa atordoada. O escritório inteiro parou para ver seu rosto vermelho de uma vergonha infantil por entre flores coloridas e alegres.

Ela chorou. Sabia que as flores eram do poeta. Sabia que haveria um cartão e sabia da intenção das flores como ninguém mais poderia saber.

Tirou o cartão e segurou sem ler. Alguém lhe trouxe uma lixeira limpa com um tanto de água para acomodar as flores. Ela ainda pensou – uma lixeira? Isso não é lugar para as minhas flores – mas cedeu, porque de outra forma as flores não chegariam vivas até a noite.

O telefone tocava, mas ela não ouvia. Alguém falava seu nome, mas ela não percebia. Tudo o que ela conseguia era olhar as flores e segurar o cartão ainda fechado na mão.

De repente, ela se deu conta que ainda era muito jovem. Percebeu que o caminho que aquelas flores poderiam enfeitar era longo demais. Entendeu que o sonho de um poeta não é brincadeira. E tremeu de medo. E chorou de medo. E deixou o medo crescer em lágrimas que não a deixavam mais ver o colorido das flores. E só então resolveu abrir o cartão que dizia:

“Quero sentir o amor que sinto hoje até o final da minha vida. Quer casar comigo?” e estava assinado pelo poeta.

E as lágrimas se transformaram em um choro forte e desesperado entrecortado por soluços e palavras sem sentido que ela teimava em dizer. Ela queria, mas não podia. Ao menos era assim que ela pensava.

E foi assim que o poeta teve seu primeiro pedido de casamento negado.

As flores ficaram imortais dentro de um caderno antigo e da lembrança dela. O entregador continuou entregando flores e colhendo sorrisos. O florista aprendeu para sempre o tamanho de uma braçada. E o poeta seguiu sua vida. E a menina amada seguiu a dela.

4 comentários:

  1. Com 18 anos recebi o primeiro, mês passado( 25 anos depois) o último, ...tudo que posso te dizer é que depois deste século( literalmente..) de convívio, vc é definitivo na minha vida.De várias formas, em diversos contextos, com ou sem palavras, com ou sem encontros, o seu lugar na minha alma e no meu coração é para sempre!

    ResponderExcluir
  2. Rs. "Sonho de poeta não é brincadeira". Seu lugar também é só seu! Beijos

    ResponderExcluir