- Amigo, eu queria que você mandasse entregar uma braçada de
flores do campo, pode ser?
- Uma braçada? Como assim? Um buquê?
- Não. Uma braçada mesmo!
- Mas o que é uma braçada de flores do campo?
- É assim, você vai juntando os buquês no seu braço, um
depois do outro. Quando não conseguir mais segurar, aí então você tem uma
braçada!
Entendida a dimensão do carinho que o poeta queria
demonstrar, ficou combinado que o entregador passaria no seu escritório antes
de levar as flores para a menina amada. Ele queria ver a tal braçada e ter
certeza de que era do tamanho do seu amor. Queria também enviar um cartão junto
com as flores, mesmo achando que as palavras não precisavam ser convidadas para
aquele momento.
Rabiscou o que de mais simples ele podia dizer e grampeou o
cartão no arranjo. O entregador seguiu seu rumo, orgulhoso de ganhar a vida em
troca de sorrisos de mulheres amadas.
- Esse cara é bom – pensou o entregador – Braçada de
flores... de onde será que ele tirou isso? E seguiu seu caminho com as flores
tomando sol na garupa de sua bicicleta sempre observada por homens e mulheres
de todos os tipos, cada um com a sua reação:
- Ai... se fossem para mim. Suspirou uma adolescente.
- Preciso levar flores para ela. Pensou o executivo ausente.
- Adoro flores do campo. Lembrou-se a viúva carente.
- Que vontade de roubar esse buquê. Pensou um monte de
gente.
E seguiu até encontrar a rua, o número do prédio e o andar
da menina que receberia as flores. Na portaria, o zelador estranhou o tamanho
da encomenda, mas não resistiu a um sorriso e até ajudou o entregador a abrir a
porta do elevador.
A menina amada foi avisada de que havia uma encomenda na
recepção e tomou seu rumo pensando que iria assinar o protocolo de uma nota fiscal
ou quem sabe apenas receber um envelope, qualquer coisa assim. Distraída foi
direto ao balcão da recepção sem perceber o entregador equilibrista.
- É aquilo ali, apontou a recepcionista.
E o tempo entrou em câmera lenta e ela virou-se
quadro-a-quadro para, aos poucos, se dar conta de que o cheiro bom que sentia
vinha do maior buquê de flores do campo que ela já havia visto na vida.
Nome confirmado, recibo assinado e gorjeta recusada pelo
entregador que ainda estava feliz pelo seu próprio trabalho e por mais um
sorriso de amor colhido na vida. Ela voltou à sua mesa atordoada. O escritório
inteiro parou para ver seu rosto vermelho de uma vergonha infantil por entre
flores coloridas e alegres.
Ela chorou. Sabia que as flores eram do poeta. Sabia que
haveria um cartão e sabia da intenção das flores como ninguém mais poderia
saber.
Tirou o cartão e segurou sem ler. Alguém lhe trouxe uma
lixeira limpa com um tanto de água para acomodar as flores. Ela ainda pensou –
uma lixeira? Isso não é lugar para as minhas flores – mas cedeu, porque de
outra forma as flores não chegariam vivas até a noite.
O telefone tocava, mas ela não ouvia. Alguém falava seu nome,
mas ela não percebia. Tudo o que ela conseguia era olhar as flores e segurar o
cartão ainda fechado na mão.
De repente, ela se deu conta que ainda era muito jovem. Percebeu
que o caminho que aquelas flores poderiam enfeitar era longo demais. Entendeu que
o sonho de um poeta não é brincadeira. E tremeu de medo. E chorou de medo. E deixou
o medo crescer em lágrimas que não a deixavam mais ver o colorido das flores. E
só então resolveu abrir o cartão que dizia:
“Quero sentir o amor que sinto hoje até o final da minha
vida. Quer casar comigo?” e estava assinado pelo poeta.
E as lágrimas se transformaram em um choro forte e
desesperado entrecortado por soluços e palavras sem sentido que ela teimava em
dizer. Ela queria, mas não podia. Ao menos era assim que ela pensava.
E foi assim que o poeta teve seu primeiro pedido de
casamento negado.
As flores ficaram imortais dentro de um caderno antigo e da
lembrança dela. O entregador continuou entregando flores e colhendo sorrisos. O
florista aprendeu para sempre o tamanho de uma braçada. E o poeta seguiu sua
vida. E a menina amada seguiu a dela.
Com 18 anos recebi o primeiro, mês passado( 25 anos depois) o último, ...tudo que posso te dizer é que depois deste século( literalmente..) de convívio, vc é definitivo na minha vida.De várias formas, em diversos contextos, com ou sem palavras, com ou sem encontros, o seu lugar na minha alma e no meu coração é para sempre!
ResponderExcluirRs. "Sonho de poeta não é brincadeira". Seu lugar também é só seu! Beijos
ResponderExcluirSim.
ResponderExcluir:)
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